Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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17/03/2003

< Centrino >


Na quarta-feira da semana passada a poderosa Intel lançou mundialmente o Centrino. Quem está habituado aos lançamentos da Intel vai achar esse estranho. Ou, pelo menos, fora dos parâmetros habituais. Porque geralmente a Intel lança produtos. Mas Centrino não é algo concreto. Segundo a Intel, é uma marca que dá nome a uma tecnologia. Eu diria que é mais que isso: Centrino é um conceito. Uma coisa abstrata, mas perfeitamente definida.
Antes de seguir adiante e explicar exatamente do que se trata, vamos examinar rapidamente as razões que levaram a Intel a criar o Centrino. Um estudo da Informa Media dá conta que o número de usuários de Internet rápida hoje em dia atinge a 40 milhões em todo o planeta e até 2007 deverão ser mais de 220 milhões. Já a TeleAnalytics informa que já existem cerca de 15 mil pontos públicos de acesso à rede sem fio em todo o mundo e em 2006 serão 300 mil. Ora, com base nesses dados, não é difícil concluir que a demanda de serviços de conexão sem fio de dispositivos móveis à Internet rápida irá explodir muito em breve.
Para suprir essa demanda é preciso criar um micro portátil, tipo notebook ou tablet, suficientemente leve para ser comodamente transportado de ponto de acesso a ponto de acesso, com um microprocessador poderoso o bastante para receber e processar o enorme fluxo de dados da Internet rápida, que já venha de fábrica com um dispositivo que permita acesso fácil e direto à redes sem fio e, sobretudo, com recursos que prolonguem a duração da carga da bateria até um nível razoável. Resumindo: o bichinho deve atender simultaneamente a quatro requisitos básicos: pouco peso, alto desempenho, acesso à rede sem fio e longa duração da bateria. Como alguns deles são claramente conflitantes, não é difícil avaliar a dificuldade da missão.
Pois Centrino é a resposta da Intel a esse desafio. Para exibir o logotipo da marca, o micro portátil deve satisfazer a três condições: seu microprocessador deve ser o novo Pentium M, a placa controladora Intel PRO/Wireless deve estar espetada em sua placa-mãe e tudo isso deve ser regido pelo novo conjunto de circuitos de controle (“chipset”) Intel 855, os três pilares sobre os quais se apóia a tecnologia Centrino. Examinemos cada um deles e vejamos como contribuem para atender a condições aparentemente irreconciliáveis.
O acesso á rede sem fio é garantido pelo módulo Intel PRO/Wireless 2100 Network Connection, concebido para conectar-se a redes sem fio padrão WiFi (802.11b) mas que em breve poderá conectar-se também a redes padrão 802.11a. Ele virá acompanhado do software Intel PROSet, que detecta o padrão da rede e configura-se de acordo, sem interferência do usuário. O módulo é ligado a duas antenas independentes e detecta dinamicamente qual delas está recebendo o sinal mais forte, comutando a recepção para ela. E, caso você decida alternar para uma conexão convencional cabeada, basta encaixar o conector na placa de rede do micro que o módulo PRO/Wireless imediatamente recolhe-se à sua insignificância, desliga-se para reduzir o consumo de energia e o acesso passa a ser feito pelo cabo. Mas a característica mais interessante do PRO/Wireless é sua capacidade de variar a potência de saída em função da temperatura para ajudar a reduzir o consumo de energia.
Mas talvez o principal responsável por esta redução seja o chipset Intel 855. Ele é fornecido em dois sabores: 855GM, com um processador gráfico Intel Extreme Graphics 2 integrado, e 855PM, com suporte a controladora de vídeo AGP 4x. Ambos suportam USB 2.0 e dispõem de um barramento frontal operando a 400 MHz que se conecta a uma controladora de memória DDR 266 que gerencia até 2 Gb de RAM. Mas sua característica mais interessante é a adoção das tecnologias Enhanced SpeedStep, capaz de ajustar a tensão e freqüência da CPU em seis diferentes patamares, dependendo da demanda do sistema, e Deeper Sleep Alert State, que virtualmente desliga a CPU quando detecta alguma inatividade. A idéia não é nova, mas esta implementação é capaz de detectar períodos de inatividade tão curtos quanto o intervalo entre o acionamento de teclas sucessivas enquanto se está digitando um texto.
Finalmente o elemento central, o microprocessador Pentium M, o pilar mais importante da tecnologia Centrino. Ele não é, como se supunha, uma evolução do Pentium 4, mas um microprocessador inteiramente novo, concebido desde o início para cumprir com as exigências da tecnologia Centrino. Tanto assim que ostenta um impressionante número de transistores em um chip do tamanho da unha de um polegar: 77 milhões (o Pentium 4 tem 55 milhões).
Para combinar um alto desempenho com um baixíssimo consumo de energia a Intel apelou para recursos inéditos. Alguns deles são óbvios: redução da tensão de alimentação (que agora varia de 1,48 Volts no modelo Standard até míseros 0,85 Volts no modelo Ultra Low Voltage) e da freqüência de operação (que vai dos 900 MHz do modelo mais lento e de tensão mais baixa até 1,6 GHz, o mas rápido dos modelos Standard). É claro que comparados com os 3.06 GHz o topo da linha Pentium parece pouco. Mas, afinal, quem precisa de 3 GHz? Para um micro voltado para os objetivos básicos da linha Centrino, computação móvel e acesso sem fio à Internet rápida, 1,6 GHz são mais que suficientes.
Em sua busca de desempenho com baixo consumo, a Intel alterou substancialmente a própria arquitetura interna do microprocessador. O recurso de “branch prediction” (que permite aos microprocessadores multilineares e capazes de execução fora de ordem “adivinhar” os desvios da rotina de programação para economizar tempo e energia) foi aperfeiçoado e o número de erros das “adivinhações” foi reduzido em vinte porcento. Algumas microoperações foram fundidas (em um aparente movimento de retorno ao modelo CISC, mas aceitável pela economia de energia que proporciona). Um gerenciador da pilha foi implementado no próprio hardware do microprocessador, evitando chamadas às instruções de gerenciamento de pilha. E as instruções da segunda geração da SSE (Streaming SIMD Extensions) foram incorporadas ao chip. Tudo isso, mais um inédito cache L2 de um megabyte, faz com que um Pentium M de apenas 1,6 GHz consiga um desempenho treze porcento superior a um Pentium 4 de 2,4 GHz quando submetido ao teste de bancada WebMark 2001. E com um consumo de energia ridiculamente baixo.
Ridiculamente é a palavra correta: nos tempos em que os microprocessadores de alto desempenho chegam a consumir potências da ordem de 80 Watts e exigem amplos dissipadores de calor dotados de poderosas ventoinhas, o consumo médio de um Pentium M é da ordem de apenas um Watt e o consumo máximo do representante mais poderoso da linha (o Standard de 1,6GHz alimentado com 1,48 Volts) jamais ultrapassará os 24,5 watts, o que permite sua instalação simplesmente encaixando-o no mesmo soquete de 478 pinos do Pentium 4 (modificado para não permitir a inserção do microprocessador na placa-mãe errada), dispensando ventoinha e dissipador de calor.
Resultado? Segundo a Intel, a tecnologia Centrino permitirá produzir micros portáteis poderosos, esbeltos, mais leves do que tudo que já se viu até agora, com acesso sem fio à Internet rápida integrado e com consumo de energia tão baixo que, em condições normais de funcionamento, estende a duração da carga das baterias para além das cinco horas.
É esperar para ver.

B. Piropo