Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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06/02/2012

< Joga Brasil, o evento >


Há algumas semanas, na abertura da coluna < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2012/01/08/a-placa-de-seu-%E2%80%9Chome-theater%E2%80%9D-e-os-jogos-nacionais-2/ > “A placa de seu “Home Theater” e os jogos nacionais”, publiquei um convite para que os leitores do Rio de Janeiro comparecessem a um evento peculiar: o < http://www.jogabrasil.com.br/ > “Joga Brasil”, cujo objetivo foi divulgar a existência de um denodado grupo de desenvolvedores de jogos nacionais, dar publicidade a suas empresas e incentivar contatos entre elas e seus consumidores e, sobretudo, distribuidores.

Pois bem: o evento foi realizado na data aprazada, dias 28 e 29 de janeiro passado, o último final de semana daquele mês e, dentro de suas devidas proporções, foi um sucesso.

Eu não poderia deixar de comparecer, já que participei ativamente na divulgação (e não fui o único; a seção < http://www.jogabrasil.com.br/na-midia/ > “Imprensa >> Na mídia” do sítio do evento mostra dezenas de artigos de divulgação tanto em jornais quanto em sítios de notícias da Internet e, sobretudo, em blogs). E, de fato, lá estive no final da tarde do sábado, dia da palestra de meu mestre e amigo Renato Degiovani, para juntar o útil ao agradável.

Figura 1: Local do evento, n Faculdade CCAA

O evento foi realizado nas instalações da Faculdade CCAA, um dos apoiadores do Joga Brasil. Instalações excelentes, aliás, perfeitamente adequadas ao porte do evento, ainda em sua primeira edição. A instituição pôs à disposição do “Joga Brasil” não apenas o amplo saguão de um de seus andares superiores, onde se localizaram os estandes dos expositores, como os auditórios e salas onde foram realizadas as palestras e mesas redondas, assim como diversas pequenas salas de reuniões onde se fizeram os contatos comerciais entre as empresas presentes – expositores, distribuidores e revendedores, pois além de divulgar a existência da ainda incipiente indústria nacional de jogos, havia também um forte componente comercial no evento, já que ninguém é de ferro...

Figura 2: Piropo e “Slotman”

Fui recebido pelo bravo José Lúcio Gama, o “Slotman”, idealizador e principal organizador do Joga Brasil (aí estamos nós, na Figura 2, no salão de exposições do evento, na Figura 2). José Lúcio é um batalhador. Sua empresa, a Icon Games, desenvolve jogos desde 2003 (Bola de Gude, Detetive Carioca, Mahjong Max são alguns exemplos, mais conhecidos no exterior, onde são licenciados em diversos países, que no Brasil, onde são desenvolvidos). Luta bravamente, ao lado dos abnegados colegas das demais empresas expositoras (veja lista completa, assim como os atalhos para seus sítios, na página < http://www.jogabrasil.com.br/expositores/ > “Expositores” no sítio do evento) com as dificuldades de sempre: impostos extorsivos, concorrência desleal da pirataria e coisas que tais. Mas a maior delas, a que mais tem entravado o desenvolvimento da indústria nacional de jogos, é justamente a inexistência de um mercado interno para seus produtos.

O paradoxal é que não se trata do fato de que “o brasileiro não é chegado a jogos de computador”. Muito pelo contrário: o mercado brasileiro de jogos existe e é significativo. O problema é que, muito provavelmente por puro desconhecimento (pois, pelo que pude ver na exposição dos desenvolvedores no Joga Brasil, não há deficiência em qualidade), este mercado não desenvolveu o hábito de consumir jogos nacionais.

Pois foi para reverter este quadro que Slotman foi à luta, conseguiu a adesão entusiasmada das empresas do setor e partiu em busca de apoio para realizar a primeira (de muitas, espero eu) edição do Joga Brasil. E foi muito bem sucedido em sua empreitada.

O Joga Brasil não foi – e, consideradas as proporções da indústria brasileira de jogos, não poderia ser – um evento tipo “arrasa quarteirão”, destes que provocam engarrafamento nas vizinhanças. Mas sou obrigado a admitir que superou de longe minhas expectativas seja pelo número de participantes – tanto expositores quanto visitantes – seja pela qualidade do material exposto e pelo conteúdo das palestras. E, embora tenha sido um evento realizado e divulgado principalmente no Rio de Janeiro, contou com a participação de expositores e visitantes de todo o país.

Figura 3: vista parcial do salão de exposições

A figura 3, acima, mostra uma vista parcial do salão de exposições (a lista oficial de expositores incluía dez empresas e algumas usaram mais de um estande) e alguns dos visitantes, já no final da tarde do sábado, dia de abertura do evento. E a Figura 4 mostra parte da plateia de uma das palestras (a de Antonio Marcelo, da Riachuelo Games, sobre “Design para dispositivos móveis”).

Figura 4: Palestra “Design para dispositivos móveis”.

Minha presença no evento no final de seu primeiro dia não foi casual. É que aquela era a hora aprazada para a palestra de Renato Degiovani.

Como estão fartos de saber os que são suficientemente pacientes para acompanharem minhas colunas, comecei a me interessar por computadores em meados dos anos oitenta do século passado. Por razões que agora não vale a pena mencionar, concluí que não poderia continuar como profissional de engenharia – ou, pelo menos, como bom profissional – se não desenvolvesse alguma familiaridade com aquela máquina que, naqueles dias, ainda havia quem chamasse de “cérebro eletrônico”.

E comprei um MSX.

Naqueles bravos tempos pioneiros, literatura técnica praticamente não havia. E muito menos sob a forma de revistas brasileiras. A única que trazia algum conteúdo técnico era a brava e pioneira Micro Sistemas.

Renato Degiovani era seu editor. Além de articulista, naturalmente. E seus artigos interessavam principalmente aos proprietários da linha MSX.

Figura 5: Renato Degiovani e este vosso amigo, sendo entrevistados;
sobre a mesa, exemplares antigos da Micro Sistemas.

Pois foi assim que conheci Renato Degiovani: como editor da Micro Sistemas.

Nesta altura dos acontecimentos eu já havia me envolvido de tal forma com a maquineta que já me metia a programa-la. Em BASIC, naturalmente, a única linguagem de “uso geral” a que se tinha acesso na época. Mas o BASIC era eivado de limitações intransponíveis. E eu queria algo um pouco mais substancial.

Pois não é que justamente nesta época Renato anuncia um curso de linguagem Assembly para Z80, o processador do MSX? Corri para me inscrever.

O curso foi ministrado, não sei por que artes do destino, na Tijuca. Na sala havia o Renato, eu e mais quatro ou cinco gatos pingados (Assembly para MSX definitivamente não era um tema muito popular). E, frequentando aquela sala, por um par de meses, ganhei duas peças fundamentais de meu conhecimento: as manhas e macetes para programar em linguagem de máquina (que, aprendida a do Z-80, passar para a da linha x86 da Intel foi moleza) e, o mais importante, tornei-me amigo do Renato. Amizade que, embora ele já viva há alguns anos no interior de São Paulo onde nasceu, me orgulho de cultivar até hoje.

Portanto não poderia deixar de comparecer à sua palestra.

Figura 6: Palestra de Renato Degiovani com Piropo atrapalhando

E, tendo comparecido, enxerido que sou, acabei participando dela, me metendo a dar pitacos onde não fui chamado. Aí estou eu, na Figura 6, atrapalhando a palestra do pobre Renato.

Resultado: a palestra acabou se transformando em um mui agradável bate papo entre amigos, com a ativa participação da plateia composta principalmente de jovens que ouviram um pouco não somente da história do desenvolvimento dos jogos no Brasil (Renato Degiovani foi o pioneiro, desenvolvendo o épico Amazônia, primeiro jogo nacional) como também das dificuldades que enfrentávamos os primeiros usuários de computadores pessoais brasileiros para atravessar o período de trevas da ditadura militar e sua perversa reserva do mercado da informática.

Resultado: ainda hoje, na página principal do sítio do evento, quadro “Atualizações do Twitter”, pode-se ler: “A ‘Palestra Informal’ do Renato Degiovani teve um convidado inusitado: B. Piropo. Foi tão bom que ninguém queria que acabasse”.

Pois saibam que foi bom para mim também.

É sempre bom falar entre amigos...

B. Piropo