Ainda
lembro do dia em que vi a primeira câmara digital. Foi numa
dessas reuniões de internautas. Não sei quem a levou,
mas bem recordo o reboliço que causou. A maravilha passou
de mão em mão fotografando todo mundo e, como que
para confirmar a abertura das portas de uma nova era, naquela
mesma noite exibia na Internet as fotos recém feitas. É
claro que me encantei com a novidade e voltei da próxima
viagem ao exterior acompanhado de um trambolho daqueles.
Chamo-a de trambolho agora porque estou mal acostumado com minhas
câmaras atuais. Aquela era do tamanho de uma velha Rolleyflex
tipo caixote (quem lembra?), não tinha tela para prever
a imagem, sua resolução era ridícula para
os padrões atuais e, não obstante tudo isso, custou-me
os olhos da cara.
É claro que como tudo que é lançado nesse
campo, de lá para cá a qualidade e os preços
tomaram rumos opostos. Hoje em dia compra-se uma câmara
de altíssima definição por uma fração
do que eu paguei pelo meu primeiro brinquedo. Quem se mantém
em dia com o que ocorre no mercado da eletrônica e tecnologia
está acostumado com esse fenômeno e até conta
com ele: os menos afobados até costumam esperar um pouco
após os primeiros lançamentos para comprarem um
produto de ponta a preço justo. Eu mesmo já estou
preparado para isso. Mas pensei que houvesse um limite, digamos,
razoável.
Enganei-me. Porque decididamente não estava preparado para
o lançamento no final de julho passado da Dakota
Digital Single-Use Camera pela maior cadeia de lojas especializadas
em fotografia dos EUA, a Ritz Camera Center. Uma câmara
digital com sensor tipo CMOS, controle automático de exposição,
duas pilhas alcalinas tipo AA (incluídas no preço),
flash automático, temporizador, botão para desfazer
fotos indesejadas (infelizmente somente a última) e capaz
de armazenar 25 fotos em seus 12 MB de memória interna.
Não tem zoom nem visor eletrônico para prever a imagem,
é verdade. Mas tem uma característica que até
agora nenhuma outra câmara digital ousou apresentar: nas
lojas das redes Ritz Camera e sua associada Wolf Camera de Chicago
e outras 14 cidades americanas, incluindo Washington, Atlanta,
Boston, San Francisco e Dallas, custa apenas US$ 10,99. E, imaginem,
é descartável.
O fabricante, a Pure Digital, uma associada da rede Ritz, não
revela a resolução efetiva da máquina mas
informa que, em uma foto impressa no tamanho 20cm x 25cm, a qualidade
é equivalente à de uma câmara de 2 a
3 Megapixels. Nada mau para o preço.
Evidentemente há alguns senões. Como a câmara
usa o formato de proprietário PDIP (de Pure
Digital Image Platform), que só pode ser processado
pelo equipamento da Pure Digital, o usuário não
pode transferir as imagens diretamente para seu micro. Para obter
as fotos, a câmara deve ser enviada aos laboratórios
da Ritz ou Wolf que, ao custo de US$ 11, entrega em uma hora as
25 fotos impressas no formato 10 cm x 15 cm, além de um
CD com as imagens que, agora sim, podem ser exibidas no PC tanto
em grupo quanto ocupando a tela inteira. O programa fornecido
juntamente com o CD permite girar as imagens, acrescentar legendas,
gravá-las no disco rígido, criar uma exibição
de slides, enviá-las por correio eletrônico ou postá-las
na Internet.
Segundo um artigo da BestStuff em
<www.beststuff.com/article.php3?story_id=5495>
o público alvo da nova câmara é o usuário
eventual que quer guardar algumas lembranças de suas férias
de verão (é verão agora no hemisfério
norte), é iniciante na fotografia digital e quer evitar
as atribulações de imprimir as fotos em casa. E
como as vendas de câmaras descartáveis vêm
crescendo cerca de 15% ao ano, resolveram juntar as duas tendências,
lançando uma câmara digital descartável por
pouco mais de dez dólares.
Se alguém me contasse um negócio desses há
cinco anos, eu diria que era doido...
B.
Piropo