Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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26/04/2004

< Chocólatras >


Segurança da informação é mais que um simples tópico de conversação: é um importante ramo do conhecimento. Há centenas de livros publicados sobre o assunto, milhares de artigos técnicos, dezenas de milhares de teses e monografias. Todos discutindo aspectos altamente complexos como implementações de criptografia, firewalls, o diabo. Ocorre que nenhuma cadeia é mais forte que seu elo mais fraco. E, no caso da segurança da informação, qual seria o elo mais fraco?
Amanhã, no Grand Hall Olympia, Londres, começa a Infosecurity Europe 2004, nona edição do mais importante evento sobre segurança da informação da Europa que se estenderá até a próxima quinta-feira e espera receber dez mil participantes para assistir mais de 65 seminários e palestras e visitar cerca de 250 estandes de empresas especializadas no assunto (saiba mais em <www.infosec.co.uk/>).
Entre os preparativos para o evento, seus organizadores efetuaram uma pesquisa sobre segurança cujos resultados foram divulgados semana passada. Uma idéia simples, porém criativa: um grupo de pesquisadores abordava transeuntes, perguntava se eram empregados de escritório com acesso à rede corporativa de suas empresas e, caso positivo, indagava se estariam dispostos a participar de uma pesquisa. A primeira pergunta feita aos que acederam foi se forneceriam sua senha em troca de uma barra de chocolate.
Foram entrevistados 172 passageiros que transitavam pela estação Liverpool Street do metrô de Londres. Surpreendentemente, 37% aquiesceram sem mais delongas, forneceram a senha imediatamente e fizeram jus a seu chocolate. Já 34% hesitaram, mas foram persuadidos a ceder diante do convincente argumento dos pesquisadores que “provavelmente seria o nome de seu animal de estimação ou de seu filho”. No total, 71% (quase três entre cada quatro entrevistados) forneceram a senha. Alguns explicaram como ela foi gerada: o nome do clube de futebol pelo qual torciam, a marca de seu carro ou o nome de um parente ou amigo (a maioria). A senha mais comum foi “admin”. Um entrevistado, que tinha acesso a um sistema que o obrigava a alterar a senha mensalmente, declarou que no início isso o incomodava, mas acabou por engendrar um método mnemônico à prova de falhas: usava sempre o nome da mulher seguido dos dois dígitos correspondentes ao mês corrente. Algo tão infalível quanto inseguro...
Em média cada entrevistado usava quatro senhas em suas atividades diárias (um dos entrevistados, administrador de sistema, era obrigado a manter quarenta delas). A maioria deplorou a enfadonha obrigação de decorar tantas e mostrou clara preferência por métodos biométricos de autenticação de usuário, como impressões digitais e formato da mão ou ainda o uso de cartões de identificação inteligentes (“smart cards”). Mas todos concordaram com o fato de que ter que decorar senhas era uma obrigação desagradável e tediosa.
Nessa altura dos acontecimentos, será que ainda é preciso explicitar qual é o elo mais fraco da corrente de segurança corporativa de dados?
Ou é o elemento humano ou a maioria dos entrevistados de Londres era composta por chocólatras...

B. Piropo