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B. Piropo

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07/01/2002

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Artigo publicado em O Globo no dia 07 de janeiro de 2002

Há cerca de um ano o mote na fábrica da EMC de Hopkinton, nas cercanias de Boston, era capacidade, rapidez e potência para armazenar dados em quantidades cada vez maiores. Hoje é eficiência, gerenciamento e automação para armazenar dados a custos cada vez menores. A mudança é um reflexo da superposição de duas catástrofes: a crise da economia americana e as ações terroristas de 11 de setembro.

A EMC ainda é a líder no armazenamento de dados em rede (NIS, de Network Information Storage) onde detém 39% do mercado com seus sistemas Symmetrix (conjuntos de discos rígidos, memória e software de controle com capacidades de até 80 Tb). E é a campeã no quesito segurança com o SRDF (Symmetrix Remote Data Facility), dois sistemas Symmetrix redundantes, interconectados, sincronizados e controlados por um software que faz com que o sistema “espelho” assuma imediatamente as funções do sistema base caso seu funcionamento seja interrompido (há mais de 11.000 SRDF em todo o mundo dos quais 27 estavam nas torres gêmeas; consta que 26 deles preservaram integralmente seus dados – o único que falhou estava espelhado na segunda torre). Porém os efeitos da crise e do atentado fizeram as vendas caírem dos 12 bilhões de dólares esperados em 2000 para pouco mais de oito bilhões e as ações, que ainda mantém o recorde de melhor desempenho em uma década de toda a história da bolsa de valores de Nova Iorque (NYSE), desabarem de 100 para 12.

Mas a crise, ao invés de abater, renovou o ânimo da EMC, que enfrentou a batalha em duas frentes. Na interna, reestruturou-se administrativamente, reduzindo seu quadro a apenas 19 mil empregados em todo o mundo, dispensando quatro mil. Na externa, mudou a estratégia para suprir a nova demanda do mercado, que mantém a ênfase na segurança dos dados mas agora dá mais importância à economia que à capacidade e potência.

Segundo Mike Ruettgers, Chairman da EMC, o atentado ao WTC teve efeitos colaterais insuspeitados. Um bom exemplo foram as interdições de prédios por suspeita de contaminação por antraz: levar pessoal para operar e manter os sistemas ali instalados não fazia parte dos piores cenários engendrados pelos especialistas em segurança. Na verdade, diz Ruettgers, a própria percepção do que seriam atividades críticas mudou. Uma das empresas afetadas pela tragédia informou que a atividade cuja interrupção mais prejudicou o fluxo de trabalho da firma foi o correio eletrônico. E outra deve seus dados a um novo herói: Ron Breuche, um técnico da EMC, surpreendido pela tragédia quando fazia uma inspeção de rotina em um CPD remoto, que passou dois dias e meio nos porões de um dos prédios vizinhos ao WTC, sozinho, operando um aparelho portátil de ar condicionado que impediu o colapso dos sistemas por superaquecimento. Tudo o mais funcionava, desde a energia até a comunicação com o mundo exterior, mas o ar condicionado central entrou em pane devido à poeira que obstruiu os trocadores de calor. E ninguém havia pensado nele como atividade crítica.

Segundo Ruettgers, as preocupações das empresas agora estão voltadas para a continuidade das operações. Em caso de desastre a ênfase mudou de “recuperação de dados” para “restabelecimento das operações” e os planos de ação em emergências agora levam em conta a dificuldade de movimentar pessoal nos cenários das tragédias. E a EMC passou a desenvolver produtos de acordo com os novos tempos. Como o AutoIS (Automated Information Storage), um sistema de gerenciamento de armazenamento de dados que reduz drasticamente o pessoal automatizando praticamente toda a administração dos sistemas e o Time Finder, um software que usa o tempo ocioso para executar automaticamente operações de rotina que antes exigiam intervenção humana. São bons exemplos daquilo que a EMC considera sua nova missão: gerar faturamento. 

O esforço, ao que parece, vem sendo recompensado. Analistas estimam que os dois próximos anos devem ser duros. Mas  a empresa Morgan Stanley prevê um faturamento entre 7,4 e 11 bilhões de dólares para a EMC já em 2004. Afinal, a geração de informações continua crescendo 50% ao ano e cedo ou tarde as empresas irão precisar de um lugar para guardá-las.

B. Piropo