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B. Piropo

O Globo
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01/03/1999

A AMD lança seu novo processador AMD K6-III


O mercado de microprocessadores está em ebulição. Na última quarta-feira 24, exatamente uma semana depois da Intel lançar oficialmente o Pentium III, sua rival e vizinha no Vale do Silício, a AMD, anunciou o lançamento da família AMD K6-III. Que inicialmente estará disponível na versão de 400 MHz e, logo após, na de 450 MHz.

Segundo o fabricante, trata-se de um microprocessador que "supera em desempenho o mais rápido processador da Intel, o Pentium III" . A maior novidade do novo chip é o chamado TriLevel Cache, uma técnica inteligente para superar o problema da lentidão de acesso ao cache externo. Pois a grande barreira para o aumento do desempenho dos processadores que usam o chamado Socket 7 era justamente o fato do cache L2 conectar-se à CPU através do barramento frontal (FSB, ou "Front Side Bus"), que, nos chipsets usados pela AMD, opera em uma freqüência de 100 MHz seja qual for a freqüência da CPU. Esta configuração faz com que os dados armazenados no cache L2 sejam acessados muito mais lentamente que aqueles armazenados no cache interno L1, que opera na mesma freqüência do processador. A Intel resolveu este problema adotando o chamado "Slot 1", que incorporou um cache L2 externo operando na metade de freqüência do processador – portanto muito acima da freqüência de operação do barramento frontal. A AMD, que continua usando o "Socket 7" (agora aperfeiçoado, com um FSB de 100 MHz, suportando novidades como USB e AGP e rebatizado de "Plataforma Super 7") partiu para uma solução mais radical: trouxe o cache L2 para dentro do chip e o fez operar na mesma freqüência do processador. Com isso os acessos ao cache L2 de 256K são tão rápidos quanto os acessos ao cache interno L1 de 64K (o dobro do cache L1 da linha Pentium e que continua sendo usado metade para instruções, metade para dados). O cache externo, ligado ao barramento frontal, passou a ser opcional e agora se situa no nível L3 (por isso o nome TriLevel). Portanto um AMD K6 III sai de fábrica com um total de 320 K de cache interno (a soma dos caches L1 e L2) aos quais podem ser acrescentados até 2Mb de cache externo L3 atingindo um total jamais alcançado por qualquer chip para desktops da linha PC. O resultado é um microprocessador com um desempenho excepcional para sua freqüência de operação.

A AMD garante que esse desempenho é visivelmente superior ao do Pentium III de 500 MHz, a mais nova jóia da coroa da rival Intel. Celso Previdelli, Gerente Geral da AMD para a América do Sul, informou que em duas máquinas igualmente configuradas rodando Windows 98 seu novo AMD K6-III de 450 MHz, apesar da menor freqüência de operação, bateu o rival Pentium III de 500 MHz por um índice Winstone99 de 23,3 contra 22,9. Ele atribui o melhor desempenho de seu microprocessador não apenas à nova arquitetura do cache em três níveis mas também a aperfeiçoamentos técnicos como as funções que permitem acessar simultaneamente os cache L1 e L2, acelerando ainda mais o desempenho do sistema.

O K6-III será fabricado pela AMD com tecnologia de 0,25 mícron, encapsulamento cerâmico do tipo Pin Grid Array e usará tensões de operação de 2,3 V no núcleo do chip. Esta combinação não é das mais favoráveis no que toca à geração de calor, portanto não se deve esperar que o novo chip alcance freqüências de operação muito mais elevadas que os 450 MHz a curto prazo. Afinal trata-se de um processador que incorpora dois caches internos, com mais de 21 milhões de transistores operando acima de 400 MHz. Vai esquentar um bocado e exigir cuidados especiais na dissipação de calor.

A liderança da Intel no campo dos processadores de alto desempenho para servidores continua indiscutível com seu Pentium III Xeon (embora Celso Previdelli garanta que isso mudará ainda em meados deste ano com o lançamento do AMD K7 com freqüências de operação a partir de 500 MHz e um barramento frontal de 200 MHz). Porém, na liça dos processadores para micros de mesa (desktop), o novo AMD K6 III será um sério contendor para o novo Pentium III. Convém não esquecer que ele incorpora a tecnologia 3Dnow, que aumenta o desempenho de aplicativos gráficos e multimídia e que foi uma das grandes responsáveis pelo aumento da fatia do mercado abocanhada pela AMD. Incorporada aos chips da AMD desde março de 98, ela já foi adotada por centenas de aplicativos e torna o novo K6 III a escolha natural para os adeptos de jogos tridimensionais, já que sua rival, a tecnologia Streaming SIMD incorporada aos novos Pentium III, é recente a ainda precisa aguardar o lançamento dos aplicativos que dela venham a tirar proveito.

A disputa promete ser acirrada. Se a Intel ainda desfruta do privilégio da liderança no mercado e da reputação de qualidade de seus produtos, a AMD tem a indiscutível vantagem de um preço significativamente menor. Uma estratégia comercial que garantiu o crescimento de suas vendas e a levou, pouco a pouco, a conquistar a confiança e o respeito dos usuários. A prova disso, segundo Previdelli, é que placas-mãe com chipsets VIA, ALI e SYS, suportando o K6 III, já estão disponíveis no mercado internacional desde o lançamento do chip. E a Compaq está lançando nos EUA novos membros de sua família Presario equipados com o AMD K6 III concomitantemente com o lançamento do próprio processador.

No Brasil, garante Previdelli, as solicitações dos parceiros comerciais da AMD são intensas e estão sendo mantidos entendimentos com três grandes fabricantes cujos nomes não pôde revelar por razões comerciais. Ele espera que micros equipados com o novo K6 III estejam disponíveis ainda em março no mercado nacional. Uma prova que já vão longe os tempos em que os integradores passavam meses aguardando os chips da AMD se firmarem na praça para somente então investir neles.

A política de preços agressivos da AMD será mantida com o novo chip: o K6 III de 450 MHz será vendido por US$ 476 a unidade (em lotes de mil), enquanto a versão em 400 MHz custará apenas US$ 284 (Previdelli informa que esses preços são de lançamento e deverão cair ainda em abril deste ano). Os preços dos novos Pentium III da Intel ainda não foram revelados, mas seguramente serão bem mais elevados.

Portanto, vai ter briga. E tomara que seja uma briga boa. Boa sobretudo para nós, usuários, já que quanto mais eles brigam, mais caem os preços e mais se eleva a qualidade dos produtos. Uma feliz combinação que só pode ser gerada pela concorrência em um mercado competitivo.

B. Piropo