Em princípio eu tinha considerado este assunto por findo. Porém, considerando que o problema, afinal, teve uma solução (ou pelo menos eu presumo que tenha tido; já esclareceremos a razão de minha dúvida) e a coluna gerou um inusitado número de comentários – alguns merecendo uma coluna inteira para responder, se isto fosse possível – eu decidi voltar ao tema.
Vamos começar pela solução.
Segunda-feira, dia nove de abril, pouco depois nas nove da manhã eu decidi ligar mais uma vez para a Ai Lerdax. Afinal havia exatamente um mês que minha solicitação de habilitação do sinal havia sido feita e, quem sabe, eles tivessem preparado alguma comemoração. Atendeu Cleciana, a quem pedi informações sobre o andamento do serviço (Protocolo # 20121049501861). Ela me informou que a ordem de serviço de habilitação do sinal no novo endereço havia sido fechada quatro dias antes (coincidentemente, pouco depois da publicação da < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2012/04/04/banda-estreita-ai-lerdax/ > coluna anterior e dela haver começado a gerar comentários de leitores solidários) e que eu deveria, portanto, estar com o sinal perfeitamente funcional. Respondi que não estava. Ela então informou que "seria feita uma verificação na central telefônica e que se lá tudo tivesse OK um técnico entraria em contato comigo para marcar uma visita ao local". Como eu já tinha ouvido esta explicação vezes sem conta e já estava prestes a desistir dos serviços da Ai Lerdax, simplesmente dei de ombros e deixei o assunto de lado – não antes de haver fornecido meu número de celular à pedido da Cleciana.
Como até às treze horas ninguém havia entrado em contato, fui almoçar como de hábito. E eis que, para minha imensa surpresa, recebo uma ligação da Ai Lerdax informando que o técnico havia comparecido ao local e que não me havia encontrado. Respondi que o fenômeno devia-se ao fato de a linha ser comercial, estar instalada em um escritório e que eu era dado ao estranho vício de me alimentar regularmente, ou seja, na hora do almoço não costumava estar no escritório. Ela então perguntou a que horas eu deveria estar de volta. Informei e continuei a almoçar, ainda sem grandes esperanças.
Lá pelo meio da tarde recebi uma ligação do técnico. Perguntava se eu estava presente e se ele poderia agendar uma visita. Respondi que sim, mas isto somente seria possível naquela mesma tarde, já que no dia seguinte eu entraria em gozo de férias e pretendia cancelar o serviço. Ele disse, então, que se encaminharia imediatamente para o local.
Cerca de meia hora depois me aparece o Vitor, um jovem técnico, educado e atencioso. Examinou o modem, desligou-o e ligou-o, substitui-o por um novo que trouxe com ele, refez a operação e como obteve o mesmo resultado constatou aquilo que eu já havia repetido vezes sem conta às atendentes, ou seja, o sinal de dados não estava presente na linha.
Ligou então para alguém na central telefônica e deu conta do fato de que, efetivamente, sinal não havia. Como eu só podia acompanhar um lado da conversa, não sei o que lhe foi dito. Mas sei que ele insistiu que tudo indicava que o "jumper" não havia sido conectado (mesmo sabendo o que isto queria dizer, depois perguntei para me assegurar e ele esclareceu que a ligação do sinal à minha linha simplesmente não havia sido feita na central telefônica). Quando desligou disse que o problema seria resolvido dentro de alguns minutos.
De fato, cerca de quinze minutos depois o LED que indica a presença do sinal da Internet acendeu-se milagrosamente. Vitor me pediu para testar com o modem ligado diretamente no computador (e não no roteador, como estava), eu testei e o sinal manifestou-se sob a forma de uma tela do Google perfeitamente operacional. Como a conexão contratada é de dois Mb/s (pretendo aumenta-la quando retornar de férias e se isto der origem a outra novela, prometo conta-la para vocês), testei a taxa usando o < http://www.speedtest.net/ > Speedtest, um excelente serviço gratuito, que indicou uma taxa efetiva de transferência para minha máquina de 1,9 Mb/s, ou seja: 95% da taxa contratada. Nada mau.
Nesta altura dos acontecimentos já passava do horário de saída e era véspera de férias. Agradeci ao Vítor pela presteza, desliguei toda a parafernália e pus o pé na estrada que ninguém é de ferro (por isto afirmei não garantir que o problema foi realmente resolvido; só saberei com certeza certa quando retornar de férias no início de maio).
Pois foi assim que sucedeu o sucedido.
Que merece alguns comentários adicionais, pois não? Então vamos a eles.
Comentários
Para começar, é impossível não destacar que fiquei um mês impedido de usar a Internet no meu trabalho exclusivamente devido à inépcia, incompetência, imperícia, descaso, falta de comunicação entre as partes envolvidas e absoluto desinteresse de TODOS os funcionários da Ai e da Lerdax com quem entrei em contato por telefone relatando o problema e pedindo solução. O que fica evidente quando se percebe que quinze minutos depois que um técnico – a única pessoa que mostrou algum interesse – constatou que o problema efetivamente existia o sinal fez-se presente. E se isto ocorreu um mês depois da solicitação feita foi porque apenas nesta ocasião alguém se interessou efetivamente em resolver o problema. Que poderia ter sido resolvido igualmente no dia seguinte e eu teria tido possibilidade de usar a Internet em meu trabalho um mês antes.
O segundo ponto é que a empresa funciona em compartimentos estanques. Tão estanques que no início deste mês recebi duas contas, uma cobrando o serviço de transferência de endereço e o serviço telefônico (com zero minutos de utilização, posto que o telefone em questão durante todo o mês de março foi usado exclusivamente para me comunicar com a Ai Lerdax e este tempo não é computado) e outra, pasmem, cobrando a utilização do Velox durante o mês em que o sinal estava inativo. Paguei ambas. Vou discuti-las junto aos serviços de proteção ao consumidor quando retornar das férias. Até lá, quero sossego.
Agora, os comentários dos leitores.
A imensa maioria se solidarizou com meu sofrimento. Quase todos relataram experiência igual ou semelhante. O único que, embora não defendesse a empresa, procurou explicar sua ineficiência foi o Renatodll que, informando já haver trabalhado grande parte de sua vida "em uma grande telecom", alegou que os desencontros e o mau atendimento "são problemas comuns, se deve a alta complexidade das regras de negócio da TELECOM que é agravada pela baixa valorização aos profissionais de TI". Sou obrigado a discordar. Em nenhum momento até o dia em que o sinal foi efetivamente habilitado mantive contato com qualquer profissional de TI. Todas as solicitações e reclamações foram tratadas com as péssimas profissionais de atendimento telefônico da empresa que consideram um problema resolvido não quando isto efetivamente ocorre, mas quando elas se livram do usuário que insiste em relatar seus problemas, uma gente chata que parece não ter mais o que fazer a não ser perturbar a leitura, o tricotar ou a resolução das palavras cruzadas às quais presumivelmente elas se dedicam a resolver com afinco enquanto estão em frente a seus terminais.
Alguns leitores, no entanto, me recomendaram recorrer à ANATEL.
Não o fiz e tenho boas razões para isto.
O recurso à ANATEL
No final de seu comentário, o leitor Renatodll escreve: "A Anatel é uma máfia formada para proteger as TELEs e não os consumidores, enquanto existir esta entidade vai existir estes problemas".
Se a ANATEL é, de fato, uma máfia formada para proteger as Teles, não sei. Quem afirma é o leitor.
Mas posso relatar um fato que ocorreu comigo e que mostra bem como funciona a cabeça dos dirigentes do órgão. Um fato que, salvo engano, já relatei aqui mesmo, portanto os que dispõem de paciência para acompanhar meus escritos há muito tempo não devem estranhar se já tiverem lido algo parecido. Mas como cabe perfeitamente no contexto desta coluna, aqui vai o relato.
Há alguns anos, talvez cerca de uma década, eu cobria um evento sobre tecnologia das telecomunicações onde assisti diversas palestras. Uma delas foi proferida por um dos diretores da ANATEL cujo nome não me ocorre e nem importa. O que importa é expor a forma pela qual ele enxerga as relações entre usuários e prestadoras.
Ao final da palestra teve início a sessão de perguntas. Na época começavam a aparecer os serviços de telefonia via Internet usando a tecnologia "voz sobre IP", ou VoIP. Hoje eles já estão se tornando comuns mas na época eram novidade e as Teles reclamavam a mais não poder, posto que se poderia fazer uma ligação de longa distância para telefones da rede pública via VoIP e pagando uma fração irrisória do preço cobrado por elas, que insistiam que o serviço era ilegal pois a legislação brasileira proibia que uma ligação originada no país em meios digitais usasse qualquer trecho da rede pública.
Perguntei, então, se eu ou algum outro usuário estaria cometendo uma ilegalidade ao usar o computador para estabelecer uma ligação VoIP para um servidor sediado em outro país, por exemplo nos EUA e este servidor – fora, portanto, do solo brasileiro – conectasse a rede pública e me pusesse em contato com um telefone no Brasil. Isto poderia ser proibido pelas autoridades brasileiras?
A resposta do cavalheiro, representante da agência reguladora dos serviços de telecomunicações no país e, em última análise, responsável pelas relações entre os consumidores destes serviços e suas prestadoras, foi a seguinte, o mais textualmente que minha memória cansada permite recordar:
-"Infelizmente não. Como a chamada foi originada fora do território brasileiro, a ANATEL não tem como intervir".
Respondi que havia entendido perfeitamente sua resposta, com exceção de uma única palavra: o "infelizmente" com que ela se iniciava. Pois se o serviço não era ilegal e se beneficiava os consumidores sem infringir qualquer dispositivo legal e apenas reduzia os lucros absurdos das prestadoras, por que ele, que em tese representava os interesses dos consumidores, achava que aquela era uma situação "infeliz"?
Fui aplaudido pelo restante do auditório e o sujeito, um tanto envergonhado, veio com uma longa explicação sobre a necessidade de "proteger os investimentos das empresas".
Não convenceu.
Mas deixou perfeitamente clara a mentalidade reinante entre os burocratas cuja função é regular as relações dos consumidores com as prestadoras dos serviços de comunicação.
Entendem agora por que eu não recorri à ANATEL?
OBS: desculpem a coluna mais curta e não ilustrada. Mas estou de férias, partindo hoje para o exterior e ainda tenho um monte de coisas para aprontar. Vou visitar alguns países da Europa e lá tentarei obter sinal de dados via 3G para meus dispositivos portáteis. Se conseguir, contarei como. Abraços e até breve.