Sítio do Piropo B. Piropo |
< O Globo >
|
|
10/04/2006
|
< A briga de Nick e Dick na Internet > |
Nick e Dick eram amigos e sócios em uma loja de móveis, a Oak Warehouse, em Hudson, New Hampshire, EUA. E para usar a Internet como meio de divulgação da loja, Dick registrou diversos nomes de domínios em seu nome e no de Nick, alguns dos quais sequer foram usados. A sociedade não deu certo. A loja abriu falência e com a quebra da sociedade foi-se a amizade. Nick e Dick jamais chegaram a um acordo sobre quem devia quanto a quem e, acusando-se mutuamente de administração ineficiente, cada um foi cuidar de sua vida. Dick, ou Richard Boucher, abriu uma nova loja de móveis, a Boucher’s Furniture Store em Milford, também em New Hampshire. E Nick D’Augustine voltou a tocar seu próprio negócio, a Oak Furniture Store, em Amherst, não muito longe do rival. O tipo da coisa que não podia dar certo... Nick, ao que parece, não é lá flor que se cheire. Em maio de 2004 entrou em litígio com a prefeitura de Amherst sobre publicidade não autorizada, uma nebulosa questão envolvendo o uso indevido de símbolos nacionais e cartazes invocando o patriotismo para fins comerciais que foi objeto de reportagem do Nashua Telegraph em Tanto assim que, há cerca de um mês, pouco depois de Dick abrir sua nova loja, Nick anunciou no jornal local uma promoção ofertando praticamente a preço de custo os mesmos móveis vendidos pelo concorrente. E, pior: ameaçou realizar uma “liquidação de rua” (“sidewalk sale”) no estacionamento do shopping em frente à nova loja de Dick. Dick não gostou e resolveu retaliar. Lembrou-se dos domínios que havia registrado em nome do rival e resolveu aproveitar-se deles para criar sítios na Internet ridicularizando o ex-amigo. Em um deles, exibiu uma foto pornográfica em que o rosto de um dos participantes foi substituído pelo de Nick. Em outro, publicou uma foto do ex-sócio com a cabeça ligada a um, digamos, atributo masculino (veja artigo do Concord Online Monitor em Nick, indignado, prestou queixa à polícia. Infelizmente, após as devidas investigações, as autoridades policiais concluíram que não havia nenhuma ilegalidade a ser punida. Tratava-se de uma disputa pessoal e a Constituição Americana garantia o direito de expressão dos cidadãos, mesmo quando usado para insultar publicamente um desafeto. Não era um caso policial. Nick recorreu então à justiça. Seu advogado alegou que, mesmo tendo o direito de insultar publicamente seu cliente, Dick não poderia fazê-lo usando um nome de domínio que legalmente pertencia à vítima, já que pelas leis americanas isto configurava um crime federal punível com multa de até cem mil dólares por nome de domínio utilizado. Semana passada o Juiz Paul Moore do Tribunal de Justiça de Milford obrigou Dick a retirar os sítios do ar e “interromper qualquer outra atividade na Internet envolvendo o queixoso enquanto o processo estivesse em curso”. E a briga continua. Uma história interessante que leva a três conclusões não menos interessantes. A primeira é que a Internet pode ser usada para fins os mais diversos, incluindo alguns muito pouco recomendáveis. A segunda é que, ainda assim, seu potencial de divulgação de informações é extraordinário, possibilitando que nós, cá no patropi, tomemos conhecimento de detalhes da baixaria envolvendo Nick e Dick em duas pequenas cidades do interior dos EUA a milhares de quilômetros de distância. E a terceira é que, tendo em vista o comportamento público dos supracitados empresários, eu não compraria na loja de qualquer um deles sequer um reles penico... B. Piropo |