Costumo
abrir minhas palestras sobre evolução
da tecnologia lembrando que, quando se discute o
futuro, a palavra chave é “conexão”.
E enfatizando que dentro de algum tempo, com ou
sem o uso de fios, tudo estará conectado
a tudo, de computadores a geladeiras, de televisões
a máquinas de lavar, de automóveis
a telefones celulares, de micros de mão a
vasos sanitários. E essa conexão universal
se dará em altíssimas taxas de transmissão
de dados, a custos baixíssimos e em escala
planetária. Geralmente a platéia reage,
se não com ceticismo, pelo menos com a postura
de quem está diante de um evidente exagero.
Lamento informar que a) não há exagero
algum; b) o fenômeno não apenas já
começou como está em um estágio
razoavelmente avançado e, finalmente: c)
nem tudo que ele traz são benefícios.
Muito pelo contrário.
Para início de conversa, a comunicação
móvel, que começou com os telefones
celulares há pouco mais de uma década,
já não é mais a mesma. Hoje,
ela está integrada a dispositivos que, por
falta de nome melhor, ainda são chamados
de “telefones” (meramente porque entre
as muitas formas de comunicação que
ensejam, permitem que seus usuários se comuniquem
por voz), mas que trocam e armazenam dados e imagens,
muitas delas capturadas pelo próprio dispositivo,
os já banais “celulares que tiram e
transmitem fotos”. E que acessam a Internet.
É claro que muita coisa boa pode advir disso.
Tantas e tão evidentes que não nos
deteremos em sua análise. Mesmo porque não
é preciso: as empresas que oferecem os atuais
e oferecerão os futuros serviços se
encarregarão de inundar os meios de comunicação
com propaganda relatando como eles mudarão
sua vida para melhor. Mas dificilmente mencionarão
as mudanças para pior. E, acreditem, elas
virão.
Imagine um dispositivo desses, tipo “pré-pago”,
que não identifica o usuário ou responsável,
com acesso à Internet via tecnologia 3G ou
GPRS (já disponível em alguns países),
nas mãos de um pedófilo. Imagine um
monte de outros dispositivos similares, desses que
exibem imagens e tiram fotos, nas mãos de
crianças ou adolescentes ingênuas.
Deu para perceber o enorme impulso que isso pode
representar para a indústria mundial de pornografia
infantil? Se não deu, leia o relatório
“Child abuse, child pornography and the Internet”,
da NCH, uma das mais sérias e atuantes instituições
inglesas de proteção à criança,
em <www.nchafc.org.uk/page.asp?auto=697>.
Onde você verá que a preocupação
não se restringe à produção
e distribuição de material pornográfico,
mas também ao acesso. Como impedir que menores
de idade visitem sítios com conteúdo
adulto? A NCH vem alertando aos provedores de acesso
a dispositivos sem fio sobre esses riscos e solicitando
que eles instalem, em dispositivos registrados em
nome de menores, software para bloquear acesso a
sítios pornográficos. Mas a eficácia
desta medida é no mínimo duvidosa.
Se você não está nem aí
para pedofilia e se preocupa mais com seu conforto
pessoal que com os rumos da sociedade, talvez esteja
dando de ombros, achando que nada disso é
problema seu. Mas já ouviu falar nos “Location-based
services”? Se não, consulte a página
<www.mobilein.com/location_based_services.htm>
da MobileIN.Com, um sítio voltado para profissionais
da comunicação sem fio. E descubra
que seu telefone celular atual já permite
traçar seus caminhos sobre a face deste cada
vez mais exíguo planeta com relativa precisão
e os aparelhos futuros permitirão elevar
essa precisão consideravelmente. E já
há empresas oferecendo serviços baseados
na sua localização (sim, você
adivinhou, os tais “Location-based services”).
É claro que isso pode trazer vantagens: a
possibilidade das autoridades policiais localizarem
com precisão a origem de um pedido de socorro
emitido por um desses aparelhos é apenas
uma delas. A possibilidade de seu telefone celular
(ou seja lá que tipo de dispositivo portátil
você estiver usando na ocasião) emitir
um lembrete informando que a loja em frente à
qual você está passando oferece uma
promoção é outra, muito menos
entusiástica. Mas a possibilidade de que
seu chefe (ou a sua mulher, marido, namorado/a)
possa acompanhar suas andanças o dia todo
com precisão aproximadamente igual a, digamos
apenas à guisa de exemplo, o diâmetro
de uma cama redonda dessas de motel, essa é
de dar calafrios.
Não é à toa que a Bell Laboratories
acaba de anunciar (veja artigo de John Blau em <www.pcworld.com/news/article/0,aid,114372,tk,dnWknd,00.asp>)
o lançamento de um novo software, conhecido
pelo revelador codinome de “Houdini”,
que permite controlar e até mesmo desativar
completamente esse tipo de serviço.
Sai pra lá, tecnologia...