A versão final de Windows 8 já está disponível para os fabricantes de máquinas ("OEM", ou "original equipment manufacturers") e para os assinantes da MSDN. E eu já a estou usando em uma de minhas máquinas. E como dentro de pouco mais de um mês ela estará disponível no mercado (a MS anunciou oficialmente o lançamento para 26 de outubro próximo), já está em tempo de começar a discutir algumas de suas características.
A interface do sistema com o usuário mudou e, apesar da celeuma levantada pelo desaparecimento do botão "Iniciar", não mudou tanto quanto a discussão em torno do tema faz parecer. É verdade que o botão "Iniciar" de fato sumiu, mas sua funcionalidade permaneceu intocada, ou seja, tudo continua por lá, apenas em lugares diferentes. O problema é que poucas coisas irritam mais os usuários do que mudanças de lugar ainda que a mudança tenha uma razão para justificá-la e, por estranho que pareça, ainda que tenha sido para melhor.
Note que não estou necessariamente afirmando que todas as mudanças ocorridas em Windows 8 foram para melhor, estou apenas dizendo que reagir a mudanças é uma atitude comum. Tão comum que originou um adjetivo: "reacionário". Que acabou ganhando um cunho político mas que, ao que me parece, faz parte da natureza humana. Ou pelo menos da natureza da imensa maioria da humanidade, que costuma afirmar que não se deve "mexer em time que está ganhando" ou "mudar o que está funcionando". É claro que, seguindo escrupulosamente este raciocínio, ainda estaríamos usando o DOS e operando nossos micros com uma interface tipo linha de comando, que nos velhos tempos do XT funcionava perfeitamente. Pois, se bem me lembro, quando apareceram as interfaces gráficas houve um bando de gente reclamando daquelas "figurinhas" e achando que aquele negócio "não iria pegar". Mas pegou e não creio que quem naquela época reclamou da mudança esteja hoje disposto a retornar à interface tipo linha de comando. Assim é a vida.
Mas vamos ao que interessa: Windows 8 e suas novidades. Que não se limitaram às mudanças na Interface. Por exemplo: os que leram a coluna <http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2012/08/20/windows-8-em-mais-de-um-monitor/>"Windows 8 em mais de um monitor" publicada aqui mesmo há poucas semanas sabem que uma destas novidades é um suporte soberbo ao uso de monitores múltiplos na mesma máquina. E há outras, muitas outras. Como por exemplo o Windows Explorer, que não apenas está com a "cara" diferente como também ganhou algumas funcionalidades.
A mudança de cara, ou seja, da interface com o usuário, consistiu no emprego da chamada "Faixa de Opções" (que a MS batizou, em inglês, de "Ribbon"), aquela barra larga repleta de ícones agrupados que aparece no topo da janela do programa como se fosse (na verdade, é) uma grande barra de ferramentas e que pode ser vista na Figura 1.
Figura 1: Windows Explorer de "cara nova"
A reação à mudança
Portanto, o WE mudou. E, como era de esperar sempre que surge uma mudança radical, as reações foram das mais estapafúrdias. Por exemplo: James Plakfe publicou no sítio Geekosystem um artigo sobre o assunto cujo título, <http://www.geekosystem.com/windows-8-explorer-design/> "Windows 8 Explorer Design is Bizarre" dá uma ideia bastante clara de sua opinião sobre a mudança. Também Adrian Covert publicou na Gizmodo um artigo intitulado <http://blogs.msdn.com/b/b8/> "The New Windows 8 Explorer Looks Like a Mess" (O novo Windows 8 Explorer parece uma bagunça") com conteúdo muito parecido com o de Plafke. Claramente nenhum deles cobre de elogios a nova interface e em ambos – e muitos outros publicados na mesma época – se percebe que a reação à mudança foi bastante hostil. O problema é que os artigos foram publicados em agosto de 2011, há mais de um ano, quando não havia cópias beta de Windows 8 disponíveis, e tantoPlafke quanto Covert basearam suas observações exclusivamente em um artigo do <http://blogs.msdn.com/b/b8/> blog da Microsoft em que as mudanças foram anunciadas e algumas delas ilustradas com capturas de telas fornecidas pela MS.
Como se trata de uma interface com o usuário, ou seja, algo sobre o que somente se deve divulgar opinião depois de usar, escrever um artigo classificando as mudanças de "bizarras" e "uma bagunça" baseado em figuras e sem sequer experimentar a interface me parece no mínimo temerário. Mesmo eu, que já uso Windows 8 há algum há alguns meses, primeiro com a versão beta RTM e agora já com a versão final e, por via de consequência tenho recorrido bastante a seu WE, não teria a pretensão de me meter a fazer uma análise do novo aplicativo baseada em tão parca experiência. Pois com a mudança o WE ficou mais poderoso em virtude de algumas funcionalidades que lhe foram acrescentadas, teve sua flexibilidade extremamente aumentada devido ao fato de que todas as Faixas de Opções são sensíveis ao contexto (ou seja, oferecem funções diferentes de acordo com o objeto selecionado) e analisar tudo isto exige uma experiência continuada de uso muito mais extensa que a que acumulei até o momento.
Mas, com a ajuda do artigo de Steven Sinofsky <http://blogs.msdn.com/b/b8/archive/2011/08/29/improvements-in-windows-explorer.aspx> "Improvements in Windows Explorer" no blog da MS sobre Windows 8 (o mesmo em que se basearam as críticas antes mencionada), dá para entender a razão pela qual as alterações foram feitas e a linha de ideias adotada pela MS para implementá-las. E é este entendimento que pretendo compartilhar com vocês nesta coluna.
Mas, antes disto, vamos ver em linhas gerais em que consistiram as mudanças e expor as razões alegadas pela MS para implementá-las.
A alteração mais evidente – e justamente aquela que mais gerou protestos – foi a mudança da velha interface baseada em menus para a nova baseada na Faixa de Opções. O problema é que quanto a ela, não cabe muita discussão. As razões que levaram a MS a introduzi-la no Windows Explorer foram as mesmas que a levaram a inclui-la primeiro nos aplicativos do pacote Office, depois no Paint, Write e programas do MS Live Essentials e, a partir de agora, nos aplicativos Metro. A adoção das Faixas de Opções foi baseada em testes de usabilidade, elas foram testadas exaustivamente em anos de uso no Office e implementá-las é uma decisão estratégica da empresa. Continuar discutindo isto é uma perda de tempo. Mas quem estiver interessado em conhecer as razões que levaram a MS a usar este tipo de interface pode consultar uma coluna velha de seis anos sobre usabilidade, ainda do tempo em que a versão beta do Office 2007 foi distribuída e que pode ser encontrada aqui: "Usabilidade IV: MS Office 2007". Portanto, vamos pular esta parte. Vale apenas mencionar que, dado o clamor dos descontentes, a MS fez com que o Windows Explorer não mostre por padrão a Faixa de Opções. Mas ela lá está, distante apenas um clique.
Então vamos às mudanças. Segundo o artigo de Sinofsky todas as alterações introduzidas no WE foram feitas ou para atender pedidos dos usuários ou baseadas nas análise dos dados colhidos no CEIP (Customer Experience Improvement Program, ou programa de melhorias da experiência do usuário). Este programa, opcional, se baseia na observação telemétrica anônima da forma pela qual os usuários nele inscritos utilizam o aplicativo. Para reformular o WE foram analisadas centenas de milhões de sessões de uso por parte dos mais diversos tipos de usuários. Estas observações estão resumidas no gráfico da Figura 2, obtida no artigo de Sinofsky.
Figura 2: Uso dos comandos no WE
A simples observação desta figura leva imediatamente a duas conclusões. A primeira é que, embora o WE ofereça mais de duzentos comandos, os dez mais usados representam 81,8% do uso normal do aplicativo. A segunda é que o WE tem sido usado fundamentalmente para as tarefas relativas a gerenciamento de arquivos: 72,2% da utilização do programa é feita com este objetivo.
Outra observação interessante diz respeito à forma pela qual os usuários invocam estes comandos.
Sim, pois cada comando do WE pode ser acionado de uma dentre quatro diferentes formas: ou através de uma das entradas da Barra de Comandos no topo da janela (que, por ser o mais visível elemento de acionamento de comandos, era de esperar que fosseo de uso mais frequente), acionando um atalho de teclado, usando o menu de contexto de um dos itens (aquele que aparece ao se clicar com o botão direito sobre o ícone) ou, finalmente, teclando "Alt" para forçar o aparecimento da barra de Menus acima da Barra de Comandos, clicando sobre um dos menus e daí navegando até o comando desejado. Pois bem: a análise dos dados do CEIP (exibida na Figura 3) mostrou que, de longe, a forma mais usada foi o acionamento do menu de contexto (mais da metade das vezes), seguida pelos atalhos de teclado (cerca de um terço das vezes). A Barra de Comandos ficou em um longínquo terceiro lugar, com pouco mais de um décimo das vezes e aos menus, cuja perda de evidência é a razão do enorme clamor que se alevantou contra a mudança, já que todas as demais continuam lá, quase ninguém recorre.
Figura 3: Forma de invocar comandos no WE
E por que a Barra de Comandos, supostamente o meio mais óbvio de introduzi-los, tem sido tão pouco usada pelos usuários? Bem, segundo Sinofsky porque apenas dois dos comandos mais usados podem ser acessados diretamente desta barra (a Barra propriamente dita e o comando de renovar o conteúdo da janela, "Refresh").
Figura 4: Aspecto da Faixa de Opções "Início" com a porcentagem de uso de alguns comandos
Pois bem: como eu disse, as Faixas de Opção do WE são sensíveis ao contexto e mudam conforme o objeto selecionado para oferecer os comandos mais adequados a ele (o que, por si só, já é altamente positivo). Portanto a Figura 4 mostra apenas um dos aspectos da Faixa de Opções "Início", aquele mostrado quando o painel direito exibe pastas e arquivos e o objeto selecionado é um arquivo. Logo,os comandos que nela aparecem são principalmente os aplicáveis a arquivos.
Nela eu inclui, em números negros no interior de retângulos vermelhos, a porcentagem de uso de alguns de seus comandos, representados por seus ícones. Estas porcentagens correspondem aos dez comandos mais frequentemente usados. Reparem: agora, com o uso das Faixas de Opções, todos eles se encontram a um único clique de distância.
Uma das razões que me levam a estranhar o volume de reclamações é que todos os meios usuais e tradicionais de invocar os comandos, assim como todos os comandos antigos, continuam disponíveis na nova interface. Os atalhos de teclado não apenas foram mantidos como foram sensivelmente ampliados e agora TODOS os comandos dispõem de um atalho de teclado. Os menus de contexto continuam funcionais. A única coisa que desapareceu foram os menus de cortina, que como demonstram os dados do CEIP, quase ninguém mais usava. Sinceramente, não percebo a razão de tanto alarido...
Outras alterações menos perceptíveis
Mas não foi apenas a forma de acionar os comandos via Faixa de Opções que mudou na interface do WE. A disseminação do uso de telas largas levou à adoção de um formato mais alongado para a janela do WE. Por isto a antiga Barra de Status desapareceu da base da janela e foi substituída por um "Painel de Detalhes" situado do lado direito da janela principal com todas as informações detalhadas sobre o item selecionado. Se, em vez dos detalhes, você preferir examinar o próprio item, pode optar por exibir o "Painel de Visualização". Ou nenhum destes dois, se desejar abrir mais espaço no painel direito.
Figura 5: O Painel de Visualização
Além disto, principalmente para atender o desejo dos usuários, novos comandos foram incluídos (como o muito útil "Copiar Caminho", que aparece na Figura 4 logo abaixo de "Recortar" e permite, com um único clique, copiar o caminho completo e o nome do objeto selecionado para a Área de Transferência, permitindo colá-lo em outro aplicativo, uma mão na roda e a principal solicitação dos usuários) e a seta para o alto (em azul, do lado esquerdo da caixa de endereços na Figura 4) que move o foco um nível acima retornou (ela existia no WE do Windows XP e sua volta também atende aos pedidos dos usuários).
Em suma: no que toca à minha experiência pessoal, a interface do WE8 mudou, mas mudou para melhor. Em nenhum momento me senti "perdido" diante da Faixa de Opções (admito que meu uso frequente deste recurso no Office, ao qual recorro diariamente, talvez tenha facilitado) e jamais deixei de usar um comando por não encontrá-lo.
Vamos esperar o produto ser lançado para ver se, com a "mão na massa", os usuários mudam de opinião. Até lá, vou continuar a usar Windows 8 (com a instalação da versão final em uma de minhas máquinas já o estou usando para trabalhar e quando vocês lerem esta coluna ele já deverá estar instalado em minha máquina principal) e então eu poderei, se for do interesse de vocês, descer a maiores detalhes sobre as mudanças do WE e ensinar o "caminho das pedras" para facilitar o uso diário.
Vamos ver no que dá.