Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
Volte
16/07/2012

< Um prédio ambientalmente correto >


Em geral empresas como a SAP não costumam frequentar esta coluna. Isto porque, sendo uma das líderes mundiais no mercado de aplicativos empresariais, seu principal campo de atuação se espraia pelos escritórios das grandes empresas. E a maioria dos leitores desta coluna são usuários domésticos ou trabalham em pequenas ou micro empresas. Mas desta vez vou abrir uma exceção e por boas razões.

A exceção não se deve apenas ao fato de que, com a disseminação da computação em nuvem, a SAP estendeu seu alcance e passou a oferecer serviços também a pequenas empresas com o "SAP Business One", uma solução completa de baixo custo que consiste em um produto integrado de gestão de negócios com gerenciamento financeiro, controle de estoque, acompanhamento do relacionamento com os clientes, automação dos processos de compra e geração de relatórios a um custo mensal inferior a R$ 150 por usuário adotando a modalidade SaaS ("Software as a Service"). A razão é outra: a empresa SAP será o assunto desta coluna devido ao anúncio do início da construção da ampliação do SAP Labs Latin America.

Continua não fazendo muito sentido, pois não? Mas se você tiver paciência logo entenderá o porquê disto tudo.

Para começar, não foi um simples "anúncio do início da construção da ampliação". Ou melhor, foi, sim, mas feito no próprio local da construção, nos terrenos da UNISINUS, em São Leopoldo, RS e cercado de toda a pompa e circunstância que a ocasião pedia, pois foi realizado na presença de representantes da diretoria da SAP Global, do reitor da UNISINOS, do prefeito de São Leopoldo e do Governador do Rio Grande do Sul. E como parte integrante de um evento que contou com a cobertura da imprensa especializada em tecnologia e economia.

Figura 1: Cerimônia de anúncio da expansão do SAP Labs.

Além disto, o SAP Labs Latin America se situa nos terrenos do TECNOSINOS, o parque tecnológico da UNISINOS que abriga laboratórios e centros de pesquisas de empresas de nove diferentes nacionalidades. E a UNISINOS não é coisa pouca: uma das mais conceituadas universidades do Sul do país, conta com 27 mil estudantes de 60 cursos de graduação, 20 de mestrado e 10 de doutorado.

Quanto à sua importância para a empresa e para o parque industrial nacional, o SAP Labs Latin America também não é de se desprezar. Integra uma rede composta por quinze laboratórios da empresa dispersos pelo mundo cujo objetivo é desenvolver e localizar soluções que atendam as peculiaridades dos clientes de cada região. No caso da unidade de São Leopoldo, o foco é a América Latina. E suas atividades, além da execução de pesquisas e desenvolvimento de soluções, abrangem suporte técnico a clientes e treinamento de pessoal técnico tanto de parceiros como da própria SAP. Portanto, sua ampliação é um fato digno de destaque. Mas, este caso particular se reveste de uma característica especial: mais interessante que o evento em si e que a própria ampliação das atividades do SAP Labs é o prédio a ser construído.

Trata-se de uma construção que estará pronta para ser inaugurada e ocupada em 2013. Um prédio que complementará o já existente, inaugurado em 2006, e cujo projeto se integra harmoniosamente com a construção atual, que pode ser vista na Figura 2.

Figura 2: Prédio existente do SAP Labs

As novas instalações, com seus quase dez mil metros quadrados de área construída que acomodarão 500 pessoas e nos quais serão gastos R$ 50 milhões, duplicarão a capacidade das existentes. O que bastaria para ser considerada uma obra de respeito.

Mas não é só isto. Na verdade o que mais chama a atenção – e que levou a simples ampliação de um prédio a ser abordada aqui – é a concepção do projeto, que resultará em um prédio ambientalmente correto e perfeitamente integrado não apenas à construção atual como também ao ambiente natural onde se situa: um parque arborizado que circunda as instalações da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, situado em uma cidade de porte médio (São Leopoldo abriga pouco mais de duzentos mil habitantes) no interior do Rio Grande do Sul, porém nas cercanias da capital Porto Alegre.

E o que tem este projeto de tão especial que o levou a ser discutido em uma coluna voltada para a tecnologia?

Ora, o fato de obedecer estritamente às recomendações do LEED (Leadership Energy and Environmental Design), tão estritamente que o complexo foi enquadrado na categoria "Ouro" (Gold) LEED.

Mas o que vem a ser isto?

Segundo a Wikipedia (em inglês), o < http://en.wikipedia.org/wiki/Leadership_in_Energy_and_Environmental_Design > LEED é um conjunto de normas e sistema de classificação desenvolvido pelo US Green Building Council visando o projeto, construção e operação de construções industriais e residenciais que possam ser classificados como "prédios verdes" ("green buildings", na acepção ambiental do termo). Construções aderentes a este sistema infligem o mínimo de agressão ao meio ambiente.

O US Green Building Council foi criado em 1998 visando oferecer aos projetistas, construtores e usuários de edificações um conjunto conciso de recomendações para identificar e implementar soluções que não agridam o meio ambiente e que venham a ser empregadas no projeto, construção, operação e manutenção de edificações. Há três anos foi instituído o LEED 2009, que avalia cem pontos distribuídos por cinco categorias e, dependendo de como são atendidos, atribui quatro níveis de certificação: "Certificado", "Prata", "Ouro" e "Platina". O objetivo do LEED 2009 é pontuar os projetos com créditos com base nos benefícios para o homem e no potencial de impacto ambiental de cada crédito. O sistema se apoia no esquema de avaliação de impactos ambientais estabelecido pelo NIST ("National Institute of Standards and Technology" ou instituto nacional [americano] para padrões e tecnologia).

Hoje as diretivas do LEED 2009 já foram usadas em mais de sete mil projetos tanto nos EUA quanto em 30 outros países cobrindo mais de 140 quilômetros quadrados de área construída e aprovados por 20.000 instituições. Talvez a edificação mais conhecida dentre as que receberam a certificação LEED Ouro, a mesma atribuída ao complexo de prédios do SAP Labs Latin America, seja o Empire State Building, em Nova Iorque, EUA, cujo projeto de adaptação foi concluído em setembro de 2011.

A construção utiliza predominantemente três materiais: vidro, madeira e concreto aparente. Este último material exige um acabamento mais fino, porém dispensa a utilização de material de revestimento. E a própria confecção do concreto obedece a critérios ambientais: cerca de 30% do material de enchimento é reciclado.

Toda a madeira usada no projeto (e é usada abundantemente, seja no piso, seja em algumas estruturas e nas poucas áreas onde o revestimento é necessário) é certificada, garantido que provém de fonte legal. E o vidro, além da total visibilidade externa que propicia em um ambiente quase bucólico, permite generoso uso da iluminação natural, com a consequente economia de energia. O resultado disto, mostrado na Figura 3, é a criação de um ambiente particularmente prazeroso para o exercício do trabalho intelectual que oferece raras condições de conforto – condições estas que, segundo pesquisas independentes, levam 84% dos que lá exercem suas atividades a se declararem satisfeitos com o emprego e garantem uma baixíssima taxa de renovação de pessoal, apenas 3,1%. E note-se que se trata de um pessoal exigente: a idade média dos que trabalham no SAP Labs Latin America é de apenas 27 anos.

Figura 3: Prédio existente, vistas internas

Mas não foram apenas o projeto e construção que mereceram cuidados ambientais. A operação e manutenção do complexo também foi alvo de atenção especial. Nelas foram tomados cuidados que vão desde o minucioso controle do consumo de energia, manejo e reciclagem de resíduos, até o reuso da água: os esgotos sanitários gerados no local são tratados até nível secundário e o efluente é usado para a rega de jardins e descarga de vasos sanitários.

O resultado foi um prédio que agride minimamente o meio ambiente, se integrando com ele. E que, sobretudo, oferecendo condições extremamente confortáveis para o trabalho.

Além de ser bonito, naturalmente.


B. Piropo