Jornal o Estado de Minas:
< Coluna Técnicas & Truques > |
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18/06/2009
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< Mudança de era > |
Nos primórdios da informática as palavras “computador” e “portátil” dificilmente caberiam na mesma sentença. Computadores eram máquinas enormes, módulos mais ou menos do tamanho de geladeiras que ocupavam diversas salas, os famigerados “Centros de Processamento de Dados”, ou CPDs, onde fazia um frio polar mantido pela refrigeração regulada para a temperatura mínima para evitar o superaquecimento dos componentes. Então vieram os microcomputadores e, no início dos anos oitenta, inventaram o Osborne, o primeiro portátil. Era, talvez, a melhor ilustração do significado do vocábulo “trambolho”: um negócio do tamanho de uma maleta, pesando mais de dez quilos, contendo uma máquina de oito bits com um ridículo monitor de 5” tipo CRT (“Cathode Ray Tube”) e que só merecia o nome de “portátil” porque tinha uma alça que permitia carregá-lo de um lado para o outro. E olhe lá. Porque, para usar mesmo, havia que ligá-lo em uma tomada, pois não tinha bateria.
No final dos anos oitenta a possibilidade de fabricar telas planas tipo LCD (“Liquid Cristal Display”) em preto e branco (melhor: cinza escuro e cinza claro) a custos acessíveis possibilitou o aparecimento dos primeiros computadores portáteis dignos do nome, já que se podia transportá-los com certa facilidade e usá-los em trânsito. Chamaram-se “laptop computer” em referência ao fato de o usuário poder sentar-se e abri-lo sobre o colo (“lap”, em inglês) para trabalhar. Pesavam cerca de cinco quilos e já tinham bateria, porém do tipo níquel-cádmio, pesadíssimas, carga de curta duração e com um desagradável “efeito memória” que exigia a troca com uma frequência irritante. Mas funcionavam e mostraram que a ideia era viável. Então vieram os anos noventa com a miniaturização dos componentes, telas planas coloridas a custo decente e baterias de hidreto metálico (e, mais tarde, de íon lítio), mais leves, com menor efeito memória e carga mais duradoura. O que permitiu aos computadores portáteis encolherem até um tamanho aceitável e pesarem menos de três quilos. Foram chamados de “notebooks” em uma referência ao tamanho, que com muita – mas muita mesmo – boa vontade seria semelhante ao de um caderno de anotações escolares (“notebook”, em inglês). Só então começaram a ser efetivamente úteis. As vendas aumentaram, o que fez com que surgissem diferentes modelos com diferentes capacidades e objetivos. Alguns usuários continuaram a usá-los para o fim para o qual foram concebidos: em trânsito, levando-os de um lado para o outro, seja em viagens, seja em trabalho externo. Outros, porém, descobriram que poderiam substituir seu grande e pesado micro de mesa por um portátil, desde que tivesse a necessária capacidade de processamento. Surgiram então duas vertentes: os modelos visando facilitar a mobilidade, mais finos e leves, pesando pouco mais de um quilo, e aqueles destinados a substituir os micros de mesa, mais pesados, telas maiores, com mais recursos e capacidade de processamento. E com isso as vendas aumentaram ainda mais. Recentemente a disseminação do acesso sem fio à Internet, através dos “pontos de presença” e da rede de telefonia celular ensejou a concepção de um novo tipo de computador portátil destinado primordialmente ao acesso à rede e por isso mesmo chamado “netbook” (fusão dos vocábulos ingleses “internet” e “notebook”). Concebidos essencialmente para uso móvel, não oferecem acionador de disco ótico (CD ou DVD), são diminutos e levíssimos. Mas potentes: rodam os SO de última geração. E como são baratos, passaram a vender feito bolinho quente.
Resultado: pesquisas de mercado apontaram que no segundo semestre do ano passado, pela primeira vez na história, as vendas de portáteis ultrapassaram as de micros de mesa. De fato, comparadas ao mesmo período do ano anterior, as vendas de “notebooks” cresceram 40% enquanto as dos “desktops” caíram 1,3%. Uma indicação de tendência que, se nenhum fato relevante inesperado se manifestar, parece ser irreversível. Sinal seguro que a era dos computadores de mesa começou a acabar... B. Piropo |