Jornal o Estado de Minas:
< Coluna Técnicas & Truques > |
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13/11/2008
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< Vendo o invisível > |
Eu conheci o inventor do controle remoto. Isso foi lá pelo final dos anos cinqüenta do século passado, início da era da televisão no Brasil. A TV ainda não era colorida e os aparelhos eram enormes. Mudava-se o canal girando o “seletor de canais”, uma peça redonda que se movia aos trancos, “encaixando” nas diversas posições correspondentes aos poucos canais então disponíveis. O cavalheiro em questão era um velho médico, danado de competente, mas preguiçoso que só vendo. Passava as noites em uma confortabilíssima poltrona reclinável em frente à televisão. Mas detestava a obrigação de levantar-se para mudar de canal. Arranjou um velho caniço de aço, dois suportes desses de soro fisiológico usados em hospitais (afinal, o cara era médico) e engendrou uma forma artesanal de prender o caniço nos suportes de tal forma que pudesse girar livremente, aparafusou uma de suas extremidades no seletor de canais e prendeu uma alavanca na outra. A trapizonga ficava atravessada na sala, com a alavanca ao alcance de sua mão. Não era muito prático, é verdade. Mas um bocado conveniente: bastava girar a alavanca para mudar de canal. E nem precisava de baterias. Por que me lembrei disso agora? Bem, é que nesses tempos modernos o controle remoto mudou um bocado. Agora é uma caixinha, cheia de botões e ajustes, que além de mudar o canal faz mais um monte de gracinhas. Sob a maioria dos aspectos é infinitamente mais prático que a trapizonga de meu velho amigo. Exceto no que toca a uma única particularidade: o dele, a gente sabia se estava funcionando ou não simplesmente olhando para o bicho. Os novos, quando param de funcionar, nunca se sabe por que. Acabou a pilha? É mau contato? Um circuito eletrônico defeituoso? E, neste caso, seria no próprio controle remoto ou no receptor? Não sabemos. A única coisa que sabemos é que aponta-se o bicho para a televisão, aperta-se os botões e nada acontece. O aparelho permanece mudo e quedo como um rochedo... Mas você sabe como funcionam os controles remotos modernos? Repare: na “ponta” que deve ficar voltada para a TV há uma pequena lâmpada. Ou pelo menos algo que parece com uma pequena lâmpada. Pois bem: aquele negócio na verdade é a parte aparente de um diodo capaz de emitir um raio infravermelho. Uma radiação em tudo semelhante à da luz, porém com um comprimento de onda fora do “espectro visível”. Complicou? Pois vamos simplificar: aquela pequena lâmpada na verdade é mesmo uma lâmpada, só que emite uma luz que não podemos enxergar porque está fora da faixa de sensibilidade de nossos olhos. Mas não passa disso: uma luz “invisível” para nossos olhos. Que “pisca” em diferentes ritmos (ou “freqüências”) e com isso transmite diferentes comandos para o aparelho de TV. Bom, agora a coisa ficou mais fácil. Se a “luzinha” acende ou pisca quando apertamos um botão do controle remoto, o controle está funcionando nos conformes e o defeito é no receptor. Vai ser preciso chamar um técnico. Mas se a “luzinha” não se manifesta, o problema está no controle propriamente dito. Nesse caso, primeiro há que trocar a bateria. Ainda não funciona? Então conserte ou troque o controle. É simples assim. Ou pelo menos seria, caso pudéssemos ver “luzinha” acender (ou seja: detectar a radiação emitida pelo diodo). Mas espere um pouco: nós não podemos vê-la, mas nossa câmara digital pode. Qualquer câmara, até as que vêm nos telefones celulares, é sensível a este comprimento de onda de radiação infravermelha. Então vamos nessa: seu controle remoto parou de funcionar? Ligue sua câmara digital, ajuste-a como se fosse “tirar” uma foto, aponte o controle remoto para ela e aperte um dos botões do controle (veja figura). Nem precisa fotografar, basta olhar para a pequena tela da câmara digital. A “luzinha” acende ou pisca (veja a outra foto)? Então o controle está nos conformes. Se não, troque a pilha ou conserte o controle. É simples assim...
B. Piropo |