Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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12/09/2005

< Entrevista: Neil McGowan >


Há alguns dias a VeriSign patrocinou o “VoIP Seminar”, um evento sobre o impacto e as oportunidades da tecnologia de voz sobre IP (VoIP) no setor de tecnologia. O seminário estendeu-se por toda a manhã e parte da tarde e dele participaram diversos executivos da VeriSign, inclusive Neil McGowan, seu Vice-Presidente Sênior para Mercados Internacionais, um cavalheiro incisivo, bem humorado e muito simpático. Durante o almoço tivemos a oportunidade de conversar com ele. Aqui vai um apanhado do que se falou.

Neil McGowan, Vice-Presidente da VeriSign

O Globo: Sempre conheci a VeriSign como empresa dedicada a segurança. Participar de um evento sobre VoIP patrocinado por ela me surpreendeu...
Neil McGowan: A mim também (risos). Falando sério: além de segurança e autenticação, a VeriSign sempre foi uma empresa da área de telecomunicações. Acontece que sua divisão de telecomunicações era voltada exclusivamente para a América do Norte. Só recentemente decidimos expandir os serviços e estamos fazendo isso em escala mundial.

O Globo: E quais são os serviços oferecidos por esta divisão?
Neil McGowan: Nós não trabalhamos diretamente com os usuários. Nossa estratégia se baseia em oferecer serviços às operadoras, tanto de telefonia fixa como móvel, que serão por elas repassados a seus usuários. Esses serviços se dividem em três segmentos: o de comunicações propriamente dito, o comercial e o de provimento de conteúdo. Os serviços de comunicações são os mais visíveis. Por exemplo, podemos suprir capacidade de interconexão às operadoras. Hoje, uma operadora de telefonia celular, para ser bem sucedida, precisa oferecer a seus clientes o serviço de “roaming”, inclusive internacional. Para fazer isso ela pode ou estabelecer contatos com dezenas ou centenas de outras empresas, negociando com cada uma a interconexão de suas redes, ou procurar a VeriSign, que oferece o serviço em escala mundial. Além disso podemos interconectar diretamente os PBXs da mesma empresa. Por exemplo: ligar o PBX da sede, digamos, nos EUA, ao dos escritórios no Brasil, através de uma conexão VoIP. Podemos inclusive integrar operadoras, tanto de telefones fixos quanto móveis.

O Globo: E nos demais segmentos?
Neil McGowan: No segmento comercial temos capacidade para nos responsabilizamos por toda a área de cobrança e envio de contas, por exemplo. Ou pela administração dos serviços do tipo pré-pagos. No segmento de conteúdo fornecemos serviços como “ringtones” e “wallpapers” para operadoras de telefonia celular. Ou filmes e músicas.

O Globo: O conteúdo é desenvolvido pela própria VeriSign ou terceirizado?
Neil McGowan: Em grande parte, por nós mesmos. Temos uma boa estrutura dedicada à criação e desenvolvimento de conteúdo. Mas uma boa parcela é terceirizada, principalmente a que lida com conteúdo relativo à indústria do entretenimento. A grande vantagem para as operadoras é que ela trata apenas com a VeriSign para adquirir uma grande variedade de conteúdo.

O Globo: Os investimentos feitos pelas operadoras de telefonia fixa na privatização desses serviços no Brasil foram elevados. Agora, no afã de recuperar esse investimento, elas estão cobrando tarifas pesadas. Muitos usuários de telefonia fixa, que se apressaram a solicitar a instalação de telefones quando o aumento da oferta tornou isso possível, foram obrigados a devolver as linhas porque não conseguiram arcar com os custos dos serviços e isto tem privado as classes menos favorecidas do serviço de telefonia fixa. O senhor acha que a tecnologia VoIP pode contribuir para reverter esse quadro?
Neil McGowan: Tarifas elevadas não são uma boa coisa. Os serviços de telefonia não são luxo, são de primeira necessidade. É por telefone que se solicita socorro em situações de emergência e atendimento urgente na área de saúde. Todos, incluindo o governo, suas agências reguladoras, as empresas e o público precisam de aprender esta lição: se você conseguir atrair mais usuários aos serviços de telecomunicações e aumentar a comunidade que usa esses serviços para atender as necessidades de sua vida diária, aumentará a produtividade de toda a nação.

O Globo: E quando ela será aprendida?
Neil McGowan: A Anatel e as operadoras de telefonia fixa estão aprendendo agora mesmo. O sucesso da telefonia celular as está ensinando. A tendência é que esses serviços se juntem. As operadoras terão que fundi-los e isso fará os custos das tarifas caírem. Quando isso ocorrer, você receberá em uma única conta a cobrança dos serviços de telefone fixo, celular e talvez TV a cabo.

O Globo: Essa tendência se manifestará também no Brasil?
Neil McGowan: Sim. Mesmo aqui as operadoras não são mais simples “conectadoras” de pessoas que se comunicam por voz. Elas já prestam, indiretamente, outros serviços através da Internet, como movimentação de contas bancárias. Isso é uma conseqüência inevitável da convergência de tecnologias. Empresas de telefonia fixa, celular e Internet rápida (“broadband”) vão se fundir em uma só companhia. Outra tendência é o aparecimento de empresas do tipo MVNO (Mobile Virtual Network Operator, ou operadora de rede móvel virtual). Talvez o exemplo mais conhecido seja a Virgin Mobile. Ela possui apenas a marca, no caso da Virgin, conhecida por suas revendas de discos, e se associa a prestadoras locais de telefonia celular, das quais compram minutos e repassam para seus clientes. Além dessas, nos EUA já há diversas empresas do tipo “3 play”, que prestam serviços de transmissão de dados, voz por telefonia fixa e voz por telefonia celular. E estão aparecendo as “4 play”, que agregam a estes os serviços de vídeo. É um mercado em expansão e é nele que pensa a VeriSign.

B. Piropo