Sítio do Piropo

B. Piropo

Jornal o Estado de Minas:
< Coluna Técnicas & Truques >
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01/04/2010

< De volta ao byte lascado >


O mundo está cada vez menor e, naturalmente dependendo da natureza do trabalho, cada dia faz menos diferença onde se mora e onde se trabalha. Para mim, que escrevo sobre computadores, tecnologia e quejandas, não faz a menor diferença.
Por isso mesmo creio que a maioria dos meus complacentes leitores que lêem estas mal traçadas nas páginas de um jornal não fazem idéia de onde moro. Pois há mais de meio século vivo na Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Rio, para os íntimos. Mais especificamente, no bairro do Flamengo. Ali mesmo, pertinho do Aterro. E gosto.
Comecei a escrever sobre informática em um jornal daqui mesmo no início dos anos noventa, durante aquilo que costumávamos chamar de “Era do Byte Lascado”. Internet, não havia. As colunas eram semanais. Eu as editava no computador, usando um editor de texto antediluviano. Depois, as imprimia e as levava, vejam vocês, impressas, para a redação, onde um digitador era encarregado de introduzi-la na rede do jornal. E como eu era bastante cioso do que escrevia, pedia ao digitador que me fizesse o favor de avisar quando terminasse. E, avisado, eu corria pressuroso para a redação para rever – e eventualmente corrigir ou editar – o texto diretamente nos terminais da redação. Parece coisa de outro século. E era.
Depois, veio a Internet. O prazer de visitar a redação diminuiu: as colunas passaram a seguir pela rede e eu só via meus companheiros uma vez por semana, para rever o texto já na rede do jornal. Hoje, nem isso. As colunas são redigidas em casa e enviadas pela Internet. O que me priva do prazer de conviver com os amigos da redação mas traz vantagens e confortos que quase chegam a compensar esta perda. É a tecnologia mudando nossos hábitos.
Mas para isso há que se ter Internet. O que não é vantagem nenhuma já que hoje em dia todo o mundo tem. Até em um pequeno apartamento da Região dos Lagos onde costumo me esconder durante alguns finais de semana, tenho Internet. E banda larga, sim senhor. Internet virou um serviço público e se tornou tão comum e indispensável como água, luz e telefone. Conta-se com ela a qualquer momento em qualquer lugar. E isto mudou o perfil de nossa sociedade. O que me permite, por exemplo, morar no Rio e escrever para outros Estados. Uma maravilha. Desde que, naturalmente, minha Internet funcione direitinho.
Pois não é que ultimamente deu para não funcionar? Agora mesmo, neste exato momento, está funcionando. Mas há meia hora, quando eu comecei a editar esta coluna, não estava. E quando terminar, não sei se estará. Ontem, passei praticamente o dia inteiro sem ela. E tem sido assim durante todo o último mês: vai e vem. E infelizmente tem ido mais do que vindo.
Para quem precisa trabalhar, é uma desgraça. Parece que voltei à Era do Byte Lascado.
Meu sinal, quando é fornecido, vem da NET. Ligo para reclamar e um sujeito entusiasmado atende (pena que seja uma gravação) e me oferece um número de protocolo – que, como o que quero mesmo é falar com um humano para reclamar a falta de um serviço essencial, não anoto (se anotasse, teria sem exagero dezenas deles). Depois, a gravação, mantendo o tom de voz irritantemente alegre – que, para quem ligou para reclamar, soa como deboche – me leva de máquina em máquina até que, finalmente e a muito custo, consigo falar com um humano, geralmente gentil e educado, que me informa “que há problemas de manutenção em sua região e que o sinal deve retornar até as...” e dá um prazo de algumas dezenas de horas.
No dia seguinte começa tudo de novo. E a mim, que preciso da internet para trabalhar, só resta me conformar e esperar. Se o sinal voltar, vocês lerão esta coluna. Se não, não.
Sabe aquele sujeito gordinho com um sotaque esquisito e um uniforme estranho que faz propaganda da NET na TV? Como todo vigarista ele é simpático, engraçadinho e convincente. Mas cuidado. Também, como todo vigarista, não é de confiança...

B. Piropo