Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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13/02/2006

< Malandragem germânica >


Malandragem demais atrapalha. Todo malandro “das antigas” sabe disso. E dosa sua malandragem de forma a tirar maior proveito dela em detrimento das finanças dos otários, que os há – malandros e otários – em toda parte do mundo. Só que, em algumas, malandros são menos malandros.
Isso é fato sabido. Por exemplo: o conceito da malandragem alemã nunca esteve em alta. Talvez seja meramente uma questão de preconceito, talvez seja mesmo um fenômeno cultural. Mas o fato é que se malandragem fosse um quesito que merecesse nota, dificilmente os germânicos tirariam dez. Como acaba de comprovar a poderosa BMW, grande fabricante de automóveis germânica.
Negócio seguinte: os responsáveis pela página da BMW alemã na Internet descobriram um meio de diferenciar quando ela é visitada pelo “bot” (corruptela de “robot” em inglês, um mecanismo automático de visita e indexação de páginas utilizado pelos dispositivos de busca como o Google e outros) de quando ela é visitada por um internauta. E, na base da malandragem, resolveram “enganar” os mecanismos de busca.
A coisa funciona mais ou menos assim: quando o servidor que hospeda o sítio germânico da BMW constata que está sendo “inspecionado” por um “bot”, imediatamente exibe uma página apenas de texto. Em alemão, naturalmente.

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Figura 1 - Clique para ampliar.

Se seu conhecimento do alemão é razoável, você vai perceber que a página foi concebida para conter o maior número possível de expressões de interesse do usuário que busca informações sobre automóveis de, digamos, boa estirpe. O termo “neuwagen”, que significa “carro novo”, pode ser encontrado dezenas de vezes. E diversos outros termos espalhados pelo texto contribuem para que a página receba uma classificação altamente favorável, o que fará com que seja exibida entre os primeiros resultados retornados pelas buscas dos entusiastas do automobilismo.
Mas, do ponto de vista mercadológico, a página é um horror. Por isso ela inclui um mecanismo, “embutido” sob a forma de um javascript (um pequeno trecho de código executável que é interpretado pelo programa navegador), que imediatamente desvia o visitante para a página de abertura verdadeira, ilustrada com reluzentes modelos de automóveis. Que não é “vista” pelo “bot”, aparece apenas na tela do internauta.

Figura 2

Em suma: um típico esquema “engana-trouxa”. Ao mecanismo de busca é apresentada uma página texto com informações destinadas a melhorar a posição do sítio da empresa em uma classificação baseada no interesse dos usuários que efetuam buscas referentes a automóveis, enquanto ao visitante comum é mostrada a página ilustrada com os modelos de automóveis fabricados pela empresa. Malandragem pura.
Mas malandragem alemã. Uma nota postada no blog de Matt Cutts sábado passado, 04 de fevereiro
(em < www.mattcutts.com/blog/ramping-up-on-international-webspam/ >)
revela que o Google considerou que esta prática viola o “Guia de qualidade para webmasters” (que  se encontra – em português – em < www.google.com/webmasters/guidelines.html#quality >), mais especificamente a clausula que diz textualmente: “Não engane os seus usuários nem apresente aos mecanismos de busca um conteúdo diferente daquele que você exibe aos usuários, o que normalmente é chamado de ‘cloaking’ (camuflagem do conteúdo real da página)”.
Resultado: o sítio da BMW alemã foi removida do índice do Google e, ainda segundo Cutts, apesar da constatação de que já foram eliminadas algumas das páginas enganosas, somente será re-incluído após uma solicitação oficial que contenha detalhes sobre o autor das referidas páginas. Incidentalmente: no mesmo artigo Cutts informa que brevemente o sítio alemão da Ricoh será igualmente removido do índice por razões similares.
Os malandros germânicos que se cuidem...


B. Piropo