Sítio do Piropo

B. Piropo

O Globo
Volte
14/04/1997

DIC e Ortográphos: Eficazes, Honestos e Úteis


Há alguns anos, quando eu escrevia uma coluna chamada Feedback aqui mesmo no caderninho, fui procurado por um jovem que pretendia usar as definições publicadas na coluna em um produto que ele desenvolvera com um grupo de amigos. Tratava-se de um mecanismo de dicionários, ou seja: fornecido um vocábulo, ele procurava seu significado em um banco de dados compactado e o exibia. Na ocasião estavam em busca de dicionários, por isto me procuraram. Recusei a proposta, já que desenvolver um dicionário de termos técnicos era areia demais pra meu caminhãozinho, mas manifestei curiosidade para conhecer o produto. E foi assim que conheci o DIC, um programa desenvolvido por um grupo de jovens idealistas de uma pequena firma mineira. Deles, não mais tive notícias (se por acaso lerem esta coluna, que as mandem). Mas recentemente soube que o programa evoluiu: foi comprado pela DTS, incorporou o Ortográphos, um corretor ortográfico em português, e já está em sua versão 4.0. E se bem que apresente alguns senões aqui e ali, continua um bom produto.

Na verdade, os produtos são três. O DIC Michaelis é um dicionário de português com conjugador verbal acompanhado de dois glossários (informática e executivo) e dois dicionários adicionais (um apenas sobre termos técnicos de informática e outro inglês-português, português-inglês). O DIC MAXI é mais completo: traz tudo isto e mais quatro dicionários (francês, espanhol, italiano e alemão, de e para o português), além do corretor ortográfico Ortográphos. E finalmente, há ainda o próprio Ortográphos, que pode ser comprado separadamente. O preço me pareceu justo: o DIC MAXI, o mais caro, tem um preço sugerido de R$ 148. Por sete dicionários, dois glossários, um conjugador verbal e um corretor ortográfico, convenhamos: é uma pechincha.

A instalação é simples. Basta escolher o diretório e os dicionários a serem instalados. Cuidado para não exagerar: não instalei nem a metade e o bicho comeu 130Mb de HD. Felizmente é possível consultar dicionários diretamente do CD-ROM, o que reduz para pouco mais de 20Mb o espaço ocupado no disco - mas torna a consulta mais lenta. O ideal é instalar apenas os dicionários mais usados e deixar os demais no CD-ROM.

Tanto o DIC quanto o Ortográphos rodam em Windows 3.x e 95. E se integram ao Word for Windows (versões 2, 6 e 7 tanto em português quanto em inglês) e, vejam só, ao Carta Certa para Windows. Se você desejar, eles aparecem como botões nas barras de ferramenta de ambos os programas - o que faz do Ortográphos uma solução ideal para quem tem o Word em inglês e precisa de um corretor ortográfico em português. O DIC faz a janela do Word se reduzir e a do DIC aparecer ao lado dela com o significado da palavra onde está o cursor (o que é um tanto incômodo: melhor seria se a janela do DIC se superpusesse à do Word). Já o Ortográphos faz aparecer uma janela propondo a revisão apenas do parágrafo, do texto ou da seleção, caso algo esteja selecionado. O que, por alguma razão, é ignorado e o programa faz sempre a revisão do parágrafo. Mas nem o DIC nem o Ortográphos dependem do Word ou do CartaCerta para funcionar. Ambos podem ser carregados e usados independentemente.

Uma característica extraordinariamente útil do DIC é permitir abrir com um clique do mouse sobre a bandeira correspondente tantos dicionários quantos se queira e facultar a busca em todos eles ao mesmo tempo. E, o que é ainda melhor, permitir abrir duas janelas simultâneas, cada uma com um dicionário. Para quem está consultando ou traduzindo um texto em inglês, por exemplo, poder acessar ao mesmo tempo as janelas dos dicionários inglês-português e português-inglês é uma bênção.

O DIC permite consultar qualquer dos dicionários e o conjugador verbal, seja digitando o texto, seja copiando de um programa qualquer e transferindo para ele via clipboard. Além de copiar para o clipboard trechos selecionados, seja dos significados dos verbetes, seja das notas explicativas de cada dicionário (um clique com o botão direito do mouse copia automaticamente para o clipboard qualquer seleção). E tem características interessantes. Por exemplo: nos verbos impessoais ou unipessoais, aparecem em vermelho as pessoas que não podem ser conjugadas - como "chovemos".

O Ortográphos faz tudo aquilo que se espera de um corretor ortográfico (inclusive acentuação automática e correção inteligente, identificando erros repetidos durante a digitação e corrigindo sem aviso) e alguma coisa a mais. Só que mais devagar. Por isto, apesar de suas pequenas vantagens sobre o revisor ortográfico do próprio Word (como avisar quando encontra palavras homógrafas imperfeitas, aquelas que têm a mesma grafia e divergem apenas pela acentuação, como a preposição "por" e o verbo "pôr"), se seu Word já vem com o corretor em português não sei se a troca é vantajosa. Mas o Ortográphos revela sua imensa utilidade quando usado em editores que não incorporam corretores ortográficos. Não funciona em todos: nos editores do HotMetal, do XTree e do Internet Mail ele se perdeu completamente. Mas funcionou muito bem nos editores do Netscape Mail e do Exchange e em programas como o Notepad e Wordpad do Windows. Tem porém um inconveniente que sugiro veementemente ser corrigido na próxima versão: ao terminar a verificação ele insiste em exibir uma janela de estatísticas com o número de palavras verificadas, corrigidas, etc. Não há como inibir isto. E por vezes esta maldita janela se esconde por detrás das outras e não se consegue prosseguir enquanto ela não é descoberta e fechada. Além disto, o Ortográphos só faz a verificação de textos em português. Em um produto fornecido com cinco dicionários de idiomas esta é uma falha quase imperdoável.

Mas ao fim e ao cabo, apesar dos pequenos senões, o balanço é altamente positivo. Para quem consulta freqüentemente textos em mais de um idioma - quase uma rotina nestes tempos de internet - o DIC é um produto essencial. E para quem edita textos em português em um editor sem revisor, o Ortográphos é a solução ideal - mas antes é bom verificar se ele funciona no editor que se pretende usar. Em resumo: nem um nem outro são perfeitos. Mas são eficazes, honestos e, sobretudo, baratos.