O Globo
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20/01/1997
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ATX - Um Novo Padrão Para Placas-Mãe de Micros Da Linha PC |
Quando, há alguns anos, decidi fazer meu primeiro upgrade de placa-mãe, uma de minhas maiores preocupações era me assegurar que a nova placa coubesse no velho gabinete. Preocupação infundada, como descobri mais tarde: tamanho, furação e forma das placas-mãe eram padronizados e qualquer placa encaixaria perfeitamente em qualquer gabinete. Desde então parei de me preocupar com este assunto. Pelo menos até fazer meu mais recente (último não, porque sei que muitos ainda virão) upgrade de placa mãe há cerca de um mês. Porque há um novo padrão na praça, o ATX, coexistindo com o velho padrão AT (e sua variante mais comum, conhecida como Baby AT). Portanto, se você pretende trocar a placa-mãe de sua máquina, fique atento. Pois os dois padrões são mutuamente incompatíveis e placas-mãe que aderem a um não cabem no gabinete que aderem a outro. Alem de exigirem diferentes fontes de alimentação. Nesta altura dos acontecimentos você provavelmente estará matutando sobre a razão que levou a indústria a alterar um padrão tão solidamente estabelecido. Afinal, com tanta coisa nova a padronizar, por que cargas d'água resolveram esses biltres mexer em algo que não estava incomodando a ninguém? A resposta é simples: economia. É claro que eles vão dizer que a razão principal é outra, que o objetivo da mudança é facilitar a vida do usuário e adaptar o velho PC às novas tecnologias e coisa e tal. Mentira. É fato que a coisa melhorou um pouco para todo o mundo, inclusive usuários e montadores. Mas o que eles querem mesmo é cortar custos. O resto é subproduto. Então vamos ver em que consiste este tal padrão ATX e que melhorias ele traz. Uma placa ATX é essencialmente uma placa Baby AT que sofreu uma rotação de 90 graus no interior do chassis e usa uma nova fonte de alimentação. Explicando melhor: imagine que você abriu o gabinete de seu micro e o colocou sobre a bancada com a placa-mãe na horizontal, a fonte em seu lado direito e a traseira do gabinete voltada para o lado mais afastado de você. Se sua placa-mãe adere ao padrão Baby AT, ela mede 12" (30,5cm) de comprimento e 9,6" (24,4cm) de largura. Pois bem: com o micro na mesma posição, uma placa-mãe ATX teria as mesmas dimensões, porém invertidas: a largura seria de 12" e o comprimento de 9,6" (veja o esquema, retirado da especificação mais recente do padrão). Com isto a traseira do gabinete fica mais larga para acomodar conectores e a distribuição dos componentes sobre a placa pode ser feita de modo mais racional: repare como os slots foram deslocados para a esquerda, deixando toda a área do centro e da direita livre para os componentes mais altos e permitindo que placas controladoras longas possam ser espetadas em qualquer um dos sete slots que o padrão admite, ISA ou PCI. E note como memória e CPU ficam em uma área livre, entre os slots e a borda direita da placa, permitindo a substituição dos pentes de memória e da própria CPU sem remover placas controladoras nem afastar cabos. Que, aliás, praticamente desaparecem de dentro do gabinete, já que os conectores dos drives situam-se perto das baias, encurtando os cabos e evitando que se estendam para cima da placa, enquanto os cabos internos dos dispositivos de Entrada/Saída desaparecem, já que o padrão ATX leva os conectores das portas seriais, paralela e tudo o mais que estiver integrado à placa (como vídeo, som, hub USB, ISDN e o que mais pintar) para um painel de E/S incorporado à placa-mãe. As maiores diferenças entre os padrões Baby AT e ATX são justamente este painel de E/S e a fonte de alimentação. O painel situa-se do lado direito da borda traseira, ocupa 6"1/2 desta borda e mede 1"3/4 de altura. É inteiramente integrado à placa-mãe e contém todos os conectores dos dispositivos de entrada e saída. Para o usuário, aparentemente não há grande diferença: os conectores estão na traseira do gabinete onde sempre estiveram. Mas eliminar cabos e conectores externos aparafusados ao gabinete, além de reduzir a emissão de interferência eletromagnética e a possibilidade contatos defeituosos, diminui significativamente os custos de fabricação. A padronização é suficientemente rígida para garantir compatibilidade entre placas e gabinetes aderentes ao padrão, mas bastante flexível para permitir futuras expansões e receber qualquer tipo de conector. A fonte de alimentação foi totalmente modificada. A ventoinha agora se situa na parede lateral interna e suga o ar de cima da CPU. O que na maioria dos casos elimina a necessidade de uma segunda ventoinha sobre a CPU, reduzindo os custos e o ruído. O conector da fonte de alimentação é inteiramente novo, já que além dos pinos usuais de terra, +/- 12V e +/- 5V, inclui ainda a nova tensão de 3,3V (exigida pelos novos chips de memória, CPUs e pelas futuras placas controladoras PCI) e suporta o "soft-power", ou o controle do suprimento de energia efetuado pelo próprio sistema operacional. O novo conector tem 20 pinos e exige, evidentemente, uma nova fonte de alimentação. Quem está encabeçando a lista dos responsáveis pela mudança é a Intel. Que não costuma apostar em perdedor. Portanto, mais cedo ou mais tarde sua placa-mãe será uma ATX. Dizem os responsáveis pelo padrão que dentro de três anos ele dominará o mercado. E como as primeiras placas ATX já começaram a pipocar, prepare-se para aderir. Para mais informações sobre ATX, consulte <http://www.teleport.com/~atx>. A versão mais nova da especificação, a 2.0 de dezembro de 1996, pode ser encontrada em <http://www.intel.com/design/motherbd/atx.htm>. Mas se você leu tudo isto só para saber o que significa o acrônimo ATX, lamento desapontá-lo. Trata-se de insondável mistério que nem a especificação resolve. No máximo posso dar um palpite, baseado nos demais acrônimos em inglês que usam a letra "X" (que se pronuncia "éx", com "E" aberto): ATX provavelmente significa AT eXtended. Mas aviso: trata-se apenas de um palpite.
B. Piropo |