Vamos falar de PCs. Os bons e velhos computadores pessoais cuja história começou de verdade com o surgimento do primeiro que recebeu este nome, o IBM PC que deu origem a uma vasta descendência.
Então, vamos lá: quando se fala de PC, quais são as empresas que lhe vêm à mente? Pense aí em umas quatro ou cinco, incluindo fabricantes de computadores e componentes ou desenvolvedores de aplicativos e sistemas operacionais.
Eu não sei em que nomes você pensou, mas muito provavelmente um ou mais destes quatro estavam incluídos em sua relação: HP, Dell, Microsoft e Intel.
Figura 1
Como vão eles?
Há alguns anos a HP vem disparando. Mas disparando ladeira abaixo, bem entendido.Hoje vale apenas 35 bilhões de dólares americanos. E se você estranhou o "apenas" associado a uma cifra desta monta, leve em conta que ela representa menos da metade do que a empresa valia cinco anos atrás. Bem menos: de junho de 2007 até junho passado o valor de mercado da empresa caiu sessenta porcento. Isto depois de gastar 40 bilhões de dólares em aquisições que redundaram em fiasco.
Há quem pense que a queda foi consequência de uma direção desastrosa. O analista Brian Marshall, da ISI, acha que ela teve início com a atuação de Carly Fiorina, que provocou o cataclismo adquirindo a Compaq dez anos atrás. Mas os dois principais executivos (CEOs, ou Chief Executive Officers) que a substituíram, Mark Hurd e Leo Apotheker, em nada ajudaram, muito pelo contrário. Ambos foram postos para correr e em seu lugar, há cerca de um ano, Meg Whitman luta para recuperar a corporação. Sem muito sucesso, porém: em meados de agosto a empresa anunciou um prejuízo líquido de 8,9 bilhões de dólares, o maior da história da empresa.
E a Dell? Afinal, esta empresa era tida como o paradigma do sonho americano, uma gigante nascida quando seu fundador e principal executivo, Michael Dell, ainda frequentava os bancos da universidade e descobriu que o segredo do negócio era vender máquinas praticamente sob medida conforme o gosto de cada comprador. Criou uma logística capaz de fornecer computadores montados de acordo com as especificações do cliente em um tempo surpreendentemente curto e cresceu até chegar a uma receita anual da ordem de sessenta bilhões de dólares.
Como vai ela agora?
Bem, esta também não anda lá muito bem das pernas. Há cerca de um mês a empresa reajustou sua já minguada previsão de lucro anual para 2012 em vinte porcento. Para baixo. Um declínio que vem se manifestando desde 2007.
Bryan Murphy, analista da Smallcap Network, é um dos que atribuem a derrocada a uma série de aquisições mal sucedidas – de 24 empresas apenas de 2007 para cá. Mas é evidente que não dá para debitar estes insucessos apenas à má administração das empresas. As causas devem estar enraizadas no próprio mercado.
O que há de ser verdade. E, quando se pensa assim, pensa-se imediatamente nos tabletes e telefones espertos, estas maquinetas infernais que fazem quase tudo que os PCs fazem a uma fração do preço, na base de baterias e permanentemente conectadas. Serão estes pequenos demônios os causadores do fracasso das gigantescas Dell e HP?
Talvez sim. Ou talvez não.
O colunista Michael Liedtke, em <http://www.huffingtonpost.com/2012/08/27/hp-dell-problems_n_1832344.html> artigo publicado na Huff Post Tech, considera que a principal causa das dificuldades de ambas foi a inabilidade para se adaptarem a duas novas tecnologias que aparecem como as coqueluches do mercado: o armazenamento em nuvem ("cloud computing") e o gerenciamento de grandes massas de dados ("big data"), ambos assuntos de colunas recentes. São atividades que, nos últimos tempos, recompensam as empresas que as oferecem com margens de lucros muito maiores que a oferecida aos fornecedores de hardware, que vem definhando cada vez mais devido à concorrência.
Mas seja lá por que razão for, nem HP nem Dell podem ser citadas ultimamente como exemplos de grande sucesso comercial.
E a Intel, como vai o maior fabricante mundial de semicondutores, a empresa que ocupa a indiscutível liderança no mercado dos microprocessadores de alto desempenho, o coração dos PCs?
Bem, também ela anunciou uma queda na estimativa das vendas para o terceiro trimestre de 2012. Uma queda nada desprezível de uma previsão inicial entre US$ 13,8 bilhões e US$ 14,8 bilhões (média: 14,3 bilhões) para um novo patamar situado entre US$ 12,9 bi e US$ 13,5 bi (média: 13,2 bi). Não é nada, não é nada, são um bilhão e cem milhões de dólares americanos a menos em apenas três meses. Não vai quebrar a empresa que, afinal, vai continuar a vender um monte de bilhões de dólares. Mas faz pensar. Por que o declínio?
Bem, esta redução da previsão de vendas deve-se à redução das ordens de compra por parte dos clientes, redução que se manifestou justamente na época em que usualmente as encomendas deveriam crescer devido à temporada dos feriados de final de ano. Segundo Ian King, da Bloomberg, a demanda corporativa por processadores usados nas máquinas de mesa ("desktops") oriunda dos mercados emergentes sofreu um inesperado declínio, indicando que "o mercado de PCs não deve crescer esta ano na medida em que os consumidores migram para os telefones espertos e tabletes". Já a Intel atribui a queda da demanda por máquinas de mesa a uma consequência natural da retração do mercado corporativo em uma época de crise. Seja lá qual for a causa, a Intel não costuma anunciar quedas de vendas.
Mas e a Microsoft, a grande gigante do software, o bicho-papão do mercado, a quantas anda?
Ao que parece também não vai lá muito bem...
É verdade que sua receita bruta no último trimestre foi a maior da história da empresa: um recorde de 18,06 bilhões de dólares americanos. O que parece indicar que as coisas vão muito bem. O problema é que receita bruta recorde não significa grande coisa quando o resultado líquido foi negativo: um inédito prejuízo no trimestre da ordem de US$ 492 milhões. E o que torna as coisas ainda mais negras é o fato de que, no mesmo período do ano anterior, a empresa apresentou um lucro líquido de US$ 5,87 bi.
É fato que a MS pode justificar o prejuízo pela iminência do lançamento de Windows 8, que sempre provoca alguma retração do mercado. E espera recuperá-lo tão logo o novo sistema esteja nas prateleiras. Mas ainda assim, no geral, as coisas andam sombrias.
Diz Michael Liedtke em <http://www.huffingtonpost.com/2012/08/27/hp-dell-problems_n_1832344.html> seu artigo: "The latest projections for PC sales also paint a grim picture. The research firm IDC now predicts PC shipments this year will increase by less than 1 percent, down from its earlier forecast of 5 percent" (As mais recentes projeções de vendas do PC pintam um quadro sombrio. A empresa de pesquisas IDC prevê que este ano as vendas de PCs vão crescer menos de um porcento, reduzindo sua previsão anterior de cinco porcento).
É, meu amigo, ao que parece a coisa anda feia.
Pelo menos para mim, que sou chegado a um PC e não sei viver sem ele. É claro que tenho meu tablete que carrego de um lado para outro e pouco uso, assim como meu telefone esperto que jamais abandono e uso muito. Mas, digitando estas mal traçadas em frente a meus três monitores de 24" com o Word no do centro, minha agenda e correio eletrônico abertos no da esquerda e meu navegador no da direita com dez janelas (acabei de contar) que consulto frequentemente enquanto escrevo, não consigo me imaginar editando esta coluna batucando com os dedos em uma telinha de dez polegadas enquanto espremo os olhos para que a vista cansada consiga decifrar as letrinhas ao escrevê-las. Pra mim, não dá.
Mas não sou eu que faço o mercado. Quem faz o mercado são vocês, leitores, da idade de meu filho ou um pouco mais novos. E quem o fará dentro em pouco são meus netos.
E quando vejo o jovem Biel, com seus dois anos e meio e mal começando a falar, se aproximar de minha televisão de tela plana, ficar nas pontas dos pés para alcançar a tela e arrastar seu dedo indicador sobre ela de um lado para o outro tentando fazer com que alguma coisa se mova – como sempre acontece quando ele faz o mesmo no telefone esperto de sua mãe – começo a pensar que, sim, os tempos estão mudando.
E fico a imaginar se devo ou não remover aquele ponto de interrogação do final do título desta coluna.
Mas não, melhor deixá-lo lá.
Nem tanto por coerência com os fatos, naturalmente.
Simplesmente por aquilo que se convencionou chamar de "pensamento positivo".
Vamos ver no que vai dar...