Artigo
enviado para publicação em O Globo de 27/10/97
(Não publicado por questão de espaço)
Quando
escrevo que o Nordeste tem uma empatia especial com a informática,
há quem diga, lembrando de minhas raízes soteropolitanas,
que eu estou puxando brasa para minha sardinha. Mas se não
tem, então como justificar que Pernambuco, um estado que
abriga somente 5% da população do Brasil e que é
responsável apenas por 3% da economia do país, seja
capaz de gerar 17% do tráfego nacional da Internet? Como
entender que em Caruaru, uma cidade cujo nome evoca mais chapéu
de couro que microcomputador, existam mais de mil usuários
da grande rede? E como explicar o contínuo crescimento tanto
qualitativo quanto quantitativo do InfoNordeste, o Congresso e Feira
anual de Informática e Telecomunicações do
Nordeste, já em sua sexta edição?
O deste
ano, InfoNordeste 97, realizado de 21 a 25 deste mês, foi
um evento de respeitáveis proporções. A programação
do Congresso incluiu 62 palestras (entre as quais uma deste vosso
criado), além de três painéis e seis keynotes.
Paralelamente, transcorreram três encontros, quinze minicursos
e nove seminários, com destaque especial para "A Informática
na Terceira Idade" e, principalmente, "Contribuição
da Informática para a Pessoa Portadora de Deficiência
Física" (leia mais sobre ele na Trilha Zero). Entre
congresso, seminários, encontros e minicursos, registraram-se
mais de três mil inscritos. Um número respeitável
sob qualquer critério mesmo em eventos deste tipo realizados
no eixo Rio-São Paulo.
Além
do Congresso, houve ainda a feira. Este ano, pela primeira vez,
toda a área disponível para estandes foi comercializada
antecipadamente. Segundo Adolfo Ledebur, Presidente da SUCESU/PE,
um mês antes do evento já não havia mais espaço
disponível no pavilhão de exposições
do Centro de Convenções de Recife. O resultado foram
mais de 150 expositores ocupando 4.800 metros quadrados de estandes
que preencheram inteiramente o pavilhão, em uma feira para
a qual se esperava um movimento superior a cem mil visitantes.
A Feira
é concebida no estilo feira de negócios, onde além
de se mostrar, se compra e se vende. A previsão era de um
volume de negócios da ordem de 40 milhões de dólares.
E havia de tudo, desde os indefectíveis kits multimídia
a montes de impressoras coloridas, tudo isto a preços que,
presumivelmente graças à maior proximidade de Miami,
não somente nada ficam a dever aos praticados no eixo Rio-São
Paulo como muitas vezes são significativamente inferiores.
A exceção era o novíssimo Libretto, um subnotebook
do tamanho de uma agenda de bolso movido a um potente Pentium 75,
presente na feira porém custando mais de três mil reais,
preço mais salgado que jabá.
O destaque
da feira foi o pavilhão da Embratel, em madeira e palha,
estilo rústico, se espalhando por 250 metros quadrados, enfatizando
o projeto "Magalhães Global Adventure", a cobertura
em tempo real pela Internet da nova viagem da família Schurmann
a ser iniciada mês que vem reconstituindo a volta ao mundo
de Fernão de Magalhães há quatro séculos.
O nível
técnico do Congresso foi adequado. Mas nem todas as palestras
foram sisudas como se espera de um congresso de informática.
O engenheiro Marcelo Madureira, por exemplo, discorreu enfática
e animadamente sobre o tema "Três coisas para se fazer
na Internet e que não se podem fazer com a Sharon Stone",
na verdade um relato mais que bem humorado da bem sucedida experiência
da página do Pessoal da Casseta e Planeta, pela qual o Marcelo
é responsável. Isto sem falar na mais que interessante
palestra do simpaticíssimo Hans Donner, que apesar do nome
e da projeção revelou-se uma figura de uma cativante
simplicidade. E da participação de Daniel Azulay,
que mostrou seus CD-ROM infantis e seu sítio na Internet
em um encontro com mais de quatrocentas crianças abrigadas
em instituições para menores carentes e abandonados.
B.Piropo