O Globo
|
||
21/04/1997
|
AMD K6 MMX: Enfim um adversário à altura para o Pentium |
Vinod Dham é um indiano de fala incisiva e olhar arguto. Em 1975 desembarcou nos EUA com todo seu patrimônio: exatos oito dólares, seu diploma e seu saber. O bastante para fazer dele mais que uma testemunha ocular da história da informática: tornou-o parte dela. Dham trabalhou por 16 anos na Intel, onde viu nascer desde o i8088 do primeiro PC até o Pentium, que ajudou a criar. E participou da equipe que inventou a memória Flash. Da lá, saiu para a NexGen e quando ela foi vendida para a AMD assumiu uma das vice-presidências da compradora. Semana passada Dham esteve no Brasil para o lançamento do AMD-K6 (TM) MMX. Assim mesmo: com o (TM) de Trade Mark (marca registrada) antes do MMX. Pois para incluir as famosas "extensões multimídia" no novo chip, a AMD licenciou a tecnologia junto à Intel, que a desenvolvera. Porém, quando começou a divulgar o lançamento do K6, a mesma Intel tentou impedi-la judicialmente de usar a expressão "MMX" alegando que havia licenciado a tecnologia, não a "marca" MMX, da qual solicitara o registro. Um juiz federal nos EUA negou a pretensão da Intel, permitindo que a AMD incluisse no nome do microprocessador o acrônimo MMX (que segundo ela, significa "MultiMidia eXtensions", ao contrário da Intel, que diz não significar nada), mas não na marca registrada. Na Alemanha, onde a Intel já havia registrado a marca, e no Japão, onde a comprou da NEC (que a tinha registrado para um outro produto), a coisa ainda é mais complicada: a AMD pode usar o acrônimo, mas tem que explicitar que a marca é da Intel. Firulas e sutilezas legais à parte, a coisa é sintomática. Porque denota que a Intel leva a sério a afirmação da AMD que este chip é a grande ameaça a seu virtual monopólio do mercado de CPUs para a linha PC. O K6 é um processador de sexta geração que opera a 233 MHz, usa microarquitetura RISC86, suporta execução fora de ordem e especulativa, renomeamento de registros e previsão de desvio. Inclui decodificadores paralelos, designador centralizado de operações e sete unidades de execução. Tudo isto reunido em um "pipeline" de seis estágios. Seu cache primário de 64K (32K para dados, 32K para instruções) é duas vezes maior que o do Pentium MMX. Em suma: um competidor à altura dos mais sofisticados processadores da Intel. Na apresentação para a imprensa, um demo com um conjunto de operações rotineiras rodou em duas máquinas que só diferiam pela CPU (um Pentium Pro e um K6 operando à mesma freqüência). Na máquina do K6 o demo rodou em 90 segundos. Na do Pentium, terminou seis segundos mais tarde. Uma diferença de cerca de 6% que coincide com os resultados dos testes de Tom Pabst, disponíveis em seu excelente sítio [http://sysdoc.pair.com/], onde afirma: "Sob Windows 95 o K6 é a CPU mais rápida atualmente disponível... Sob Windows NT o K6 233MHz é tão rápido quanto o Pentium Pro 200 e muito mais rápido que o Pentium MMX 233, porém provavelmente será mais lento que o Pentium II operando na mesma freqüência". Em resumo: tudo indica que o AMD K6 MMX é um processador que, em termos de desempenho, se situará acima do Pentium Pro e do Pentium MMX, porém abaixo do Pentium II. E custará cerca de 25% a menos. Seria isto o bastante para abalar a posição de domínio da Intel? Creio que não. O domínio continuará nas mãos da Intel. Mas o monopólio virtual que ela hoje detém, este sim, provavelmente será seriamente abalado. Pois as projeções da AMD, que me parecem perfeitamente plausíveis, dão conta que ela abocanhará uma fatia de 30% do mercado. O que me faz pensar assim, por estranho que pareça, não são as virtudes do K6, mas uma notícia divulgada quase casualmente durante seu lançamento informando que a AMD fabricará circuitos de controle (chipsets) para placas-mãe. Porque é justamente aí que a porca torce o rabo. Há alguns anos, quando lançou o barramento PCI, a Intel passou a fabricar chipsets. Hoje lidera também este mercado com os Triton. Ora, é o chipset que determina as funções básicas da placa, inclusive algumas decisivas para a escolha da CPU. Por isto, a empresa que dominar o mercado de chipsets pode liquidar qualquer fabricante de processadores. E não precisa ser um gênio dos negócios para avaliar o que acontecerá se uma única firma controlar ambos os mercados, o de chipsets e o de microprocessadores. Quando anunciou o novo Pentium II, a Intel informou que ele não usará o "soquete 7", até então utilizado pelo Pentium, mas encaixará em um slot da placamãe denominado "slot one", que patenteou e pretende usar para seus futuros processadores. Ou seja: no que depender da Intel, o soquete 7 morreu. Como o slot one foi patenteado pela Intel, o AMD K6 MMX foi concebido para encaixar no soquete 7. Agora, responda depressa: se a AMD não se dispusesse a desenvolver seus próprios chipsets, qual seria o futuro do K6? Nada temos contra a Intel, evidentemente. Muito pelo contrário: trata-se de uma empresa à qual cada usuário de PC deve um respeito que beira a veneração. Mas monopólio é monopólio, uma coisa execrável venha de onde vier. Por isto, louvemos todos o advento do K6 e do chipset da AMD. Porque mesmo que você jamais venha a usar um deles, é certo que muito terá a ganhar com seu lançamento.
B. Piropo |