Definitivamente não fazia parte de meus planos voltar a escrever sobre Windows 8 tão cedo. O que de fato eu pretendia era continuar usando o sistema, desta vez em sua versão final, até me acostumar com as "manhas" da nova interface e, somente então, provavelmente logo após a data do lançamento oficial para o público, voltar ao tema transferindo para os novos usuários meu conhecimento adquirido na base do ensaio e erro com o objetivo de fazer com que os leitores, em seus próprios ensaios, cometessem menos erros.
Mas nem sempre se pode agir conforme planejado. Por vezes ocorrem fatos que nos fazem alterar os planos. E, no caso, o fato que me fez voltar a falar de Windows 8 em prazo tão curto tem a ver justamente com a instalação da versão final e alguns problemas que tive que resolver para, finalmente, poder me dar ao luxo de usar a nova interface em todo seu esplendor e funcionalidade (tá bom, exagerei; esqueça o "esplendor"). Pois como estou ciente de que há versões finais, digamos, não oficiais, de Windows 8 circulando por aí, convém tecer alguns comentários sobre certas peculiaridades desta versão para facilitar a vida de quem pretende instalá-las.
Figura 1
Então vamos nessa. Para começar, Windows 8 oferece três formas de instalar o sistema. A primeira, crua e seca, simplesmente remove tudo o que encontrar no disco onde o sistema será instalado e o instala a partir do zero (na verdade, se houver uma instalação anterior, seus arquivos são preservados em uma pasta "Windows.Old", mas sem qualquer configuração). A segunda mantém os arquivos de dados encontrados nas respectivas pastas mas remove aplicativos e configurações, instalando uma instância nova em folha do sistema operacional. A terceira, que em tese deveria ser a preferida, mantém dados, aplicativos e configurações da instalação anterior (provavelmente de Windows 7; não tentei instalar sobre nenhuma outra versão de Windows) e apenas substitui o sistema operacional por Windows 8.
Eu sei que esta última parece a ideal. E mais: sei que em alguns casos, ela é uma opção praticamente inevitável. Mas fica aqui uma sugestão: se for possível evitá-la, use uma das duas primeiras. Fiz isto duas vezes em duas diferentes máquinas e em nenhuma delas tive qualquer problema. Já a instalação mantendo aplicativos e configurações quase me mata de raiva. É verdade que, afinal, consegui ter uma máquina equilibrada, estável, funcional, na qual estou trabalhando agora com todos os meus programas instalados (a imensa maioria dos programas de Windows 7 são compatíveis com Windows 8 e rodam sem qualquer problema). Mas, não fosse eu um sujeito maníaco por segurança, teria perdido todas as minhas instalações e configurações (adiante explico como e porque não as perdi). Pois para chegar ao ponto em que estou agora tive que refazer duas vezes a instalação, sempre partindo do zero. Parece impossível sempre partir do zero, eu sei. Mas, embora dê um trabalho danado e exija algum capital, não somente é possível como é altamente recomendável se precaver para poder fazê-lo. Logo ensinarei o "caminho das pedras".
Então vamos adiante. Para instalar Windows 8 mantendo aplicativos e dados, o programa instalador (Setup.Exe) deve ser invocado de dentro do próprio Windows 7. Carrega-se Win7, insere-se o DVD de instalação no acionador de discos óticos e carrega-se o setup.exe.
Na primeira tentativa, feita no disco de estado sólido que equipa minha máquina principal, tudo parecia correr muito bem. Instalado Windows 8, a máquina mostrou-se funcional, com todos os aplicativos devidamente estáveis e configurados.
Os leitores habituais destas colunas sabem que em Windows 7 eu sempre mantive duas contas de usuário em minhas máquinas, uma com privilégios de administrador usada para a instalação de aplicativos e tarefas de manutenção, outra de usuário comum para as tarefas diárias. As duas contas foram mantidas na nova instalação, mas creio que esta foi a razão de uma das falhas: ao alterar os ajustes de uma delas o sistema "aloprou". Primeiro, passou a ficar lento como uma lesma. Depois, simplesmente passou a travar. Finalmente, deu-se tal cangancha que o próprio disco rígido deixou de ser reconhecido pelo BIOS da máquina.
Note que eu não tenho certeza da verdadeira razão do problema. Meramente deduzi uma relação de causa e efeito já que ele se manifestou depois da alteração. Mas seja lá qual tenha sido, tão carregada e tenebrosa foi a cangancha que deitou a perder a instalação.
Comecei tudo de novo.
Mas como começar tudo de novo quando a instalação o Windows 7 original foi sobrescrito?
Bem, como eu disse, sou maníaco por segurança. Imediatamente antes de fazer qualquer alteração radical em minha máquina de trabalho eu crio imagens de seus discos rígidos (são dois, um de estado sólido (SSD) de 256 GB para o sistema, outro, magnético de 500 GB, para instalar aplicativos e configurações; os demais arquivos, inclusive dados, coisas baixadas da Internet e quejandas, se alojam em um servidor de arquivos tipo NAS conectado à minha rede doméstica). E não as crio em DVDs ou no NAS mas em discos "de verdade", que possuo exclusivamente para este fim. Afinal, um disco rígido de 500 GB custa pouco mais de duzentos reais nos "infocentros" da vida e segurança vale muito mais que isto.
Para fazer as cópias uso o excelente programa EasyUS Disk Copy Home Edition (gratuito) e tomo certas precauções. Por exemplo: certa feita criei uma imagem do disco errado e instalei o novo sistema sobre o certo. Resultado: perdi ambos, pois sobrescrevi o original e fiquei sem a cópia. A partir de então, para evitar este tipo de coisa, sempre que vou criar uma imagem desconecto (fisicamente; removo os cabos) TODOS os demais discos da máquina exceto o que vou copiar, o acionador de discos óticos de onde inicializarei a máquina com o DVD inicializável do EasyUS e o disco onde a imagem será criada. Depois, certificando-me que estou indicando os discos corretos de origem e destino, crio a imagem. Em seguida, repito o procedimento para o segundo disco (passo que pode ser ignorado por quem só usa um) e guardo em lugar seguro, longe do computador, os dois discos rígidos com a imagem.
Bem, agora que vocês sabem o truque, ficou fácil. Para começar tudo de novo bastou reconstituir as duas imagens nos discos originais e reconectar tudo (reconstitui as duas porque, embora o sistema tenha sido instalado no "Disco C:", eu solicitei que fosse feita a migração dos aplicativos e a maioria deles estão instalados no "disco D:"). Reinicializada a máquina, lá estava Windows 7 exatamente como o tinha deixado da última vez que o havia carregado na máquina.
Agora, voltemos ao problema das contas de usuário.
Eu não sei o que deu errado na primeira tentativa de instalação, mas presumi que tinha algo a ver com as contas de usuário. Pois acontece que o conceito de "conta de usuário" em Windows 8 é mais amplo que em Windows 7. Isto porque no novo Windows 8 os usuários podem criar uma "conta Local" ou uma "conta Microsoft". Não estamos no lugar nem na hora de explicar a diferença em detalhes (quem os quiser pode consultar o artigo do "How-To Geek" < http://www.howtogeek.com/121975/htg-explains-microsoft-accounts-vs.-local-accounts-in-windows-8/ > "HTG Explains: Microsoft Accounts vs. Local Accounts in Windows 8") mas dá para fazer um resumo.
As contas locais se parecem muito com as contas criadas no Windows 7: se restringem aos computadores onde são criadas e não se incomodam com o resto do universo que as cercam. Já as "contas Microsoft" são diferentes. Como todos devem saber, Windows 8 foi concebido para ser usado tanto em dispositivos fixos quanto móveis. De preferência, simultaneamente e interconectados. Sendo assim, quando encontra uma conta de usuário "Microsoft", Windows 8 procura nos servidores da MS se há outros dispositivos que compartilham da mesma conta e, caso os encontre, mantém sincronizados os dados de todos eles.
Nesta altura já ouço um coro de escandalizadas vozes se alevantando para alegar que o Android já faz isto há muito tempo com as contas GMail e a MS nada mais fez do que copiar desavergonhadamente a função. E eu sou obrigado a concordar sem discutir. Mas o fato é que a coisa funciona assim (me refiro tanto à "conta Microsoft" quanto ao velho hábito das empresas de copiarem desavergonhadamente o que as demais fazem).
Minha opinião: o conceito de sincronização de contas, inclusive com outros provedores de serviços em nuvem que não a MS, há de ser o principal diferencial entre Windows 8 e seus antecessores e facilita extraordinariamente a vida dos usuários. Penso que, salvo alguma exceção que não me ocorreu, contas locais servirão apenas para serem usadas por crianças que compartilham os computadores da família e cujos pais querem manter isoladas por questões de conveniência e proteção de privacidade.
Isto posto, voltemos às minhas aventuras. Reconstituído o estado anterior da máquina com Windows 7, minha primeira providência foi alterar o nível de privilégio da conta de usuário comum para "administrador" e, ainda em Windows 7, remover a outra conta de administrador preservando os poucos arquivos de dados que ela continha. Isto feito, repeti a instalação de Windows 8.
Desta vez tudo parecia correr bem até eu me meter a alterar a configuração da rede local nem lembro bem por que. E o problema nada teve a ver com Windows 8 e suas mumunhas, muito provavelmente teve mais a ver com alguma tolice feita por mim. O fato é que, embora a máquina aparecesse conectada a uma rede e indicasse acesso à Internet, nem eu conseguia acesso à rede nem à Internet. Sem acesso à rede não podia consultar meus arquivos que estavam no NAS. E sem Internet não podia baixar ferramentas de diagnósticos ou consultar a ajuda de Windows 8 que talvez me ajudassem a resolver o problema. E como eu estou convencido que rede de computadores nada tem a ver com ciência e tecnologia, mas constitui um dos mais arcanos e enigmáticos ramos da magia negra, já que dispunha de uma imagem do sistema Windows 7 prontinha e funcional ao alcance da mão, simplesmente refiz todo o trabalho, reconstitui a instalação do sistema anterior, fiz as devidas alterações nas contas de usuário e voltei a reinstalar o sistema (este segundo episódio poderia simplesmente passar em branco, já que tudo indica que nada teve a ver com Windows 8 mas sim com alguma tolice cometida por mim; porém decidi relatá-lo para que vocês percebam a real importância de dispor de uma imagem do sistema anterior no caso de uma instalação do novo: sem ela eu estaria até agora quebrando a cabeça e invocando os deuses da informática para desfazer o encanto que alguma bruxa malvada – cujo nome, suspeito, seja "Minha Estupidez" – lançou sobre o sistema).
Pois é isto. Dando os trâmites por findos, tudo o que acima está escrito pode ser condensado nas três sugestões abaixo:
A primeira, mais importante, e que vale não apenas para instalações de novos sistemas como para qualquer mudança radical a ser feita na máquina: antes de "meter a mão na massa" e efetuar alterações que não podem ser revertidas, crie imagens dos discos rígidos. Faça isto preferentemente em outros discos rígidos usados exclusivamente para este fim e, se não puder fazer de todos, faça pelo menos uma imagem do disco de sistema.
A segunda: se sua máquina contém um número relativamente pequeno de programas e você dispõe de meios de reinstalá-los e reconfigurá-los todos, sugiro que faça uma instalação de Windows 8 "limpa" e, depois, reinstale os programas. Destas, todas as que tentei, inclusive a da versão RTM, transcorreram sem o menor problema.
Finalmente, a terceira: se tiver que fazer uma instalação "por cima" de Windows 7 mantendo os aplicativos, dados e configurações, faça-o preferentemente sobre uma instância de Windows 7 na qual exista apenas uma conta de usuário com privilégios de administrador. Durante a instalação, se você já tiver uma conta Microsoft (Hotmail, Windows Live, MS Passport, MS Wallet ou qualquer outra ligada à empresa), entre com os dados – identificação de usuário e senha – quando solicitados no final da instalação que sua conta de usuário será automaticamente transformada nela.
Quanto a este último ponto, uma observação: você pode, se preferir, terminar a instalação mantendo sua conta local. Porém sugiro que mais tarde não deixe de criar uma "conta Microsoft" capaz de sincronizar seus dados com os do telefone celular e outras máquinas (você pode sincronizar inclusive com suas contas GMail). Manter a agenda de telefones, endereços, mensagens e mais um monte de traquitanas sempre sincronizadas em todos os dispositivos sem ter que tomar qualquer providência para isto é uma beleza.
Mas não é assunto para esta coluna que já ficou grande demais.