Em
meus monitores há dois ou três prendedores de papeis.
Em cada um deles, uma maçaroca anotações.
Essa foi a forma que encontrei para dar um mínimo de ordem
a um velho hábito: fazer anotações rápidas
em papeis avulsos enquanto trabalho. Antigamente elas ficavam
espalhadas sobre a mesa e metade se perdia. Agora, penduro-as
no monitor. Brevemente, graças a uma pesquisa da Microsoft,
elas terão outro destino.
A pesquisa revelou que eu não sou o único tomador
de notas: ao contrário, faço parte da maioria, já
que 91% dos adultos o fazem regularmente. E por boas razões:
81% anotam coisas que requerem acompanhamento posterior. E nem
tudo que se anota é bobagem: 74% das anotações
darão início de projetos, relatórios ou documentos
de trabalho. E não é à toa que as minhas
ficam bem em frente a meus olhos: 44% dos anotadores informaram
que o acesso fácil é fundamental, pois eles retornam
às notas 25% do tempo. Pior para os que não sabem
onde põem as notas e nunca mais as encontram: eles formam
um quarto do contingente.
Partindo da MS, é claro que o universo da pesquisa era
constituído por micreiros. E nem todos penduram papeluchos
no monitor. Muitos usam programas. O problema é que os
mais usados não são indicados para esse fim: a maioria
usa editores de texto (77%) e gerenciadores de correio eletrônico
(26%). Era então natural que a pesquisa redundasse na criação
de um novo programa: o One Note, concebido justamente para tomar,
organizar, recuperar, reutilizar e compartilhar anotações.
O programa foi concebido para os "tablets", esses novos
micros com o formato de um livro, sem teclado ou mouse, cujo principal
dispositivo de entrada é um estilete que escreve diretamente
na tela de cristal líquido. Neles, o reconhecimento de
caracteres manuscritos torna o One Note uma ferramenta indispensável.
Mas, por haver aliado a flexibilidade das anotações
em papeis avulsos com a eficiência, organização
e facilidade de recuperação fornecida pelos meios
digitais, o programeto revelou-se tão útil que a
Microsoft decidiu estender seu uso para micros portáteis
("notebooks"), e de mesa. E fez mais: resolveu inclui-lo
no elenco de aplicativos do Office.
Mostrado ao público pela primeira vez em novembro passado
pelo próprio Bill Gates em sua palestra de abertura da
última COMDEX, o One Note é de uma simplicidade
franciscana. Mas nem por isso deixa de ser inovador e poderoso.
Por ter sido concebido para tablets, cuja tela funciona como uma
folha de papel, o One Note permite criar notas em qualquer lugar
da tela, independentemente de onde esteja o cursor, bastando clicar
sobre o ponto desejado - mesmo em micros de mesa. Se você
dispõe de um dispositivo de entrada que usa estilete, como
mesas digitalizadoras, pode criar esquemas e desenhos à
mão livre cuja precisão depende apenas de sua habilidade.
Mas pode também usar o teclado. E, nos micros multimídia
com microfone, pode criar anotações sonoras sincronizadas
com as gráficas.
Todas as notas criadas no One Note podem ser copiadas para a área
de transferência e de lá coladas em qualquer outro
aplicativo. E vice-versa: você pode copiar figuras, diagramas
e texto de páginas da internet e colá-las no One
Note. Além disso, o programa fornece o "Quick Pane",
um pequeno painel no formato de uma janela que se abre na tela
com um único clique em um ícone situado na barra
de tarefas de Windows para permitir anotações rápidas
no meio de um trabalho. É isso que vai liquidar com a pilha
de papeluchos pendurada em meu monitor.
Mas é claro que um programa concebido para criar anotações
só é útil se permitir organizá-las
e recuperá-las de forma eficiente. Por isso a janela do
One Note, além da área de anotações,
traz um conjunto de abas para agrupar anotações
por assunto, uma área de títulos permanentemente
visíveis reservada para as anotações mais
importantes, um conjunto de marcadores para destacar notas que
exigem atenção e um enorme elenco de arranjos (layouts)
e formatos que podem ser organizados ao gosto do usuário,
na base do "arrastar e soltar". E no que toca à
recuperação de notas, o programa é de uma
eficiência assombrosa. Para começar, nem o usuário
mais esquecido perderá uma anotação: One
Note grava-as todas automaticamente. E contém um dispositivo
de busca que permite encontrar anotações mesmo quando
já não lembramos em que aba, pasta ou arquivo a
gravamos, além de manter um histórico de criação
e consulta de notas que facilita muito encontrar anotações
perdidas. Qualquer nota pode ser encaminhada como mensagens de
correio eletrônico sem de sair do One Note e até
páginas HTML podem ser criadas a partir dele.
Quem sabe em meados deste ano, quando o One Note for lançado,
consigo "limpar" a frente de meus monitores?
B.
Piropo