Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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30/09/2002

< Blade Servers >


Um CPD de uma grande empresa parece um depósito de computadores: dezenas, eventualmente centenas de máquinas repousando lado a lado em estantes metálicas. São os servidores da rede. Cada um em seu gabinete, com sua própria fonte de alimentação e discos rígidos. O estranho é que nem todos dispõem de teclado ou monitor, já que sua função principal é armazenar arquivos e executar tarefas de apoio.

Ora, mas se dispositivos como esses podem ser dispensados, por que não dispensar o gabinete? Essa idéia deu origem a uma tendência que cada vez se espalha mais: os “blade servers” (servidores em lâmina). A coisa é de uma simplicidade franciscana: remova de um servidor de rede tudo aquilo que vem no gabinete, inclusive a fonte e os drives. Sobra pouco mais que a placa-mãe, os módulos de memória e as placas controladoras. No estilo “tudo on board”, integre estas últimas à placa-mãe, incline os suportes dos módulos de memória de forma a que pouco sobressaiam da placa e fixe um ou mais discos rígidos diretamente sobre a placa. O resultado é um servidor no qual falta apenas teclado, vídeo e fonte de alimentação, montado em uma única placa cujo formato longo e achatado lembra o de uma lâmina, justificando o nome. Agora, aloje-o verticalmente, juntamente com outros, no encaixe apropriado de um gabinete metálico tipo “rack” que, além de uma ou mais fontes de alimentação, contém os conectores para interligá-los ao mundo exterior através de dispositivos de entrada e saída e placas de rede. Feito: você conseguiu enfiar em um treco menor que uma geladeira todo o conjunto de servidores que ocupariam a sala inteira do CPD. Veja um excelente exemplo, tridimensional e interativo (pode-se girar o gabinete e “remover” placas clicando com o mouse) no atalho “System 300ex tour” na página da RLX, uma das pioneiras dos “blade servers”, em <www.rlx.com/>.

A idéia nasceu no final do ano passado e já em janeiro deste ano a HP lançou suas “lâminas” baseadas em Pentium III rodando Linux e, logo depois, modelos semelhantes rodando Windows. E recentemente a IBM anunciou que está se engajando em um projeto conjunto com a Intel para lançar seus próprios blade servers, porém muito mais poderosos (os primeiros modelos usarão dois processadores Xeon e há planos de estender a linha até o Itanium 2; veja artigo de Stephen Shankland em
<http://zdnet.com.com/2100-1103-958152.html>).
E, além da RLX, HP e IBM, outros contendores, como Dell e Sun, anunciaram sua disposição de entrar na briga.

É claro que há problemas a serem resolvidos. Inclusive refrigeração, já que não é brincadeira dissipar o calor gerado por centenas de poderosos microprocessadores e discos rígidos girando a milhares de RPM, tudo isso espremido em uma caixa metálica de dimensões reduzidas. Isso sem falar no barulho gerado pela trapizonga. Mas o interesse que os grandes fabricantes demonstram pela nova tendência parece indicar que a economia de espaço e de custos devida à eliminação de elementos supérfluos é mais que compensadora.

Até agora o sistema vinha sendo usado apenas em servidores. Mas semana passada a ClearCube lançou a idéia para corporações cujos funcionários usam em suas mesas centenas de computadores em rede espalhados por diversas salas de um mesmo prédio: computadores estilo “lâmina” centralizados em uma única sala. Junto aos usuários haverá apenas os conectores para o monitor, mouse e teclado. Segundo a ClearCube, além da economia devida à eliminação dos gabinetes e fontes de alimentação individuais, haverá outras vantagens. Algumas delas: a manutenção será centralizada. O sistema poderá conter unidades reserva de modo que se uma máquina “der pau” basta conectar seu usuário a uma reserva, interrompendo o trabalho apenas durante alguns minutos enquanto as “imagens” de seus discos rígidos, sempre atualizadas pelo sistema de segurança, são transferidas para a nova unidade. Isso sem falar na instalação de um novo sistema: as atividades de remover a unidade da caixa, conectá-la à rede, instalar sistemas e aplicativos e configurá-la de acordo com os padrões da corporação, segundo artigo de Michael Kanellos em
<http://zdnet.com.com/2100-1105-958819.html>
reduzem-se, no sistema estilo “lâmina”, a pouco mais dos três minutos necessários para encaixar a lâmina em seu suporte e copiar para seus discos rígidos “imagens” adrede preparadas.

Essa é a idéia. Será que pega? Sei não. Eu mesmo não gostaria de trabalhar com um negócio desses. Impessoal demais para o meu gosto...

(Os atalhos (“links”) incluídos neste artigo podem ser encontrados na seção Escritos desta semana do Sítio do B.Piropo, em <www.bpiropo.com.br>).

B. Piropo