Se
teve uma palavra que despertou o interesse dos jornalistas no
Intel Developers Forum Fall 2003 realizado há duas semanas
em San Jose, na Califórnia, essa palavra foi Vanderpool.
Ela faz parte dos quatro Ts, as quatro novas tecnologias
que são a menina dos olhos da Intel. Foi mencionada em
todas as palestras de abertura (keynotes) de cada
dia do evento pelos principais executivos da empresa, inclusive
na palestra de abertura do próprio evento, proferida pelo
Presidente e CEO da Intel, Paul Otellini, que gastou um bom tempo
de sua apresentação falando sobre ela. Parece formidável
e todos estariam agora descrevendo detalhadamente essa maravilha
se pelo menos alguém soubesse em que, exatamente, ela consiste.
Porque falar sobre ela, todo mundo falou. Mas dizer mesmo como
é feita, ninguém disse. Ou seja: muito marquetingue
e pouco detalhe. Como a coisa parece importante, vou tentar juntar
as migalhas de conhecimento esparsas pelo evento para formar uma
idéia, pálida que seja, do que virá a ser
essa maravilha da tecnologia de microprocessadores.
Segundo informações fornecidas oficialmente à
imprensa, Vanderpool (ou VT, de Vanderpool Technology, como é
mais conhecida entre os técnicos da empresa) é
uma tecnologia a ser incorporada em produtos futuros concebida
para permitir que ambientes múltiplos de software rodem
independentemente em um mesmo PC de forma semelhante a
que máquinas da classe grande porte operam
atualmente... Seu objetivo é tornar a experiência
do usuário mais rica aumentando a confiabilidade, flexibilidade
e rapidez de resposta do sistema, assim como acelerar a habilidade
de se recuperar de travamentos. Ou seja: não disse
muito.
Na palestra, Otellini foi mais explícito. Segundo ele,
VT cria partições independentes em um
computador, no interior do próprio microprocessador, ou
seja, diretamente no hardware. Segundo ele, esse particionamento
e virtualização do ambiente se consegue hoje apenas
nos servidores de alto desempenho. O que ele pretende com Vanderpool
é trazer essa tecnologia para o alcance do PC dentro dos
próximos cinco anos, permitindo que os usuários
desfrutem de seus PCs de formas diferentes e muito mais confiáveis
do que o fazem hoje.
Que forma seriam essas? Otellini citou algumas. Primeiro exemplo:
criar uma partição independente na máquina
que controla sua empresa para, por exemplo, jogar um joguinho
ou copiar um vídeo caseiro (se o jogo ou o vídeo
derem pau, derrubam apenas a partição
onde estão rodando). Segundo exemplo: migrar de sistema
operacional, criando uma partição na
qual mantém seu sistema atual e outra onde instala o novo
sistema e usar ambos até decidir com qual deles permanecerá
ou não, podendo ficar para sempre com os dois, já
que não será necessário reinicializar a máquina
para passar de um para o outro. Terceiro exemplo: o usuário
doméstico cria uma partição para
seus programas, inclusive acesso a bancos e informações
financeiras, e outra (ou outras) com os aplicativos e joguinhos
usados pelos filhos, que não terão acesso à
partição do pai. E mais uns tantos exemplos
parecidos para sistemas empresariais, onde as informações
corporativas seriam mantidas em um espaço separado das
informações (e aplicativos) dos empregados. Como
a implementação é feita no hardware, o nível
de segurança é altíssimo.
Mas o que seriam essas partições independentes?
Bem, toda tecnologia nos estágios iniciais de evolução
é segredo industrial bem guardado e as tentativas de extrair
detalhes mais suculentos dos executivos da Intel recebiam como
resposta ou uma longa e escorregadia dissertação
genérica sobre máquinas virtuais e partições
que, ao fim e ao cabo, não explicava coisa alguma, ou um
simples e seco não estou autorizado a entrar em detalhes.
O máximo que se pôde deslindar é que se trata
de uma tecnologia implementada diretamente no microprocessador
que, com a ajuda de um software especialmente desenvolvido, permite
criar em um único PC diversas máquinas virtuais
completamente independentes, possibilitando que cada uma rode
seu próprio (e diferente) sistema operacional. Quando perguntei
a Mike Fister, o poderoso Vice Presidente e responsável
pelo Enterprise Platform Group da Intel, se isso não era
mais ou menos a mesma coisa que o bom e velho 386 fazia desde
1987 quando incorporou o modo 8086 virtual que isolava
trechos protegidos da memória primária, carregava
neles o código do DOS e funcionava como se fossem diferentes
máquinas rodando DOS e Windows, ele respondeu que era uma
boa analogia, mas VT é algo muito mais sofisticado.
E, diante da pergunta de um jornalista que indagava se por acaso
o resultado não seria o mesmo oferecido pelo VMware (uma
extraordinária peça de software que permite rodar
sistemas operacionais independentemente em uma mesma máquina),
Fister retrucou que era algo parecido, mas muito mais elegante
e estável, já que era implementado no próprio
hardware.
Em suma: dentro de cerca de cinco anos nossos PCs estarão
habilitados a rodar simultaneamente diferentes aplicativos carregados
em diferentes sistemas operacionais sem que jamais o mal comportamento
de um deles afete o desempenho dos demais. Um tipo de multitarefa,
mas envolvendo não apenas aplicativos como também
sistemas operacionais. E a julgar pelo entusiasmo dos executivos
da Intel sobre o assunto, vai ser o tipo da coisa, digamos, supimpa...
B.
Piropo