Lembra
daquele slogan do Governo: Carro a álcool, você
ainda vai ter um? Quem acreditou deu-se mal. Pois bem: há
no horizonte uma nova utilização para o álcool.
E quem acreditar provavelmente se dará muito bem.
O álcool no caso é o metanol que, entre outras aplicações,
é usado como combustível nos carros da Fórmula
Indy. E breve será usado para alimentar seu micro com a
eletricidade gerada em uma célula de combustível
(fuel cell).
No futuro, células de combustível serão o
principal meio de gerar eletricidade. Suas aplicações
irão de grandes geradores para abastecer cidades até
unidades menores que alimentarão motores elétricos
de automóveis, uma forma menos poluente e mais eficiente
de produzir energia automotiva. E unidades leves e pequenas serão
usadas para alimentar notebooks, substituindo com enormes vantagens
as atuais baterias. Mas como funciona essa maravilha da tecnologia
moderna?
É provável que você conheça a eletrólise
da água: coloca-se em um reservatório uma certa
quantidade de água na qual se dissolveu um pouco de ácido
e mergulha-se nela fios ligados aos terminais de uma bateria.
Algumas moléculas da água se quebram
em seus componentes básicos, hidrogênio e oxigênio.
Os íons de hidrogênio, com sua carga positiva (falta
de elétrons), são atraídos para o terminal
negativo, onde recebem elétrons. Os de oxigênio,
com sua carga negativa (excesso de elétrons), são
atraídos para o positivo, ao qual cedem seus elétrons.
O resultado é o desprendimento hidrogênio no terminal
negativo e oxigênio no positivo. Ou seja: a eletrólise
da água nada mais é que sua decomposição
nos elementos básicos hidrogênio e oxigênio.
E consome energia.
Ora, se um dado processo consome energia, revertê-lo produz
a mesma quantidade de energia. E uma célula de combustível
é exatamente isso: a combinação de átomos
de hidrogênio e oxigênio, produzindo uma certa quantidade
de água e gerando energia.
Há diversos tipos de células de combustível.
O que nos interessa, o DMFC (acrônimo de Direct Methanol
Fuel Cell), usa metanol como fonte de hidrogênio.
O metanol é o álcool mais simples. Sua molécula
contém um único átomo de carbono, um de oxigênio
e quatro de hidrogênio.
Uma DMFC é constituída por dois meios porosos, que
funcionam como anodo e catodo, separados por uma película
de uma substância muito especial: a PEM (de Proton
Exchange Membrane, ou membrana de troca de prótons),
revestida em ambos os lados por uma fina camada de platina em
pó que atua como catalisador. O que torna a PEM tão
especial é sua propriedade de somente se deixar atravessar
por prótons (íons de carga positiva), bloqueando
os elétrons.
O anodo é alimentado com uma solução de metanol
(CH3-OH) e água (H2O). O catodo, com oxigênio (na
verdade, com ar, a mais barata fonte de O2). Na presença
do catalisador, uma molécula de metanol se combina com
uma de água. O resultado é uma molécula de
gás carbônico (CO2), que se desprende, e seis átomos
de hidrogênio. O átomo de hidrogênio contém
apenas um próton em seu núcleo e um elétron
na coroa. O íon hidrogênio, com seu próton
(unidade de carga positiva), atravessa a PEM, encontra o oxigênio
no catodo e forma água. O elétron liberado no anodo
é bloqueado pela PEM e tende a se acumular ali. Resultado:
basta ligar externamente o anodo e o catodo por um condutor para
que ele seja percorrido pelos elétrons, que saem do anodo
ávidos por neutralizar as cargas positivas do catodo, gerando
uma corrente elétrica que pode ser utilizada para qualquer
fim (inclusive alimentar um computador). Veja uma explicação
do funcionamento de uma DMFC em <http://voltaicpower.com/FuelCell/dmfc.htm>
e uma excelente demonstração do funcionamento de
uma célula de combustível genérica em <http://auto.howstuffworks.com/fuel-cell2.htm>,
com uma animação interessantíssima (o texto
é em inglês, mas você pode apreciar a animação
clicando no botão Close da figura e, depois,
nos botões Activate e Continue;
para recomeçar, clique em Reset).
A tecnologia ainda está em fase de pesquisas. Mas se você
pensa que será usada em um futuro distante, engana-se.
Há pouco mais de um ano a Casio anunciou que pretende substituir
as baterias de lítio de seus dispositivos móveis
por uma célula de combustível DMFC que estende o
tempo de utilização de um notebook para vinte horas
em vez das três de uma carga de bateria. Sem mencionar que,
esgotado o metanol da célula de combustível, basta
trocar o cartucho vazio por outro cheio para mais vinte horas
de funcionamento. O lançamento está previsto para
o ano que vem.
Em agosto do ano passado a MTI Micro apresentou seu protótipo
de célula de combustível DMFC, um treco menor que
um maço de cigarros. Ela não será usada para
abastecer diretamente um micro, mas para recarregar sua bateria,
estendendo o tempo de funcionamento longe de uma tomada em mais
de dez vezes. O lançamento comercial também se dará
no próximo ano. E tanto Toshiba quanto Motorola trabalham
em suas próprias células de combustível para
micros, com lançamento previsto para 2005.
Há problemas a serem resolvidos. Segurança é
um deles: metanol é tóxico e inflamável e
há que vencer a resistência das autoridades para
permitir que um negócio desses seja usado, por exemplo,
no interior de um avião. Outro é o preço:
metanol não é caro, mas os custos de fabricação
e distribuição dos cartuchos não são
desprezíveis. Mas espera-se que no futuro próximo
um cartucho descartável com uma carga para vinte horas
ou mais custe cerca de três dólares no mercado americano,
algo perfeitamente acessível. Os problemas estão
sendo resolvidos e breve a tecnologia estará disponível.
O que me permite predizer sem grande margem de erro: Micro
a álcool: você ainda vai ter um.
B.
Piropo