Na
quarta-feira da semana passada a poderosa Intel lançou
mundialmente o Centrino. Quem está habituado aos lançamentos
da Intel vai achar esse estranho. Ou, pelo menos, fora dos parâmetros
habituais. Porque geralmente a Intel lança produtos. Mas
Centrino não é algo concreto. Segundo a Intel, é
uma marca que dá nome a uma tecnologia. Eu diria que é
mais que isso: Centrino é um conceito. Uma coisa abstrata,
mas perfeitamente definida.
Antes de seguir adiante e explicar exatamente do que se trata,
vamos examinar rapidamente as razões que levaram a Intel
a criar o Centrino. Um estudo da Informa Media dá conta
que o número de usuários de Internet rápida
hoje em dia atinge a 40 milhões em todo o planeta e até
2007 deverão ser mais de 220 milhões. Já
a TeleAnalytics informa que já existem cerca de 15 mil
pontos públicos de acesso à rede sem fio em todo
o mundo e em 2006 serão 300 mil. Ora, com base nesses dados,
não é difícil concluir que a demanda de serviços
de conexão sem fio de dispositivos móveis à
Internet rápida irá explodir muito em breve.
Para suprir essa demanda é preciso criar um micro portátil,
tipo notebook ou tablet, suficientemente leve para ser comodamente
transportado de ponto de acesso a ponto de acesso, com um microprocessador
poderoso o bastante para receber e processar o enorme fluxo de
dados da Internet rápida, que já venha de fábrica
com um dispositivo que permita acesso fácil e direto à
redes sem fio e, sobretudo, com recursos que prolonguem a duração
da carga da bateria até um nível razoável.
Resumindo: o bichinho deve atender simultaneamente a quatro requisitos
básicos: pouco peso, alto desempenho, acesso à rede
sem fio e longa duração da bateria. Como alguns
deles são claramente conflitantes, não é
difícil avaliar a dificuldade da missão.
Pois Centrino é a resposta da Intel a esse desafio. Para
exibir o logotipo da marca, o micro portátil deve satisfazer
a três condições: seu microprocessador deve
ser o novo Pentium M, a placa controladora Intel PRO/Wireless
deve estar espetada em sua placa-mãe e tudo isso deve ser
regido pelo novo conjunto de circuitos de controle (chipset)
Intel 855, os três pilares sobre os quais se apóia
a tecnologia Centrino. Examinemos cada um deles e vejamos como
contribuem para atender a condições aparentemente
irreconciliáveis.
O acesso á rede sem fio é garantido pelo módulo
Intel PRO/Wireless 2100 Network Connection, concebido para conectar-se
a redes sem fio padrão WiFi (802.11b) mas que em breve
poderá conectar-se também a redes padrão
802.11a. Ele virá acompanhado do software Intel PROSet,
que detecta o padrão da rede e configura-se de acordo,
sem interferência do usuário. O módulo é
ligado a duas antenas independentes e detecta dinamicamente qual
delas está recebendo o sinal mais forte, comutando a recepção
para ela. E, caso você decida alternar para uma conexão
convencional cabeada, basta encaixar o conector na placa de rede
do micro que o módulo PRO/Wireless imediatamente recolhe-se
à sua insignificância, desliga-se para reduzir o
consumo de energia e o acesso passa a ser feito pelo cabo. Mas
a característica mais interessante do PRO/Wireless é
sua capacidade de variar a potência de saída em função
da temperatura para ajudar a reduzir o consumo de energia.
Mas talvez o principal responsável por esta redução
seja o chipset Intel 855. Ele é fornecido em dois sabores:
855GM, com um processador gráfico Intel Extreme Graphics
2 integrado, e 855PM, com suporte a controladora de vídeo
AGP 4x. Ambos suportam USB 2.0 e dispõem de um barramento
frontal operando a 400 MHz que se conecta a uma controladora de
memória DDR 266 que gerencia até 2 Gb de RAM. Mas
sua característica mais interessante é a adoção
das tecnologias Enhanced SpeedStep, capaz de ajustar a tensão
e freqüência da CPU em seis diferentes patamares, dependendo
da demanda do sistema, e Deeper Sleep Alert State, que virtualmente
desliga a CPU quando detecta alguma inatividade. A idéia
não é nova, mas esta implementação
é capaz de detectar períodos de inatividade tão
curtos quanto o intervalo entre o acionamento de teclas sucessivas
enquanto se está digitando um texto.
Finalmente o elemento central, o microprocessador Pentium M, o
pilar mais importante da tecnologia Centrino. Ele não é,
como se supunha, uma evolução do Pentium 4, mas
um microprocessador inteiramente novo, concebido desde o início
para cumprir com as exigências da tecnologia Centrino. Tanto
assim que ostenta um impressionante número de transistores
em um chip do tamanho da unha de um polegar: 77 milhões
(o Pentium 4 tem 55 milhões).
Para combinar um alto desempenho com um baixíssimo consumo
de energia a Intel apelou para recursos inéditos. Alguns
deles são óbvios: redução da tensão
de alimentação (que agora varia de 1,48 Volts no
modelo Standard até míseros 0,85 Volts no modelo
Ultra Low Voltage) e da freqüência de operação
(que vai dos 900 MHz do modelo mais lento e de tensão mais
baixa até 1,6 GHz, o mas rápido dos modelos Standard).
É claro que comparados com os 3.06 GHz o topo da linha
Pentium parece pouco. Mas, afinal, quem precisa de 3 GHz? Para
um micro voltado para os objetivos básicos da linha Centrino,
computação móvel e acesso sem fio à
Internet rápida, 1,6 GHz são mais que suficientes.
Em sua busca de desempenho com baixo consumo, a Intel alterou
substancialmente a própria arquitetura interna do microprocessador.
O recurso de branch prediction (que permite aos microprocessadores
multilineares e capazes de execução fora de ordem
adivinhar os desvios da rotina de programação
para economizar tempo e energia) foi aperfeiçoado e o número
de erros das adivinhações foi reduzido
em vinte porcento. Algumas microoperações foram
fundidas (em um aparente movimento de retorno ao modelo CISC,
mas aceitável pela economia de energia que proporciona).
Um gerenciador da pilha foi implementado no próprio hardware
do microprocessador, evitando chamadas às instruções
de gerenciamento de pilha. E as instruções da segunda
geração da SSE (Streaming SIMD Extensions) foram
incorporadas ao chip. Tudo isso, mais um inédito cache
L2 de um megabyte, faz com que um Pentium M de apenas 1,6 GHz
consiga um desempenho treze porcento superior a um Pentium 4 de
2,4 GHz quando submetido ao teste de bancada WebMark 2001. E com
um consumo de energia ridiculamente baixo.
Ridiculamente é a palavra correta: nos tempos em que os
microprocessadores de alto desempenho chegam a consumir potências
da ordem de 80 Watts e exigem amplos dissipadores de calor dotados
de poderosas ventoinhas, o consumo médio de um Pentium
M é da ordem de apenas um Watt e o consumo máximo
do representante mais poderoso da linha (o Standard de 1,6GHz
alimentado com 1,48 Volts) jamais ultrapassará os 24,5
watts, o que permite sua instalação simplesmente
encaixando-o no mesmo soquete de 478 pinos do Pentium 4 (modificado
para não permitir a inserção do microprocessador
na placa-mãe errada), dispensando ventoinha e dissipador
de calor.
Resultado? Segundo a Intel, a tecnologia Centrino permitirá
produzir micros portáteis poderosos, esbeltos, mais leves
do que tudo que já se viu até agora, com acesso
sem fio à Internet rápida integrado e com consumo
de energia tão baixo que, em condições normais
de funcionamento, estende a duração da carga das
baterias para além das cinco horas.
É esperar para ver.
B.
Piropo