Sítio do Piropo

B. Piropo

O Globo
Volte
23/08/1999

COMDEX SP 99


Semana passada, ao anunciarmos a COMDEX, previmos uma disputa entre a Intel e a AMD pela liderança na liça dos microprocessadores para a linha PC. Pois a AMD ganhou com o pé nas costas. Porque o Pentium III 600 da Intel é realmente uma beleza, mas não passa de um Pentium III mais rápido. Já o chip da AMD é inteiramente novo. Tanto, que a AMD decidiu abandonar a linha "K" e batizou seu microprocessador de "Athlon". Segundo o Gerente Geral da AMD para a América do Sul, Celso Previdelli, pesquisas de mercado indicaram que o usuário associava o prefixo "K" a qualidade e baixo preço, mas não à liderança tecnológica. E o Athlon não poderia chamar-se "K7", como o mercado esperava, já que veio exatamente para ocupar esta liderança. E parece que ocupou mesmo...

O chip é um foguete. Em seu estande a AMD montou duas máquinas idênticas, com configuração rigorosamente igual, uma delas equipada com um Athlon 550 e a outra com um Pentium III 550 (o mais rápido disponível na ocasião) e nelas rodou simultaneamente a mesma suite de testes de desempenho. A cada rodada o Athlon mostrava um desempenho mais de dez porcento superior. E note que enquanto o Pentium III mais rápido disponível é o 600, a AMD já colocou no mercado (por enquanto apenas para os fabricantes OEM) a versão de 650 MHz de seu Athlon. Não há dúvida: pela primeira vez em muitos anos o chip de melhor desempenho para a linha PC não ostenta o logo da Intel.

Para conseguir isto a AMD mudou significativamente a microarquitetura de seu processador. Essencialmente, o Athlon é um chip RISC (as instruções complexas são decodificadas antes de serem oferecidas a ele) fabricado com tecnologia de 0,25 mícron, contendo 22 milhões de transistores, que adota uma arquitetura superescalar de nove "pipelines", três deles dedicadas apenas a cálculos de endereços, três a cálculos de números inteiros e três a cálculos de números com ponto flutuante. Seu cache interno de 128K (quatro vezes maior que o do Pentium III) opera na mesma freqüência do processador, enquanto o cache externo L2, montado no mesmo cartucho, opera na metade desta freqüência e por enquanto, como o Pentium III, tem apenas 512K. Mas o projeto foi concebido para estendê-lo até 8 Mb, o que praticamente liquida com o conceito de "tri level cache" da própria AMD, já que com 8Mb de cache L2 dificilmente alguém irá desejar um cache L3 na placa-mãe, mais lento já que roda na freqüência do barramento frontal – que, por sinal, é de 200MHz, o dobro do usado pelo Pentium III. Em suma: chip para ganhar a briga a AMD já tem. Falta agora melhorar sua estratégia de distribuição e fabricação, facilitando ao usuário final o acesso a seus produtos e convencer aos fabricantes de placa-mãe a produzir placas para o Athlon, já que seu encapsulamento é diferente, exige um chipset próprio (a AMD oferece o seu, o AMD-750) e não é compatível com nenhum outro modelo, seja da Intel, seja da própria AMD.

Não muito longe da AMD, a National exibia seu WebPad. Um tablete mais ou menos do tamanho de um livro, com uma tela colorida de cristal líquido. Toque nela com um estilete e navegue na Internet como se estivesse no seu micro. Com um detalhe: o WebPad não tem fio e conecta-se através de radiofreqüência emitida por uma estação base. Segundo Steve Tobak, Vice Presidente da National, o WebPad é apenas um dos muitos dispositivos de comunicação e entretenimento que brevemente invadirão o mercado. E a National está preparada para abocanhar seu naco com o Geode GLXV. Lembra-se do Midia GX da Cyrix, que foi vendida recentemente pela National? Pois trata-se dele mesmo, que a National não incluiu na transação, com nova roupagem e adaptado às novas necessidades. Segundo meu bom amigo Abel Alves, a National vendeu o osso mas ficou com o filé.

Mas nem só de CPUs vive a COMDEX. O estande da Samsung congestionou em torno de três produtos: Voice Pen, Yepp e monitores de cristal líquido. O Yepp é a resposta da Samsung ao Rio, da Diamond: um gravador/reprodutor de MP3 com 32Mb de memória, microfone embutido que grava 64 minutos de música codificada no formato MP3 e pesa pouco mais de 70 gramas. A Voice Pen é uma estranha caneta que não escreve mas grava e reproduz som. Cumpre as funções básicas daqueles pequenos gravadores com que os repórteres de rádio costumam agredir o nariz dos entrevistados e ganhou o nome devido ao formato, que imita uma caneta. E os monitores de cristal líquido de 15, 17 e 18 polegadas são um sonho de consumo, com suas cores vibrantes e magnífica definição. A turma se juntava, olhava e, ao saber o preço, chorava um pouco e ia embora: Yepp a US$ 350, Voice Pen a US$ 150 e o monitor de 18 polegadas a US$ 8.800.

Tinha mais, naturalmente. A Microsoft deu as últimas notícias sobre o andamento de seu Windows 2000 na palavra de Edmund Muth, Diretor da Divisão de Negócios da MS. Que confirmou o lançamento para ainda este ano. Como prova, distribuiu a primeira versão beta de Windows 2000 com status de "release candidate". E é bom que a MS se apresse mesmo: logo ao lado, o Pavilhão Linux fervilhava de gente interessada. Alguns, informando que ali estavam motivados, quem diria, pela própria MS, que com sua campanha anti-pirataria está empurrando a turma para uma alternativa viável, segura, estável e mais barata. Segundo eles, essa alternativa é o Linux. Fiquei tão bem impressionado com o que vi rodando por lá (e com a convincente evangelização a que fui submetido pelo competente Maruen Ghadieh, da Conectiva) que, mesmo gato escaldado pelo OS/2, decidi a tomar um banho na água fria do Linux e pretendo instalá-lo breve. E por falar em sistemas operacionais, sempre é bom lembrar do velho DOS. Por isto a Data Safe estava lá, com o DR DOS 7.0, devidamente adaptado para o ano 2000, uma solução mais que decente para quem só precisa rodar programas DOS e não quer instalar uma interface gráfica.

Além dos sistemas, tinha de tudo. A PowerQuest dava uma impressionante demonstração de seus programas de segurança, permitindo que o visitante fizesse qualquer desgraça com duas máquinas clientes (eu particionei o drive C de uma delas e criei uma partição defeituosa) para fazer ambas retornarem ao estado original em minutos a partir da imagem armazenada no servidor. A DTS Software, além de seus produtos da linha DIC, agora comercializados pela Amigo Mouse, cadastrava desenvolvedores para receber seu Catálogo DTS, uma revista dirigida a programadores de distribuição gratuita. E havia as curiosidades de praxe. Como o EZPiano, distribuído pela Impat Eletrônica, um teclado de face dupla. De um lado, teclado mesmo: com todas as teclas, de A a Z, como esse que está na frente de seu computador. Emborque-o, e do outro lado aparece outro teclado. Teclado mesmo, com todas as teclas, de dó a si, como este que está na frente de seu piano. O teclado vem com um software auxiliar que permite tocar música no seu micro como se fosse em um piano. Esse pessoal inventa cada uma...

B. Piropo