Windows 8 já anda por aí há muito tempo, portanto sobre o sistema propriamente dito não há muita novidade a ser relatada. Mas uma cerimônia de lançamento, feita com a devida pompa e circunstância, não apenas tem seu charme como conta com a presença de altos executivos da empresa, que sempre têm algo de novo a dizer na entrevista coletiva programada para imediatamente após o lançamento. Portanto sempre vale a pena acompanhar. E o lançamento de Windows 8 não foi exceção.
Figura 1: cerimônia de lançamento
A cerimônia ocorreu em uma grande casa de espetáculos de São Paulo, devidamente apetrechada para a ocasião: grandes espaços livres para que o público se espalhasse, exposição dos dispositivos a serem lançados no dia seguinte com Windows 8 instalado, um palco gigantesco com projeção, enfim, tudo o que se esperava de um evento desta monta.
Figura 2: Michel Levy Presidente da MS Brasil em sua apresentação
O evento começou com uma barulhenta apresentação projetada no telão sobre as novidades de Windows 8 após a qual tomou a palavra Michel Levy, Presidente da MS Brasil. Não foi um discurso longo – mesmo porque ninguém estava ali para ouvir discursos – e o tema foi, principalmente institucional. A única surpresa foi sua declaração textual que a Microsoft estava em plena transição de uma empresa de software para uma empresa de serviços. Nos tempos de hoje, esta declaração partindo de um presidente de qualquer outra empresa provavelmente sequer causaria impacto. Mas em se tratando da MS, o grande ícone da era em que o software reinava soberano no mercado de tecnologia, realmente me pareceu um sinal dos tempos.
Figura 3: Priscyla Alves, Gerente Geral de Windows da MS Brasil
Em seguida subiu ao palco Priscyla Alves, Gerente Geral de Windows da MS Brasil. E foi então que se começou a falar de Windows 8. Quer dizer: falar, mesmo, falou-se pouco. Priscyla informou que o lançamento de Windows 8 era em escala mundial, ou seja, a partir da meia noite daquele dia, 25/10, estaria disponível para venda direta ao público em 140 países e 37 diferentes idiomas, inclusive Português do Brasil e que mais de mil modelos de computadores já haviam sido certificados para rodar a nova plataforma e estariam disponíveis com Windows pré-instalado no dia seguinte ou nos próximos meses. Disse que a grande novidade de Windows 8 é a nova interface (que até recentemente era chamada de "Metro" mas correm boatos que a MS pretende mudar este nome; o que me parece bastante verossímil, já que na comunicação à imprensa sobre o lançamento ele é totalmente omitido e eu não me recordo de ouvir Priscyla mencioná-lo uma única vez no lançamento). Que a interface, além de ser a mesma para dispositivos fixos e móveis e se adaptar tanto a quem deseja consumir conteúdo, executar um trabalho ou se divertir, é inteiramente personalizável, adaptando-se "ao estilo e personalidade" de cada usuário. E, para demonstrar como esta capacidade de adaptação era flexível, chamou ao palco três figuras públicas, usuários do novo sistema, com diferentes necessidades: MV Bill, Didi Wagner e Felipe Andreoli. Cada um deles mostrou como usava Windows 8 e como o havia adaptado às próprias necessidades e gostos. Para quem já conhecia o sistema, nenhuma novidade. Para quem não conhecia pessoalmente Didi Wagner, um bonito espetáculo.
Porém, de tudo o que disse Priscyla, o que mais chamou a atenção foi o anúncio dos preços de lançamento, feito logo após as demonstrações. A estratégia de preço é parte de uma campanha de vendas de porte inédito para a MS. Correm boatos de uma quantia bilionária a ser gasta em nível mundial, mas o valor não é confirmado pela empresa, que apenas informa que esta campanha exigirá um investimento quarenta vezes maior que a de lançamento de Windows 7. Quando ao preço, segundo Priscyla, o valor normal do produto "na caixa" para a versão de atualização (ou seja, para ser instalada sobre Windows 7) é de R$ 269. O que não é uma fortuna, mas também não é bagatela. Mas o preço promocional, válido apenas até 31/01/2013 e somente para quem baixar o produto do sítio da MS, este sim é uma pechincha: R$ 69 para a versão de uso doméstico mais poderosa, o Windows 8 Pro. Que começou a ser vendida à meia noite do dia do lançamento em algumas lojas de SP e BH que abriram especificamente para isto (portanto já está disponível) e que pode ser baixada, em português, diretamente da página <http://windows.microsoft.com/pt-BR/windows/buy?OCID=GA8_SEM_ROW_Null_Null_Null_Null> "Baixe e compre" da MS. Realmente uma política de preço agressiva para uma empresa que deseja ver seu produto conquistar mercado rapidamente. É o tipo da compra que não pode deixar de ser recomendada: um bom produto a um preço quase irrisório em se tratando de um SO completo.
Incidentalmente: se, a partir de 2/6/2012 você comprou um computador novo com Windows 7 instalado (ou se comprar um até 31/01/2013), pode fazer a atualização para Windows 8 Pro por apenas R$ 29. Negócio melhor, nunca vi.
Figura 4: Michel Levy e Priscyla Alves na coletiva
E veio então a entrevista coletiva, onde as dúvidas podem, afinal, ser esclarecidas.
Durante a entrevista ficou claro que Windows 8 terá quatro versões, duas para usuários domésticos (Windows 8 e Windows 8 Pro), uma para corporações (Windows 8 Enterprise) e uma para dispositivos móveis (Windows 8 RT)que usam processadores ARM, de menor desempenho e baixíssimo consumo de energia. Que apenas as duas primeiras serão vendidas ao público, sendo a Windows 8 Pro, com mais recursos, destinada a "consumidores finais entusiastas e empresas de pequeno porte". Que a Windows 8 Enterprise será vendida apenas diretamente a corporações e a Windows 8 RT não será vendida, apenas poderá ser adquirida pré-instalada nos dispositivos ARM.
Falou-se também na Windows Store, a loja virtual onde poderão ser comprados (ou baixados gratuitamente os que forem desenvolvidos para este fim) uma ampla gama de aplicativos para Windows 8. Que alguns aplicativos já veem pré-instalados, como o Xbox Live, Music, Vídeo e Bing Apps, além do gerenciador de correio eletrônico, fotos, contatos e calendário de compromissos, todos absolutamente integrados às redes sociais. E que esperam um número cada vez maior de aplicativos, pois os desenvolvedores estão sendo incentivados a produzir aplicativos para o novo sistema inclusive com uma atraente forma de remuneração que pode chegar a 50% do preço pelo qual foi vendido na Windows Store.
E, como os executivos estavam lá à disposição, fiz enfim a pergunta que, como sabem os que acompanham minhas últimas colunas sobre Windows 8, vem inquietando meu velho coração: com o desenvolvimento de uma interface tão claramente otimizada para telas sensíveis ao toque, a MS estaria decretando a morte do tradicional PC de mesa, os velhos "desktops", com sua interface operada via mause e teclado?
Não, claro que não, respondeu o Presidente Michel Levy. O que a MS estava fazendo era ampliar a possibilidade de uso para outros tipos de máquinas, desde os pequenos telefones espertos até os micros de mesa com seus grandes monitores, pois a interface aceita tanto o uso de telas sensíveis ao toque quanto a operação via mause e teclado (o que é verdade, mas quem já tentou operá-la usando um mause sabe exatamente o que eu pretendia dizer).
Então, perguntei eu, porque cargas d´água a interface é tão claramente otimizada para uso em telas sensíveis ao toque, ao ponto de dar a impressão que foi desenvolvida especificamente para elas e depois adaptada para aceitar também o uso do mause e teclado? Bem, respondeu ele, acontece que blá blá blá e coisa e tal, dá para usar tanto assim quanto assado e mais uns tantos argumentos pouco convincentes.
E como eu gostaria de ouvir uma resposta clara (e, em entrevistas coletivas, sou muito chato e insistente – se bem que há quem ache que eu o seja não apenas nelas) retomei a palavra e perguntei: mas a interface foi ou não concebida e otimizada para uso em dispositivos com telas sensíveis ao toque?
Foi, respondeu ele.
E a dúvida se esclareceu.
Então, ficamos assim (e esta é minha opinião, não a do Presidente da MS): se você tem um dispositivo com tela sensível ao toque e Windows 8 instalado, tem um excelente sistema operacional muito fácil de usar. Se você tem uma máquina com tela não sensível ao toque e Windows 8 instalado, tem um excelente sistema operacional, porém não tão fácil de usar. Mas ainda assim, por ser mais rápido e seguro que Windows 7 e, sobretudo, por sua notável capacidade de sincronização, creio que vale a pena instalar.
E assim foi o lançamento de Windows 8.