Há
alguns anos, quando eu escrevia uma coluna chamada Feedback aqui
mesmo no caderninho, fui procurado por um jovem que pretendia usar
as definições publicadas na coluna em um produto que
ele desenvolvera com um grupo de amigos. Tratava-se de um mecanismo
de dicionários, ou seja: fornecido um vocábulo, ele
procurava seu significado em um banco de dados compactado e o exibia.
Na ocasião estavam em busca de dicionários, por isto
me procuraram. Recusei a proposta, já que desenvolver um
dicionário de termos técnicos era areia demais pra
meu caminhãozinho, mas manifestei curiosidade para conhecer
o produto. E foi assim que conheci o DIC, um programa desenvolvido
por um grupo de jovens idealistas de uma pequena firma mineira.
Deles, não mais tive notícias (se por acaso lerem
esta coluna, que as mandem). Mas recentemente soube que o programa
evoluiu: foi comprado pela DTS, incorporou o Ortográphos,
um corretor ortográfico em português, e já está
em sua versão 4.0. E se bem que apresente alguns senões
aqui e ali, continua um bom produto.
Na
verdade, os produtos são três. O DIC Michaelis é
um dicionário de português com conjugador verbal acompanhado
de dois glossários (informática e executivo) e dois
dicionários adicionais (um apenas sobre termos técnicos
de informática e outro inglês-português, português-inglês).
O DIC MAXI é mais completo: traz tudo isto e mais quatro
dicionários (francês, espanhol, italiano e alemão,
de e para o português), além do corretor ortográfico
Ortográphos. E finalmente, há ainda o próprio
Ortográphos, que pode ser comprado separadamente. O preço
me pareceu justo: o DIC MAXI, o mais caro, tem um preço sugerido
de R$ 148. Por sete dicionários, dois glossários,
um conjugador verbal e um corretor ortográfico, convenhamos:
é uma pechincha.
A instalação
é simples. Basta escolher o diretório e os dicionários
a serem instalados. Cuidado para não exagerar: não
instalei nem a metade e o bicho comeu 130Mb de HD. Felizmente é
possível consultar dicionários diretamente do CD-ROM,
o que reduz para pouco mais de 20Mb o espaço ocupado no disco
- mas torna a consulta mais lenta. O ideal é instalar apenas
os dicionários mais usados e deixar os demais no CD-ROM.
Tanto
o DIC quanto o Ortográphos rodam em Windows 3.x e 95. E se
integram ao Word for Windows (versões 2, 6 e 7 tanto em português
quanto em inglês) e, vejam só, ao Carta Certa para
Windows. Se você desejar, eles aparecem como botões
nas barras de ferramenta de ambos os programas - o que faz do Ortográphos
uma solução ideal para quem tem o Word em inglês
e precisa de um corretor ortográfico em português.
O DIC faz a janela do Word se reduzir e a do DIC aparecer ao lado
dela com o significado da palavra onde está o cursor (o que
é um tanto incômodo: melhor seria se a janela do DIC
se superpusesse à do Word). Já o Ortográphos
faz aparecer uma janela propondo a revisão apenas do parágrafo,
do texto ou da seleção, caso algo esteja selecionado.
O que, por alguma razão, é ignorado e o programa faz
sempre a revisão do parágrafo. Mas nem o DIC nem o
Ortográphos dependem do Word ou do CartaCerta para funcionar.
Ambos podem ser carregados e usados independentemente.
Uma
característica extraordinariamente útil do DIC é
permitir abrir com um clique do mouse sobre a bandeira correspondente
tantos dicionários quantos se queira e facultar a busca em
todos eles ao mesmo tempo. E, o que é ainda melhor, permitir
abrir duas janelas simultâneas, cada uma com um dicionário.
Para quem está consultando ou traduzindo um texto em inglês,
por exemplo, poder acessar ao mesmo tempo as janelas dos dicionários
inglês-português e português-inglês é
uma bênção.
O DIC
permite consultar qualquer dos dicionários e o conjugador
verbal, seja digitando o texto, seja copiando de um programa qualquer
e transferindo para ele via clipboard. Além de copiar para
o clipboard trechos selecionados, seja dos significados dos verbetes,
seja das notas explicativas de cada dicionário (um clique
com o botão direito do mouse copia automaticamente para o
clipboard qualquer seleção). E tem características
interessantes. Por exemplo: nos verbos impessoais ou unipessoais,
aparecem em vermelho as pessoas que não podem ser conjugadas
- como "chovemos".
O Ortográphos
faz tudo aquilo que se espera de um corretor ortográfico
(inclusive acentuação automática e correção
inteligente, identificando erros repetidos durante a digitação
e corrigindo sem aviso) e alguma coisa a mais. Só que mais
devagar. Por isto, apesar de suas pequenas vantagens sobre o revisor
ortográfico do próprio Word (como avisar quando encontra
palavras homógrafas imperfeitas, aquelas que têm a
mesma grafia e divergem apenas pela acentuação, como
a preposição "por" e o verbo "pôr"),
se seu Word já vem com o corretor em português não
sei se a troca é vantajosa. Mas o Ortográphos revela
sua imensa utilidade quando usado em editores que não incorporam
corretores ortográficos. Não funciona em todos: nos
editores do HotMetal, do XTree e do Internet Mail ele se perdeu
completamente. Mas funcionou muito bem nos editores do Netscape
Mail e do Exchange e em programas como o Notepad e Wordpad do Windows.
Tem porém um inconveniente que sugiro veementemente ser corrigido
na próxima versão: ao terminar a verificação
ele insiste em exibir uma janela de estatísticas com o número
de palavras verificadas, corrigidas, etc. Não há como
inibir isto. E por vezes esta maldita janela se esconde por detrás
das outras e não se consegue prosseguir enquanto ela não
é descoberta e fechada. Além disto, o Ortográphos
só faz a verificação de textos em português.
Em um produto fornecido com cinco dicionários de idiomas
esta é uma falha quase imperdoável.
Mas
ao fim e ao cabo, apesar dos pequenos senões, o balanço
é altamente positivo. Para quem consulta freqüentemente
textos em mais de um idioma - quase uma rotina nestes tempos de
internet - o DIC é um produto essencial. E para quem edita
textos em português em um editor sem revisor, o Ortográphos
é a solução ideal - mas antes é bom
verificar se ele funciona no editor que se pretende usar. Em resumo:
nem um nem outro são perfeitos. Mas são eficazes,
honestos e, sobretudo, baratos.