A quantidade de informações que um computador armazena é espantosa.
Sim, eu sei, nesta altura dos acontecimentos tem leitor pensando que a frase acima já se tornou lugar comum e o que realmente espanta é ela encimar uma coluna sobre informática. Talvez até tenham razão. Mas há ocasiões que esta profusão de informações espanta até mesmo um usuário calejado como este que vos fala.
Neste ponto convém ressalvar que não me refiro às informações que armazenamos de caso pensado. Destas, a quantidade era espantosa há alguns anos, quando os discos rígidos eram caros e de pouca capacidade. Agora, que se compram discos de alguns Terabytes por um punhado de reais em qualquer lojinha de esquina e, sobretudo, com a tendência que temos de neles armazenar todo o tipo de lixo e esquecer de removê-lo porque, afinal, sempre tem algum espaço barato sobrando, a quantidade de porcarias que armazenamos já deixou de nos espantar há muito tempo. E nem valeria a pena perder tempo discutindo isto.
Ocorre que a espantosa quantidade de informações armazenadas a que me refiro diz respeito a dados que nós mesmos não armazenamos, não sabemos que são armazenados e que, não obstante isto, o computador e seus programas armazenam por conta própria, à nossa revelia, e que, para quem sabe onde busca-los, pode revelar um bocado sobre nossos hábitos.
Um exemplo: suponhamos que seu vizinho, devoto de certa ordem religiosa, use o Firefox como programa navegador. E digamos que, em um momento de particular enlevo e fervor, ele foi surpreendido pela esposa (ou ela pelo marido) admirando com veneração uma página de forte conteúdo religioso no sítio da ordem monástica que costuma visitar com alguma frequência para dar vazão à sua fé. E que a/o consorte, que por razões que não vêm ao caso mencionar, discorda desta prática extremosa, se mostre, digamos, vivamente surpreendida/o diante do conteúdo da página e externe enfaticamente sua opinião. Muito enfaticamente.
Cenas como esta são mais comuns do que se pensa e, em geral, são resolvidas retrucando com ar contrito algo como “mas meu bem, eu nunca vi isto antes, só vim bater aqui nesta página porque cliquei sem querer em um linque de aparência inocente em outro saite, mas assim que percebi do que se tratava e resolvi sair dali horrorizado/a, você apareceu”. Em geral dá certo.
Quer dizer, dá certo para quem não conhece o Firefox. Quem conhece, enquanto ainda na página da ordem religiosa em questão, clica no menu “Ferramentas” do Firefox, escolhe a opção “propriedades da página”, passa para a aba “Segurança” e consulta a entrada “Eu tinha visitado este site ontem ou antes?” para descobrir quantas vezes no passado recente (mais especificamente, desde a última vez que o histórico do Firefox foi limpo) aquela página foi visitada. Uma informação que a maioria dos leitores desconhece estar armazenada em seu micro e, no exemplo em questão, além de causar espanto, pode dar uma confusão dos diabos.
Entendeu agora porque eu disse que era espantosa?
As diversas abas da janela “Propriedades da página” guardam muitas outras informações. Nome do sítio, tipo de renderização, codificação, tamanho da página, nome do proprietário, data da última modificação, tipo de criptografia, arquivos de mídia, dados de segurança, senhas memorizadas para aquela página e a lista de “cookies” que o sítio armazenou no micro. Coisas que, em geral, interessam apenas a desenvolvedores. Mas estão lá à disposição de todos, desde que saibam onde procurar. Experimente. Abra a janela, examine seu conteúdo, espante-se com a quantidade de informações que seu micro armazena à sua revelia e, no final, não esqueça de limpar o histórico. Especialmente se for uma pessoa muito religiosa...
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Figura 1 - Clique para ampliar |
B.
Piropo