Hoje, o artigo sobre Windows 7 publicado alhures está tão cheio de dicas e truques que não me atrevo a semear mais uma por aqui. Mas a coluna é sobre isso, então fazer o que?
Bem, quem gosta de dicas e truques sobre programas de computador, costuma gostar de tecnologia. E quem gosta de tecnologia, gosta de ler sobre o assunto.
O problema é que os livros sobre tecnologia costumam ser sisudos, escritos com tal rigor científico e técnico que acabam se tornando maçantes. Exceto se são de ficção científica. O problema é que (há exceções e eu as conheço, portanto poupem-me das diatribes) em geral os autores de ficção conhecem pouco de tecnologia e os que entendem de tecnologia têm um texto com um ranço acadêmico de dar dó. Além de não escreverem em português, o que nos obriga a ler traduções (nem sempre boas) de fatos passados (ou a passar) em outros países.
Pois não é que encontrei uma exceção? Um livro, escrito em português, por um brasileiro de prosa agradável que entende – e como! – de tecnologia e cuja ação se passa em São Paulo.
O autor é aquilo que se pode classificar como “poço de sabedoria” (o termo “sábio” caberia melhor, mas ele é modesto e certamente protestaria). Trata-se do Professor João Antonio Zuffo, professor e pesquisador titular da Escola Politécnica da USP, onde coordena o laboratório de Sistemas Integráveis. O cara já publicou 14 livros e mais de centena e meia de trabalhos técnicos, orientou mais de trinta teses e é membro de 16 sociedades científicas e profissionais. Se você se der ao trabalho de consultar seu currículo no sistema Lattes, prepare-se para percorrer um bocado de páginas. O homem é um cientista da mais pura estirpe. Não obstante nada tem de sisudo e despreza a circunspecção: é uma pessoa simples, de trato agradável e sempre bem-humorado – talvez porque junte à sua formação científica uma vasta cultura geral e formação eclética na área de humanas. Eu nunca o vi sem um sorriso nos lábios.
Encontrei-o recentemente e ele mencionou que havia escrito “um livrinho” que talvez eu gostasse de ler. E me presenteou com um exemplar.
Pois o “livrinho” só merece o diminutivo porque não é massudo e seu formato é pequeno. Fora isso, é um grande livro. Seu título é “Flagrantes da vida no futuro” (Editora Saraiva, 232p., 2008, ISBN: 978-850206572-7) e descreve cenas isoladas da vida diária de alguns membros de famílias de diferentes classes econômicas que vivem na cidade de São Paulo (ou no que sobrou dela) no final dos anos trinta deste século. Todas elas imersas em um ambiente futurista e cercadas de artefatos com que hoje mal sonhamos (mas nenhum deles é fruto da imaginação pura e simples do autor: todos são baseados em tecnologias viáveis, a maioria delas em estudo nos centros de pesquisa avançada de informática, telecomunicações e nanotecnologia).
O bom do livro é que mesmo sem querer “contar uma história” acaba contando, pois os personagens de Mestre Zuffo se repetem e suas ações e atribulações se sucedem no tempo.
A visão do mundo daqui a três décadas a partir do ponto de vista de um cientista com formação cultural ampla como Mestre Zuffo é fascinante. Clones pessoais, entidades virtuais inteligentes (VANV, ou Vida Artificial Neuronal Virtual), a grande rede (TOSFAM, ou Teia Óptica Sem Fio de Âmbito Mundial, WWWOW, em inglês), comunicação direta cérebro-máquina e outras tantas “invenções” permeiam todo o livro. E a prosa interessante de Mestre Zuffo, seu cuidado com o idioma (propõe o uso de “circuitaria” para traduzir “hardware”, uma proposta que vale a pena examinar com carinho) e a leveza dos temas abordados tornam a leitura uma atividade quase tão agradável e absorvente como uma conversa com o autor. Li o “livrinho” de uma assentada e recomendo a quem tem interesse em saber como a tecnologia, que já vem mudando tanto nossa vida nas últimas décadas, a afetará no futuro próximo.
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Figura 1 |
B.
Piropo