Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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08/07/2002

< Um bilhão de PCs >


Reza a lenda (ou a história, que tantas vezes se confundem) que nos idos de 1981, quando a IBM lançou seu primeiro PC, os estudos mercadológicos então realizados indicavam que havia um mercado potencial para absorver 25 milhões de unidades. Note que isto não era uma estimativa de vendas mensais ou anuais, era o total das vendas. Ou seja: de acordo com os homens da IBM, acostumados a comercializar máquinas de grande porte, o mundo estava preparado para consumir 25 milhões de computadores pessoais.

Semana passada o grupo Gartner Dataquest divulgou que, segundo suas estimativas, em abril deste ano a indústria de informática vendeu seu bilionésimo PC (ver artigo em <www.channelbusiness.com/articles/newsroom-open.asp?node=1%20&ArticleID=7718>). Ou seja: até o momento as estimativas da IBM erraram por novecentos e setenta e cinco milhões de unidades. E o erro tende a crescer, como já veremos.

É verdade que esse bilhão não corresponde apenas às máquinas IBM equipadas com CPUs Intel, mas à soma de todos os computadores pessoais, de mesa e portáteis, fabricados por toda a indústria de computadores e microprocessadores. Pois o primeiro PC a ser comercializado não foi sequer um IBM, mas sim o Altair, da MITS, lançado em janeiro de 1975 em um histórico artigo da “Popular Electronics” e considerado pela maioria dos historiadores da informática como o “primeiro PC”. Título, aliás, contestado em um interessante artigo do Blinkenlights Archaeological Institute, em <www.blinkenlights.com/pc.shtml>, que vale conferir se não pelo conteúdo, ao menos pelas curiosíssimas fotos de computadores da era do byte lascado, inclusive do Altair e do Simon de 1950, um computador que usava relés em vez de transistores e ao qual os autores concedem a primazia. No entanto, apesar de não ter vídeo nem teclado (a entrada de dados era feita por contatos elétricos operados manualmente e a saída por diodos emissores de luz, ou leds), o Altair parece mais merecedor do título de pioneiro. Afinal, como os micros modernos, usava um microprocessador, o 8080 da Intel.

Mas por onde anda esse bilhão de micros e quem os está usando? Bem, segundo o estudo, metade já virou sucata (mas mesmo assim, são quinhentos milhões de PCs em uso, uma marca impressionante; veja artigo de Michael Kanellos em <http://news.com.com/2100-1040-940713.html>). Dos que estão operando, um em cada quatro está em nossas casas, dedicado ao uso doméstico (segundo a Intel, em <www.intel.com/pressroom/archive/releases/20020701corp.htm>, há um PC em 60% dos lares americanos, 49% dos europeus ocidentais e 38% dos lares da região da Ásia e Pacífico) e os outros três nos escritórios, cumprindo tarefas profissionais e corporativas. Pouco mais de oito em cada dez são máquinas de mesa (“desktops”), os dois restantes são micros portáteis (“notebooks” ou “laptops”). Quase 40% deles estão nos EUA, 25% na Europa e 12% na região da Ásia e Pacífico, hoje o mercado em mais forte expansão.

Embora a marca do bilhão seja considerável, ela ainda tende a crescer. E cada vez mais depressa. Pois se foram necessários 27 anos para atingir o primeiro bilhão, espera-se que o segundo seja alcançado em apenas mais seis anos. E de fato, ultimamente a evolução tem sido brutalmente acelerada: só no ano passado foram produzidos 125 milhões de PCs.

A aceleração das vendas deve-se a vários fatores, dentre os quais destacam-se a queda dos preços (um Altair, sem vídeo nem teclado, custava US$ 621 e o primeiro PC, sem sequer drive de disquete e vídeo monocromático, cerca de cinco mil dólares), a rápida disseminação de computadores nos países em desenvolvimento e a universalização da Internet, sobretudo das conexões em “banda larga” (segundo Kanellos, estudos nos EUA indicaram que usuários que dispõem de conexão em banda larga usam seus PCs mais freqüentemente e para mais atividades que os que usam conexão por linha discada). Por isso, apesar da crise da economia mundial, espera-se que as vendas de PC continuem de vento em popa.

Pois é isso. Um bilhão de PCs vendidos, quinhentos milhões em uso, um quarto deles em nossas casas. Uma marca e tanto. Mais impressionante ainda quando nos lembramos que, segundo a lenda (ou a história), nos primórdios da era da informática, quando tudo o que havia eram os dinossauros da computação conhecidos por “mainframes”, o principal executivo de uma das maiores indústrias do ramo perguntava, prenhe de ceticismo: “Computadores pessoais? Para que? Afinal, quem vai querer um negócio desses em casa?”.

(Os atalhos (“links”) incluídos neste artigo podem ser encontrados na seção Escritos desta semana do Sítio do B.Piropo, em <www.bpiropo.com.br>).

B. Piropo