Jornal o Estado de Minas:
< Coluna Técnicas & Truques > |
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31/01/2008
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< O computador e o Português > |
Esta coluna, por exceção, não traz qualquer dica sobre como usar seu computador. Tampouco traz uma politicamente incorreta “piada de português”. E, para ser franco, é praticamente um resumo de outra que escrevi recentemente e publiquei no sítio sobre computadores Fórum PCs (ATIVIDADES ENCERRADAS EM 2012) onde, como na Internet não há limitação de espaço, abordei o tema com maior prolixidade. Trata da forma como nosso pobre idioma é maltratado quando falamos sobre computadores. E da tentativa do Deputado Aldo Rebelo de coibir isto proibindo, por lei, “todo e qualquer uso de palavra ou expressão em língua estrangeira”, que será considerado “lesivo ao patrimônio cultural brasileiro, punível na forma da lei”. Seu Projeto de Lei Nr. 1676, que acaba de ser aprovado pela CCJ e será brevemente submetido ao Plenário da Câmara de Deputados, pode ser consultado na íntegra em < http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=polemica/docs/polemica1 >. Não se pode deixar de concordar com o Nobre Deputado quanto à sua mais que justificável preocupação com a agressão ao rico patrimônio cultural que nosso idioma representa. Como não se pode deixar de discordar do Nobre Deputado quanto à forma que escolheu para defendê-lo. O idioma evolui inexoravelmente e parte desta evolução se dá pela absorção de palavras estrangeiras. Qualquer tentativa de proibi-la por efeito de lei estará inevitavelmente fadada ao fracasso. Mas em um ponto o Deputado está coberto de razão: é preciso fazer algo. Pois bem: a única forma que me ocorreu de tentar reduzir o número de estrangeirismos no jargão da informática é por meio de exemplo. Entendo que cada um tem o sagrado direito de se expressar como melhor lhe aprouver e nem eu nem o Deputado temos nada com isso. Mas, aos que desejam evitar o uso de expressões em outro idioma e não sabem como fazê-lo por não encontrar forma de expressar a mesma idéia em português, posso oferecer termos substitutos (que me parecem) adequados. Que, reitero, serão ou não usados conforme gosto e preferência de cada um. Quem achar conveniente use. Quem não achar, não use. Mas, por favor, respeite meu direito de escrever “sítio” como respeito o dele de dizer “saite”. Por isso vou tentar fazer por vontade própria o que o Deputado quer obrigar por força de lei: evitarei, na medida do possível, usar estrangeirismos nos meus textos. Mas sem criticar (ou multar, como propõe o Deputado) quem não fizer o mesmo, cujo direito de salpicar em seus textos e discursos termos de qualquer idioma que lhes apetecer respeitarei religiosamente. Naturalmente, tentarei fazê-lo com critério. Quando houver correspondente em português, o termo ou expressão será simplesmente banido e substituído pelo equivalente, como “correio eletrônico” para “email”, “inicialização” para “boot” e “sítio” para “site”. Mas, sempre que a tradução não me parecer absolutamente clara, procurarei acompanhá-la pelo correspondente no idioma original entre aspas. Alguns exemplos: acionador de discos (“drive”), atalho (“link”), computador portátil (“notebook”), de mesa (“desktop”) e baixar arquivo (fazer “download”). Há casos em que a tradução é impossível. O exemplo clássico é o de objeto ou conceito que foi “inventado” no exterior, batizado por seu inventor no idioma pátrio (lá dele) e que, por isto, não admite correspondente em português. Estes serão simplesmente aportuguesados, ou seja, escritos como são pronunciados. Exemplos: “escâner” para “scanner”, “chipe” para “chip” e (sei que esse vai dar pano para mangas, mas vou tentar) “mause” para “mouse". Haverá exceções. Como “hardware”, “software” e “byte”, por falta absoluta de substitutos decentes. A meus leitores, peço paciência e compreensão com a tentativa, talvez um tanto canhestra, de preservar a integridade do português. Afinal, é um idioma que tem me tratado tão bem por tantos anos que não vejo razão para maltratá-lo. Coisa de velho turrão, quem sabe tão infrutífera quanto o projeto do bom Aldo Rebelo. Mas que, penso eu, devo ao menos tentar... B. Piropo |