É Natal. Hoje é a grande noite. Grande, seja pelo significado religioso, seja pelo social.
E o significado social de “Natal”, gostemos ou não, tem a ver com dois eventos: a reunião de família e – para alguns, o mais importante – a troca de presentes.
Então, antes de qualquer outra coisa: meus sinceros votos que você, esta noite (e em todas que a ela sucederem) seja muito feliz. Para os religiosos, que a comemoração do aniversário de Cristo encha sua alma de alegria. Para os menos religiosos, que a reunião familiar encha seu coração de afeto e seu estômago das mais finas iguarias. E para os menos religiosos ainda, que a troca de presentes encha seus braços, bolsos e sacolas com tudo aquilo que sonhava ganhar. Inclusive – e principalmente, pois afinal este caderno é de tecnologia – com aqueles itens de alta tecnologia, os brinquedos de adulto que fingimos usar para aumentar a produtividade, pôr-nos em dia com o progresso, acelerar nossas comunicações, mas que, no fundo, servem mesmo é para brincarmos com eles como qualquer criança brinca com seus brinquedos.
Presentes que com certeza lhe darão imenso prazer. Desde que, naturalmente, consiga tirá-los da embalagem. E como véspera de Natal não é ocasião de discutir tecnologia, vamos discutir sua embalagem preferida: a de plástico rígido (“blister package”). E, para quem não ligou o nome ao objeto: aquelas diabólicas embalagens de plástico transparente, grosso, flexível “pero no mucho”, cujas arestas cortam como navalha e que são praticamente invioláveis.
Durante anos pensei que fossem feitas para dobrar a alegria de comprar ou ganhar algo muito especial: além do prazer de usá-lo havia também o conseguir retirá-lo da embalagem sem grandes danos ou ferimentos nas mãos ou no amor próprio – isso, naturalmente, quando conseguíamos. Depois achei que era um teste de habilidade: quem conseguisse remover o produto da embalagem estaria apto a usá-lo. E, finalmente soube – mas custei a acreditar – que a dificuldade de retirar o conteúdo daquele maldito encapsulamento plástico era fruto de uma aliança espúria entre fabricantes e comerciantes que concebeu uma embalagem impossível de ser aberta em um canto de loja, evitando que os objetos nela contidos fossem subtraídos e ocultos nos bolsos ou sacolas. Enfim, uma estratégia para evitar pequenos furtos. Deu tão certo que por vezes evita pequenas compras: há quem, traumatizado, olhe para aquilo com tal revolta e desdém que evita comprar tudo que não venha embalado em papel celofane.
Mas não dá para evitar ganhar. Nem seria de bom tom devolver um presente de Natal apenas devido à inconveniência de sua embalagem. Então, hoje é inevitável: você terá que abrir ao menos uma embalagem daquelas. Se tanto poderá postergar a abertura até amanhã, feriado, quando pode dedicar mais tempo, engenho e arte à tarefa. Mas terá que abri-la.
Para ajudá-lo, indico um artigo na wikiHow, um sítio da Internet cujo mote é “The word´s collaborative how to manual” (algo assim como “O manual mundial colaborativo de como fazer as coisas”) dedicado exclusivamente ao assunto em < www.wikihow.com/Open-Rigid-Plastic-Clamshell-Packages-Safely > que descreve cinco diferentes métodos de abertura de embalagens de plástico rígido que vão desde o uso de tesouras e abridores de lata até o de ferramentas especialmente fabricadas para tal fim. Acha que exagero? Pois no mercado americano há dezenas delas. Aqui vão dois exemplos: OpenX (em < www.myopenx.com/ > e “The Plastic Surgeon” (jogo de palavras: o cirurgião plástico ou o cirurgião do plástico, escolha o que preferir) em < http://plasticsurgeonopener.com/info.html >. E não são os únicos: uma busca no Google com “blister pack opener” retorna a bagatela de vinte mil páginas!
Se pelo menos neste Natal eu ganhasse um bicho desses de presente...
Bom Natal e um 2010 cheio de realizações, paz e saúde para todos vocês que têm tido a complacência de acompanhar estas mal traçadas ao longo dos últimos anos. E obrigado.
B.
Piropo