Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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24/05/2004

< Ainda o Sasser >


Este artigo foi enviado ao Globo para publicação em 24/05/2004. No entanto, não foi publicado por falta de espaço. Por se tratar de um artigo que faz referência a um fato atual, não teria sentido "guardá-lo" para publicação futura. Por isso decidi publicá-lo no Sítio do Piropo para proveito dos leitores que buscam aqui meus escritos. Mesmo porque acho o assunto relevante e creio ser importante que os leitores tomem conhecimento de seu conteúdo. Bom proveito.

B. Piropo

Há duas semanas escrevi um artigo sobre o verme “Sasser” no qual comentei dois pontos interessantes. O primeiro é que ele não exige nenhuma ação por parte do usuário para se propagar (se aproveita de uma vulnerabilidade do Windows XP e 2000 já corrigida pela MS para invadir máquinas quê, ao se conectar à Internet, eventualmente tenham recebido endereços IP iguais aos gerados aleatoriamente pelo verme). O segundo é o espantoso fato de quê, embora potencialmente pudesse provocar sérios danos como corromper arquivos ou subtrair informações confidenciais, ele nada fazia exceto forçar o desligamento das máquinas contaminadas após algum tempo de uso.
Pois bem: embora eu ainda não tivesse notícia disso enquanto o escrevia, o autor do Sasser foi preso dois dias antes da publicação do artigo. Segundo o porta voz Frank Federau da polícia da Baixa Saxônia (sim, eu sei que parece texto do coleguinha Agamenon Mendes Pedreira, mas fazer o quê? O nome do polícia é mesmo Federau e a cidade alemã onde o pilantrinha foi em cana, Rotenburgo, realmente fica na região da Baixa Saxônia) o verme foi desenvolvido por Sven Jaschan, um estudante de informática de recém completados dezoito anos. A autoria parece comprovada não apenas pela confissão do jovem, mas ainda pelo fato de ter sido encontrado em um de seus computadores o código fonte do verme, por suas iniciais corresponderem às da assinatura “Mr. SJ” encontrada nesse mesmo código fonte e por ele ter sido denunciado por um punhado de informantes que compareceram à sede da Microsoft na Alemanha perguntando se também valia para o Sasser a recompensa de 250 mil dólares oferecida para quem desse informações que levassem à prisão dos autores dos vírus MSBlast, SoBig e MyDoom (que, aliás, permanecem livres).
Até aí, parece uma história que terminou bem. Mas eu tenho minhas dúvidas.
Primeiro, porque há fortes indícios que o Sasser não tenha sido fruto da iniciativa isolada do jovem preso: baseado no fato de que muitas das funções “chamadas” pelo Sasser são as mesmas usadas pelo Netsky, uma praga um pouco mais antiga, Robert Lemos suspeita que seus autores sejam os mesmos (veja em <http://zdnet.com.com/2100-1105_2-5204930.html?tag=nl>). E, realmente, código fonte de mais de 30 versões do Netsky estava também presente nos computadores de Jaschan. Depois, porque investigações posteriores da polícia alemã encontraram cópias adicionais do código fonte do Sasser e do Nestky nos computadores de cinco colegas de escola do jovem. E, finalmente, porque uma nova variante, a Sasser.E, começou a se disseminar quase quatro horas depois da prisão do estudante (veja artigo de Robert Vamosi em
<http://reviews-zdnet.com.com/AnchorDesk/4520-7297_16-5135118.html?tag=adss>).
O que faz Vamosi suspeitar que o grupo seja uma ramificação de uma gangue muito mais ampla, espalhada pela Europa (termos em russo e checo fazem parte do código do Sasser) e que também seria responsável pela criação de outros vírus, como o Bagle.
Quanto a mim, não sei se se trata de uma gangue altamente organizada ou de um simples bando de desocupados que não têm algo melhor em que empregar sua criatividade. Mas, de uma forma ou de outra, preparem-se: cedo ou tarde rotinas mal intencionadas ou meramente destrutivas serão incorporadas a novas versões do Netsky e do Sasser. É esperar para ver...

 

B. Piropo