Jornal o Estado de Minas:
< Coluna Técnicas & Truques > |
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10/12/2009
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< Mais um golpe na Internet > |
Há anos costumo citar, á título de brincadeira (se bem que cada vez menos), uma frase do saudoso Nelson Rodrigues sobre nossa espécie. Dizia ele, com sua voz empastada e ar sempre solene: “a humanidade não deu certo”. O problema é que ultimamente tenho me lembrado dela com frequência cada vez maior. Principalmente quando vem à baila o assunto “compras via Internet”. Que está cada vez mais cheia de sítios montados por espertos para se aproveitar dos otários (que, nesse caso, somos nós). Mais especificamente de gente que recorre a ardis diabólicos para tirar algum tipo de vantagem – em geral financeira – dos semelhantes. Para ilustrar – e evitar que vocês caiam nessa ou em alguma parecida – vou contar um causo cuja veracidade garanto porque aconteceu comigo mesmo há pouco mais de uma semana. Dia desses troquei de telefone celular. E como escolho telefones pelo tamanho – quanto menor, melhor – o meu não é daqueles “que fazem tudo”, é só um telefone. Mas tem câmara digital (hoje em dia é praticamente impossível encontrar um que não tenha) e usa a tecnologia Bluetooth para transferir as imagens. O problema é que não veio com o “driver”. E lá fui eu me embrenhar na Internet em busca dele. Depois de uma boa pesquisa no Google, encontrei um sítio que o oferecia. Conferi, era aquilo mesmo, cliquei no botão para transferir o arquivo. Abriu-se então uma janela informando que, para transferir o driver, era necessário me inscrever e efetuar o pagamento correspondente. Ora, drivers, geralmente são gratuitos. Mas isso quando fornecidos pelo fabricante. Se eu recorro a um sítio de terceiros, é razoável efetuar algum pagamento, desde que justo. Mesmo porque o sítio não cobrava pelo driver, cobrava pelo acesso. Se eu me inscrevesse, tornar-me-ia “membro” e teria direito a todos os arquivos que o sítio fornecia (ou fingia fornecer). E ali, segundo pude observar, havia de tudo, do legal ao mais absolutamente ilícito. A mim apenas interessava o driver, indubitavelmente legal. Quanto eu teria que pagar para ter direito a ele? Havia diversas opções, algumas incluindo assinaturas anuais que permitiam transferências ilimitadas. Mas o que eu queria mesmo era transferir meu driver e sair dali o mais rapidamente possível. E a opção mais conveniente, que me dava direito a uma semana na qualidade de “membro” a título de experiência, custaria US 1,90 (ou algo parecido). Aquilo me pareceu justo. Opção marcada e valor verificado, vamos ao pagamento. Que só poderia ser feito por cartão de crédito. Preenchidos os dados, eu já estava a ponto de clicar no botão que confirmaria a compra quando me dei conta que a quantia a ser debitada (supostamente menos de dois dólares americanos) não aparecia em destaque como é habitual nos sítios honestos. Procura daqui, procura dali, lá estava, em um canto meio escondido, exibida com tipos pequenos, quase ilegíveis, em inglês: “Total a ser debitado: US$ 52”. Quer dizer: o custo do “serviço” era, conforme conferi novamente, US 1,90. Mas estavam me cobrando US$ 50 adicionais não sei à que título (provavelmente “despesas administrativas” ou coisa parecida). Nem quis verificar. Desisti. Fiquei sem meu driver, mas aprendi mais uma. Que repasso para vocês: ao fazer compras via Internet com cartões de crédito, mesmo tendo certeza que marcou o valor justo durante a compra, jamais confirme o pagamento sem conferir o total a ser debitado. Ou seja: antes do último clique, assegure-se do valor a ser pago. Quando percebi a trampa em que me havia metido fiquei tão revoltado que simplesmente cancelei o pagamento, saí da página e fechei o navegador. Depois, quando me ocorreu narrar o fato aqui, tentei localizar o sítio para citar o endereço e os dados pertinentes, mas não houve jeito de conseguir recuperá-los. Mas fica aqui minha palavra que a coisa de fato aconteceu. Porém, na verdade, o que importa não é o endereço deste sítio em particular, já que como ele há centenas. O que importa é o cuidado a ser tomado nas compras via Internet... B. Piropo |