Só comprei um computador “de marca”: o primeiro. Era um velho MSX, safra mil novecentos e oitenta e poucos. O segundo, um PC XT comprado um ano depois, também veio “pronto”, mas foi montado de acordo com minhas preferências (e possibilidades) da época. Daí para frente todos os demais foram montados por mim, escolhendo da placa-mãe e processador até o gabinete. E como gosto de (e preciso) me manter atualizado, perdi a conta de quantos foram.
No começo apanhei feito boi ladrão (ainda se usa esta expressão? Lembro que D. Eulina a ela recorria com frequência referindo-se às possíveis consequências de certos malfeitos que eu ameaçava praticar quando criança). Lembro-me de uma ocasião em que era preciso “remover os contatos” de certo soquete. Mas como fazê-lo? Passei quase uma hora lixando e limando a superfície plástica com risco de tornar a placa-mãe imprestável, mas consegui. Algum tempo depois descobri que bastava levantar ligeiramente uma das extremidades da peça com uma chave de fenda para que ela se soltasse e fosse facilmente removida com os dedos.
Isso sem contar com a aflição por medo de cometer algum “erro de principiante”. Que provocava sudação tão abundante que a montagem era feita com uma toalha sobre os ombros para enxugar a testa e evitar os corrosivos pingos de suor sobre as placas de circuito impresso.
Coisas da vida. Pelo menos da vida de quem não dispunha de informações adequadas. Mas, naqueles dias, informações adequadas sobre computadores eram coisa rara. Havia os livros do Peter Norton e meia dúzia de outros, quase todos em inglês e a maioria deles em linguagem tão inacessível aos leigos como eu, que se fossem em aramaico não faria a menor diferença.
Felizmente as coisas mudaram. Livros sobre computadores já há muitos, em português, de autores brasileiros, e bons. Sobre os de Laércio Vasconcelos já falei aqui mesmo, sempre com as melhores referências, que o cara é dos bons. Hoje falarei de outro autor, Gabriel Torres. Que acaba de lançar o livro que me faltou naqueles tempos em que, munido só de cara, coragem e uma velha chave de fenda, eu me metia a montar sozinho meus primeiros micros.
Editado pela Novaterra, o livro chama-se, justamente, “Montagem de Micros para Autodidatas, Estudantes e Técnicos” (ISDN 978-85-61893-01-9). E o “autodidatas” do título dá uma boa ideia do estilo em que é redigido: linguagem direta, simples, fácil de entender mesmo para quem não tem formação técnica. Quando é preciso recorrer a um termo técnico, Gabriel procura sempre acompanha-lo da devida explicação em termos acessíveis.
A ideia do Gabriel foi orientar o leitor a montar seu micro a partir do zero, ou seja, de uma mesa vazia (e uma carteira mais ou menos cheia, naturalmente). Por isto é organizado em quatro partes: “O que comprar”, “Montando o micro” (as mais substanciais), “Conferindo a montagem” e “Instalação e configuração”. Todos os passos que levam da mesa vazia até a satisfação de ver o micro funcionando sobre ela (ao lado da carteira menos cheia, é claro).
Cada capítulo da primeira parte se subdivide em “Introdução”, que descreve o componente, “O que comprar”, que discute as opções disponíveis no mercado nacional, e “Onde economizar”, que informa como baixar custos sem sacrificar (muito) o desempenho. A segunda descreve a preparação dos principais componentes e sua instalação, enfatizando os cuidados a serem tomados para executar uma montagem segura. As duas últimas, mais sucintas, descrevem os ajustes, configurações e testes, com um interessante capítulo sobre a instalação e configuração de discos rígidos no modo RAID. Tudo muito bem explicadinho.
Gostei do livro e recomendo a quem, não sendo técnico nem especialista, pretende montar seu próprio micro, mesmo tendo alguma experiência anterior. Que o livro vai lhe fazer “acertar de primeira”, não posso garantir. Mas garanto que vai lhe fazer suar bem menos do que eu suei nas minhas primeiras montagens.
B.
Piropo