Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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28/10/2002

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espalhar Spams
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Reduzido à sua expressão mais simples, um sistema operacional pouco mais é que uma imensa coleção de “serviços”, ou rotinas que controlam o funcionamento do computador e suas interações com o usuário e programas. Dentre os serviços disponíveis em Windows 2000 e NT, concebidos para serem usados em rede, consta o “messenger service”. Não confundir com o Windows Messenger, aquele programeto feito para concorrer com o ICQ e similares, que permite que usuários “conversem” quando conectados à internet: o messenger service é um “serviço” do sistema operacional, não um programa. Ele foi criado com o objetivo de permitir que um administrador de rede envie uma mensagem a todos os usuários informando, por exemplo, que certo recurso da rede não estará disponível em uma dada ocasião por razões de manutenção. Ou seja: transmitir pela rede informações de interesse dos usuários. Em princípio, uma coisa útil e desejável (para saber mais detalhes  visite
<http://support.microsoft.com/default.aspx?scid=kb;en-us;Q168893>).

As mensagens enviadas através do messenger service são do tipo “pop up”, ou seja, aparecem na tela do destinatário em uma janela que se abre repentinamente. Algo perfeitamente aceitável quando se trata de uma mensagem importante, de interesse geral, enviada por um administrador de rede.

Ocorre, no entanto, que a Direct Advertiser, uma empresa americana prudentemente sediada na România, desenvolveu um programa que, aproveitando-se deste serviço, é capaz de enviar mensagens que aparecem inopinadamente sob a forma de janelas “pop up” na tela de qualquer computador que esteja conectado à internet cujo endereço IP seja conhecido. Evidentemente, como endereços IP são conjuntos de números criados a partir de regras estabelecidas, para enviar mensagens aleatoriamente a qualquer computador conectado à rede basta ordenar que o programa envie mensagens em massa para um conjunto de endereços IP obedecendo a certos critérios.

Em <www.directadvertiser.com/index.html> os responsáveis pela empresa explicam porque consideram seu programa a melhor alternativa para correio eletrônico “em massa” (“bulk email”, no original). Entre outras razões, porque não utiliza listas de endereços (o que é proibido pelas leis de alguns estados americanos), porque as mensagens são totalmente anônimas e por ser virtualmente impossível determinar sua origem, já que o endereço IP de quem as envia jamais aparece. Afirmam ainda que “no momento” não é possível agregar às mensagens um atalho para a página do remetente, já que elas são obrigatoriamente do tipo texto puro (tudo o que o messenger service permite), mas que “assim que encontrarem uma solução que permita incluir um atalho, o programa será atualizado para inclui-la”.

O programa pode ser comprado ou alugado. Se você pretende comprá-lo, terá que desembolsar setecentos dólares americanos. Mas poderá alugá-lo por módicos duzentos dólares mensais. Uma das seções do sítio da Direct Advertiser contém testemunhos de clientes satisfeitos. Um deles, que assina apenas “Joseph”, além de elogiar o produto, dá uma idéia de como a coisa funciona: “Este é o melhor programa do mundo da internet. Acabaram-se os problemas com provedores, proxies, listas de endereços e toda aquela aporrinhação que atazanava os remetentes de mensagens em massa. Tudo que você tem que fazer é redigir sua mensagem, selecionar a faixa de endereços IP e clicar no botão enviar”.

Para correr o risco de receber uma mensagem enviada pelo programa da Direct Advertiser basta usar Windows 95, 98, NT, 2000 ou XP e estar conectado diretamente à internet via um endereço de IP válido. Máquinas protegidas por um “firewall” ou conectadas a um roteador que interliga diversos micros usando um único endereço IP estão imunes.

Até o momento, janelas que explodiam em sua tela com mensagens indesejáveis eram um sinal que provavelmente a máquina estava contaminada por vírus ou que havia sido invadida por um “cavalo de Tróia”. Agora, talvez a janela seja apenas um indício que algum pilantra está usando o programa da Direct Advertiser para lhe incomodar com propaganda não solicitada de seu produto.

E o mais curioso é que, quem sabe para se proteger de alguma iniciativa legal, quem sabe  por um duvidoso senso de ironia, no pé da página principal do sítio da Direct Advertiser você encontrará a advertência: “Por favor, não use este programa para remeter ‘spams’. Ele foi desenvolvido apenas para enviar publicidade ou mensagens de sistema para membros de sua própria rede”.

Brincalhão o rapaz, pois não?

B. Piropo