Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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23/05/2005

< Chips RFID em humanos >


Primeiro de abril de 2002 caiu em uma segunda-feira. Quando isso ocorre, escrevo um “artigo de primeiro de abril” versando sobre uma tecnologia inexistente que beira o absurdo. O de 2002, ainda disponível na seção “Escritos” de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >, descrevia um suposto dispositivo anti-seqüestro utilizado por alguns executivos paulistas baseado na implantação subcutânea de microchips   emissores de radiofreqüência para identificação (RFID, Radio Frequency Identification), até então usados para identificar animais. Deixei algumas pistas, é claro. O dispositivo chamava-se Atorol, presumivelmente o acrônimo de Atomic Robot Link, mas na verdade “lorota” lido ao revés. Seu primeiro usuário seria um executivo nissei chamado O. Irato, os inventores eram o cientista tcheco Lirba Edor Iemirp e sua companheira romena Ana Casamu. Ainda assim o sítio de um conhecido jornal paulista, sem citar a fonte, divulgou a notícia como verdadeira por alguns dias até se dar conta do ridículo a que se expunha. Usar chips RFID em humanos, naqueles dias, era só uma brincadeira de primeiro de abril.

Pois ao que parece as coisas mudaram. A empresa Alanco Technologies Inc, de Scottsdale, Arizona, EUA, anunciou no mês passado que está desenvolvendo a tecnologia denominada “PRISM Inmate tracking” para acompanhar a movimentação de internos em estabelecimentos prisionais (veja o artigo em < www.alanco.com/releases/040605.asp >). O projeto piloto foi desenvolvido em uma prisão européia e se baseia em um sistema de transmissão sem fio que usa a freqüência de 2,4 GHz, aprovada na Europa, em vez dos 900 MHz usuais nos EUA.

Mas a coisa não ficou na experiência européia. Ao contrário: baseada nela, a Alanco foi contratada pela polícia do condado de Los Angeles, Califórnia, EUA (Los Angeles County Sheriff’s Department, LASD) para implementar um projeto semelhante, em estágios. O primeiro estágio já começou e será implantado inicialmente nos mil e oitocentos internos da prisão East Pitchess, cidade de Castaic. Se bem sucedido, será estendido para todos os dezoito mil prisioneiros dos estabelecimentos sob a responsabilidade do LASD.

O sistema consiste em chips RFID instalados em dispositivos tipo braceletes firmemente presos aos pulsos dos prisioneiros e uma rede de antenas que captam permanentemente a localização de cada prisioneiro no interior do estabelecimento e a registram em um banco de dados também administrado pelo sistema. A idéia é implementá-lo em toda a rede de prisões da Califórnia e usá-lo para controlar a movimentação de internos entre estabelecimentos.

Mas o principal objetivo será aumentar a segurança. Segundo informações da Alanco, a violência nos estabelecimentos prisionais vem aumentando significativamente nos últimos anos. Somente em 2004 houve 1.330 agressões entre internos que causaram a morte de cinco deles e ferimentos em 1.742. Além de resultarem em 88 funcionários feridos. O acompanhamento da movimentação dos prisioneiros e a possibilidade de identificar quem estava presente nos locais dos incidentes deverá, segundo a Alanco, reduzir significativamente o nível de violência.

Em suma: o emprego de chips RFID para localizar humanos, que há três anos eu citava como brincadeira, já é realidade.

Começou com prisioneiros na Califórnia. Onde e como vai acabar, só Deus sabe...

B. Piropo