Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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31/07/2000

< FENASOFT 2000 >


Já não se fazem feiras de informática como antigamente. As de hoje mostram cada vez menos informática e cada vez mais Internet. Assim foi a PC Expo há menos de um mês em NY. E a Fenasoft 2000 realizada semana passada no Anhembi, em São Paulo, não foi diferente. Basta olhar a planta do pavilhão e verificar quais eram os maiores estandes: tirante os varejões, os mega estandes onde empresas (especializadas em informática como a Plug & Use e a Amigo Mouse, ou não, como o Carrefour e Kalunga) dedicavam-se à venda de produtos, os de grande porte eram todos voltados para Internet. Lá estavam os portais Globo.com,  IG, Terra, OSite, Starmedia, Super 11, Arremate, Mercado Livre e Submarino, ao lado de provedores oferecendo conexões rápidas, como o Vírtua e o @Jato, e do Matrix, um provedor pago que está se especializando em conexões confiáveis para o mercado corporativo. Além de empresas telefônicas, como Intelig. Telesp Celular e Telefonica (sem acento, como eles gostam). Das grandes empresas de informática como IBM e Microsoft, cujos estandes dominavam as feiras de antigamente, nem sinal. Corporações importantes exibindo seus produtos para conhecimento do público especializado,  como nas velhas feiras, só a Creative Labs, com alguns produtos excelentes porém a preços bastante salgados, a Corel e a Conectiva, empenhadas na evangelização do Linux, e a Microsiga, voltada para o mercado corporativo. As demais empresas de informática presentes estavam pulverizadas em dezenas de pequenos e médios estandes espalhados pelos corredores, muitos deles destinados basicamente a vender produtos diretamente ao público.

Não sei se feiras assim são melhores ou piores que os grandes espetáculos tecnológicos de antanho, dedicados apenas ao lançamento e divulgação de tecnologias e onde a venda direta de produtos era pecado. Sei que são diferentes – e isto ficou muito claro na Fenasoft 2000. Por exemplo: você conhece o América? Refiro-me ao clube de futebol, o AFC carioca. Dá para imaginar sua presença em uma feira de informática como as de antigamente? Pois nesta Fenasoft 2000 ele se fez presente divulgando seu sítio, em <www.america-rj.com.br>, e sua loja virtual em <www.afcshop.com.br>. Uma presença tão inesperada quando simpática. Particularmente porque seu estande situava-se nas vizinhanças de dois outros igualmente simpáticos: o do Comitê para a Democratização da Informática (<www.cdi.org.br>), com sua luta para levar a informática às comunidades menos favorecidas, e o da Associação Desportiva para Deficientes (<www.add.com.br>) voltado para a promoção do esporte adaptado para pessoas portadoras de deficiência.

Porém, em uma feira tão dirigida para a Internet, me espantou a quase total ausência da tecnologia WAP e dos computadores de mão, os chamados PDAs. Com base no que vi na PC Expo, eu esperava que produtos como estes, voltados para a conectividade, dominassem a cena. Estranhamente, estavam quase ausentes.

Já o público, ao contrário, fez-se presente. Maciçamente, atulhando os corredores onde já no segundo dia da feira era difícil caminhar. Os organizadores esperavam mais de 720 mil visitantes. Como este artigo foi editado antes do encerramento da feira, não deu para confirmar. Mas a julgar pelas filas que congestionavam a entrada do pavilhão e pela dificuldade de se deslocar nos corredores apinhados, a estimativa não me pareceu descabida.

Em uma feira deste tipo, voltada para o binômio vendas/Internet, não se deve esperar grandes novidades. Mesmo porque já há alguns anos que os grandes fabricantes perderam o hábito de lançar produtos nas feiras. Mas ainda assim havia muita coisa interessante.

No que toca ao hardware, a Creative Labs, além de suas sempre excelentes placas de som e vídeo, mostrava a linha Nomad de dispositivos para reproduzir música no formato MP3. O pequeno Nomad II é um primor: menor que um maço de cigarros e pesando menos de 100 g, o bichinho armazena em seus 64 Mb de memória mais de uma hora de música, incorpora um receptor FM e um gravador de som. Um brinquedo e tanto, mas que só está ao alcance de quem se dispuser a desembolsar os R$ 1.299 que a Creative acha que ele vale. Já o Nomad Jukebox me pareceu mais atraente: com o aspecto de um destes reprodutores portáteis de CDs de áudio, guarda 6 Gb de arquivos MP3 em seu disco rígido interno, o que permite armazenar mais de 150 CDs de áudio (provavelmente a discoteca inteira da maioria de nós). Seu lançamento é esperado para antes do Natal. Nos EUA, custará pouco menos de US$ 500. No Brasil espera-se que fique em pouco mais de 2 mil reais. Comparativamente, em termos de custo/benefício, dá um banho no Nomad II.

Ainda na área do hardware, a Brother se destacava com suas bordadeiras eletrônicas. Havia quatro modelos, com custos variando de R$ 1.640  R$ 4.990. A coisa funciona assim: você cria em seu micro um desenho qualquer usando um software gráfico, grava em uma plaqueta de memória flash, encaixa-a na máquina e o resultado é o desenho bordado em tecido. E se você não tem dons artísticos, nem precisa criar seus próprios bordados: a Brother fornece dezenas de cartões de memória com centenas de desenhos. Ou seja: graças à Brother, as moças que pintam e bordam agora podem fazê-lo eletronicamente.

Mas no que toca a hardware o que mais me chamou a atenção foi o estande da ADS Technologies, escondido em um canto do Anhembi. Sua especialidade são os novos barramentos USB e Firewire (IEEE 1394), de alto desempenho. A empresa fabrica placas e hubs que permitem adicionar portas Firewire ou USB aos mais diferentes micros, desde desktops a notebooks, além de um interessantíssimo dispositivo que permite conectar um drive EIDE “à quente” (ou seja, sem desconectar o micro) a qualquer porta Firewire. Se você, como eu, acredita que estes barramentos dominarão o mercado a curto prazo, sugiro uma visita ao sítio da ADS em <www.adstech.com>.

A AmigoMouse.Com (<www.amigomouse.com>) marcava presença vendendo diretamente ao público. Fosse ela apenas uma das muitas empresas a se aproveitar da face “varejão” desta Fenasoft para vender seus produtos, não mereceria menção. Porém, através de uma associação com a eBit (<www.ebit.com.br>), ela patrocinou e estava distribuindo o “eBit consumidor”, um folheto sobre os direitos do consumidor nas transações de comércio eletrônico. E não é todo o dia que se vê um comerciante instruir a freguesia sobre seus (deles) direitos...

Na área do software, muita coisa e pouca novidade. Dentre os pequenos estandes, chamaram minha atenção os da Itis e AltoQI. Curiosamente, ambas de Florianópolis e mostrando produtos semelhantes. A Itis demonstrava o Itis-CAD, um interessantíssimo aplicativo para desenvolvimento de projetos arquitetônicos, um CAD 3D completo (e não um “add-in” para Autocad, como muitos de seus concorrentes) simples, rápido e poderoso. Já a AltoQI mostrava seus já consagrados e premiados produtos AltoQI Eberick e AltoQI Formas, para projetos estruturais e desenhos de formas para concreto, além do novo (e impressionante) AltoQI Hydros, para projetos de instalações prediais hidro-sanitárias.

Comprovando que ainda há vida (e, espera-se, haverá cada vez mais) além de Windows, a Conectiva e a Corel empenhavam-se na divulgação de seus sistemas e produtos Linux. A Conectiva badalando seus recém lançados pacotes gráfico e de comércio eletrônico, a Corel o seu conhecido Corel WordPerfect. O empenho de duas corporações do porte de Corel e Conectiva na evangelização do Linux e sua presença marcante na feira disseminando a cultura Linux, é um alento para aqueles que, como eu, esperam pela concorrência para forçar a melhoria da qualidade dos sistemas operacionais.

 

B. Piropo