Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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17/02/2003

< One Note >


Em meus monitores há dois ou três prendedores de papeis. Em cada um deles, uma maçaroca anotações. Essa foi a forma que encontrei para dar um mínimo de ordem a um velho hábito: fazer anotações rápidas em papeis avulsos enquanto trabalho. Antigamente elas ficavam espalhadas sobre a mesa e metade se perdia. Agora, penduro-as no monitor. Brevemente, graças a uma pesquisa da Microsoft, elas terão outro destino.
A pesquisa revelou que eu não sou o único tomador de notas: ao contrário, faço parte da maioria, já que 91% dos adultos o fazem regularmente. E por boas razões: 81% anotam coisas que requerem acompanhamento posterior. E nem tudo que se anota é bobagem: 74% das anotações darão início de projetos, relatórios ou documentos de trabalho. E não é à toa que as minhas ficam bem em frente a meus olhos: 44% dos anotadores informaram que o acesso fácil é fundamental, pois eles retornam às notas 25% do tempo. Pior para os que não sabem onde põem as notas e nunca mais as encontram: eles formam um quarto do contingente.
Partindo da MS, é claro que o universo da pesquisa era constituído por micreiros. E nem todos penduram papeluchos no monitor. Muitos usam programas. O problema é que os mais usados não são indicados para esse fim: a maioria usa editores de texto (77%) e gerenciadores de correio eletrônico (26%). Era então natural que a pesquisa redundasse na criação de um novo programa: o One Note, concebido justamente para tomar, organizar, recuperar, reutilizar e compartilhar anotações.
O programa foi concebido para os "tablets", esses novos micros com o formato de um livro, sem teclado ou mouse, cujo principal dispositivo de entrada é um estilete que escreve diretamente na tela de cristal líquido. Neles, o reconhecimento de caracteres manuscritos torna o One Note uma ferramenta indispensável. Mas, por haver aliado a flexibilidade das anotações em papeis avulsos com a eficiência, organização e facilidade de recuperação fornecida pelos meios digitais, o programeto revelou-se tão útil que a Microsoft decidiu estender seu uso para micros portáteis ("notebooks"), e de mesa. E fez mais: resolveu inclui-lo no elenco de aplicativos do Office.
Mostrado ao público pela primeira vez em novembro passado pelo próprio Bill Gates em sua palestra de abertura da última COMDEX, o One Note é de uma simplicidade franciscana. Mas nem por isso deixa de ser inovador e poderoso. Por ter sido concebido para tablets, cuja tela funciona como uma folha de papel, o One Note permite criar notas em qualquer lugar da tela, independentemente de onde esteja o cursor, bastando clicar sobre o ponto desejado - mesmo em micros de mesa. Se você dispõe de um dispositivo de entrada que usa estilete, como mesas digitalizadoras, pode criar esquemas e desenhos à mão livre cuja precisão depende apenas de sua habilidade. Mas pode também usar o teclado. E, nos micros multimídia com microfone, pode criar anotações sonoras sincronizadas com as gráficas.
Todas as notas criadas no One Note podem ser copiadas para a área de transferência e de lá coladas em qualquer outro aplicativo. E vice-versa: você pode copiar figuras, diagramas e texto de páginas da internet e colá-las no One Note. Além disso, o programa fornece o "Quick Pane", um pequeno painel no formato de uma janela que se abre na tela com um único clique em um ícone situado na barra de tarefas de Windows para permitir anotações rápidas no meio de um trabalho. É isso que vai liquidar com a pilha de papeluchos pendurada em meu monitor.
Mas é claro que um programa concebido para criar anotações só é útil se permitir organizá-las e recuperá-las de forma eficiente. Por isso a janela do One Note, além da área de anotações, traz um conjunto de abas para agrupar anotações por assunto, uma área de títulos permanentemente visíveis reservada para as anotações mais importantes, um conjunto de marcadores para destacar notas que exigem atenção e um enorme elenco de arranjos (layouts) e formatos que podem ser organizados ao gosto do usuário, na base do "arrastar e soltar". E no que toca à recuperação de notas, o programa é de uma eficiência assombrosa. Para começar, nem o usuário mais esquecido perderá uma anotação: One Note grava-as todas automaticamente. E contém um dispositivo de busca que permite encontrar anotações mesmo quando já não lembramos em que aba, pasta ou arquivo a gravamos, além de manter um histórico de criação e consulta de notas que facilita muito encontrar anotações perdidas. Qualquer nota pode ser encaminhada como mensagens de correio eletrônico sem de sair do One Note e até páginas HTML podem ser criadas a partir dele.
Quem sabe em meados deste ano, quando o One Note for lançado, consigo "limpar" a frente de meus monitores?

B. Piropo