Final de ano, tempo de retrospectivas e colunas sobre o que comprar no Natal. Em matéria de retrospectivas, a < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2011/11/28/quarenta-anos-de-processamento/ > coluna anterior foi um prato cheio. Cheio até demais: afinal, recuar quarenta anos para comemorar o aniversário do primeiro processador é retrospectiva para ninguém botar defeito. Então vamos recuar menos desta vez. Falemos ainda no pretérito, porém indo menos distante no tempo. E vamos usar como base os dados fornecidos pela Intel sobre computadores pessoais em seu Editor’s Day 2011 ocorrido há um par de semanas.
Figura 1: Sessão de perguntas
O Intel Editor’s Day é um evento levado a termo pela Intel exclusivamente para a imprensa especializada. Segundo ela, “é um evento anual que reúne os principais editores e repórteres das áreas de tecnologia, telecomunicações, consumo, educação e negócios com o objetivo de estreitar o relacionamento da companhia com a imprensa e discutir estratégias e tendências”. E este humilde colunista teve a honra de ser convidado mais uma vez.
O Editor’s Day realiza-se anualmente já há treze anos e tornou-se um importante marco do calendário de eventos da imprensa especializada em tecnologia (a Figura 1 mostra Fernando Martins, Presidente e Diretor Geral da Intel do Brasil, e este que vos escreve, na sessão de perguntas da palestra de abertura do Editor’s Day 2011 em foto do craque Mário Nagano).
A edição deste ano foi realizada na Praia do Forte, Bahia, no final de semana de 19 e 20/11. O tema deste ano foi “Brasil: terceiro maior mercado de PCs do mundo” e discutiu temas como inovação tecnológica, sistemas embarcados, ética (ou falta dela) nas redes sociais e o mercado de PCs no Brasil e América Latina.
Esta coluna aborda um dos assuntos discutidos no evento.
Pois vamos a ele.
O mercado do PC
Vejamos o que diz a Intel:
- Em média, quase um milhão de PCs foram vendidos todos os dias durante 2.010. O crescimento deverá continuar quando consideramos que os PCs são muito mais baratos hoje em dia; o salário médio necessário para comprar um PC convencional caiu de 5,5 semanas em 2000 para uma semana no Oeste Europeu.
- Uma pesquisa realizada entre 1000 adultos nos EUA revelou que em 2008, 2009 e 2010, os consumidores colocaram os notebooks/laptops no topo das suas listas de desejos de eletrônicos.
- A Forrester prevê que em 2015 haverá 2,25 bilhões de PCs em uso em todo o mundo (em comparação com 1 bilhão de PCs no final de 2008) e isso será impulsionado principalmente pelos mercados emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China, que contabilizarão mais de 800 milhões de novos PCs até 20154.
- A Gartner prevê um aumento de 10,5% nas vendas de PCs em 2011 (aumento de 387.8 milhões de unidades) e um crescimento de 13,6% em 2012 (para 440.6 milhões de unidades). Embora esta esteja abaixo de uma previsão anterior, os sinais ainda demonstram um mercado com crescimento saudável no cenário global.
- As projeções da Intel para o crescimento do segmento de PCs em 2011 permanecem na faixa de baixo do duplo dígito com base no início da força de venda que testemunhamos no começo de 2011 e da grande aceitação da nossa segunda geração de PCs baseados nos processadores Intel Core.
E aqui meus comentários:
Eu não sei exatamente o que vem a ser um “desejo eletrônico”, mas não me surpreende o fato de que nestes últimos três anos os americanos adultos tenham sonhado com um novo computador portátil. Porém gostaria de saber quantos destes já têm um tablete. Porque, no meu entender, o grande embate de 2010 ocorrerá entre os tabletes e os computadores portáteis de pequeno fator de forma, sejam eles “notebooks”, sejam “netbooks”. E mais: não sou muito bom neste negócio de previsões, e citando o grande filósofo americano “Yogi” Berra (uma espécie de Dadá Maravilha lá deles), sou pior ainda quando elas se referem ao futuro. Porém sou capaz de apostar que os “netbooks” tenderão a desaparecer, “engolidos” pelos tabletes, enquanto os “notebooks” deverão sobreviver. E sua sobrevida será proporcional ao tamanho de sua tela e seu poder de processamento. Ou seja: quanto maior sua tela e mais poderoso o “notebook”, maior será sua probabilidade de se manter no mercado (provavelmente substituindo um micro de mesa, ou “desktop”). E quanto menores e menos poderosos os “netbooks”, menos chances terão de sobreviver (provavelmente substituídos por um tablete ou um telefone esperto destes mais “parrudos”, exceto se destinados a um nicho específico de mercado como os Classmate PCs da Intel, concebidos para o mercado educacional e com diversas características que os diferenciam da massa de “netbooks” comerciais).
E mais: gostaria muito de saber quantos daquele milhão de PCs vendidos diariamente são micros de mesa e quantos são portáteis. Porque pelo andor da carruagem, os portáteis irão substituir os micros de mesa que tenderão a se restringir a um nicho de mercado formado por viciados em jogos, malucos que gostam de trabalhar com dois ou três monitores (como este que vos escreve) e uma ou outra tribo de hábitos, digamos, peculiares.
Então, o negócio ficará mais ou menos assim: quem gosta de tela pequena, fica com seu tablete. Quem gosta de tela grande, com seu portátil. E quem tem hábitos peculiares, fica com seu micro de mesa (atenção: cuidado aí com o que você inclui entre os “hábitos peculiares”; faço parte da categoria devido à minha estranha mania de estender minha Área de Trabalho aos três monitores de 24” que uso conectados ao meu computador de mesa e quero deixar claro que as tais peculiaridades de hábitos acima citadas se restringem ao terreno da informática).
Resumindo: o resultado disto é que os tabletes dominarão o mercado, os portáteis ficarão cada vez maiores (me refiro ao tamanho da tela e à capacidade de processamento; quanto ao peso e espessura, estes diminuirão consideravelmente) e os micros de mesa sobrarão para os escritórios e as poucas escrivaninhas domésticas de quem sabe apreciar uma boa máquina.
Quanto ao derradeiro parágrafo da citação da Intel, é óbvio que ela puxa a brasa para a própria sardinha, se é que me entendem (e aquela frase onde se lê “permanecem na faixa de baixo do duplo dígito com base no início da força de venda que testemunhamos no começo de 2011” é uma forma um tanto gongórica de dizer “ficam pouco acima dos 10% como indicam as vendas recentes”). Mas também é inegável que o que ela chama de “segunda geração... do Intel Core” constitui uma soberba linha de processadores e embora a AMD tenha dado um razoável salto adiante com sua arquitetura Fusion, tudo indica que com os novos chips a Intel voltou à liderança tecnológica na liça dos processadores.
Crescimento do mercado de PCs e do desempenho do processador
De novo, primeiro o que diz a Intel:
- O crescimento do segmento de PCs é cada vez mais impulsionado pelo grande aumento do conteúdo gerado pelo usuário. Por exemplo, o uso de sites de compartilhamento de vídeo dobrou de 2006 a 2010. A cada mês, 12 bilhões de vídeos são visualizados no YouTube.5 As pessoas estão predominantemente visualizando e subindo esse tipo de conteúdo em seus PCs e entendem que com a chegada do conteúdo 3D, o poder de computação se faz necessário para visualizar e editar conteúdo 3D.
- A recém lançada 2ª geração dos processadores Intel Core foi projetada para apoiar o crescimento dos PCs ao atender a demanda em termos da funcionalidade que os usuários de PCs desejam. Por exemplo, eles incorporaram tecnologia capaz de converter um vídeo em HD de quatro minutos para rodar em um iPod em apenas 16 segundos.
- O desempenho adicional do processador significa benefícios reais para o usuário; atualmente eles são:
- Fluxo ininterrupto em suas atividades – seja para assistir um filme, criar conteúdo ou usar mídia social.
- Uma experiência envolvente - onde a qualidade do que você vê e ouve faz você se sentir conectado.
- Uma experiência simples e perfeita em termos de gerenciamento de seus dispositivos.
Agora, meus comentários:
Figura 3: Um “wafer” de fabricação de chips SandyBridge
De novo, a empresa privilegia seus produtos (mas note que isto definitivamente nada tem de errado; afinal, trata-se de material distribuído em um evento – por sinal excelente – organizado pela empresa para divulgar suas realizações para um grupo selecionado de editores, jornalistas e colunistas da imprensa especializada e o objetivo era este mesmo: mostrar as qualidades de seus produtos).
Por exemplo: a extraordinária rapidez com que se dá a conversão de vídeos deve-se a uma característica específica da chamada “arquitetura SandyBridge” (veja, na foto tomada durante o Editor’s Day 2011, um “wafer” de fabricação de núcleos SandyBridge nas mãos deste vosso criado e do engenheiro de aplicações da Intel Antonio Rivera), um aperfeiçoamento da arquitetura “Nehalem” que incorpora em cada processador um núcleo especializado no processamento vetorial – na verdade um coprocessador gráfico que opera na mesma frequência dos demais núcleos do processador e usa registradores internos de 256 bits – cujo desempenho na tarefa específica de conversão de formatos gráficos é quase inacreditável.
Por outro lado isto não significa que nas demais tarefas de processamento rotineiro (grande parte delas efetuadas pelos demais núcleos, estes especializados no processamento escalar) a diferença do desempenho em relação aos chips da AMD seja igualmente exorbitante. Mas também não quer dizer que a Intel comete qualquer exagero a seu favor: de fato, no que toca à conversão de formatos de vídeo, o desempenho da chamada “segunda geração Core” (sobre a qual falaremos breve) é realmente espantoso e “dá banho” na concorrência. Já no processamento rotineiro, os chips da Intel podem até ser melhores, mas seguramente a diferença não é tão abissal.
Olhando para frente
Novamente, o documento da Intel:
- A Intel está trabalhando para redefinir a experiência do PC para consumidores ao fornecer benefícios desejados pelos usuários, como: ligação instantânea, bateria com duração de um dia inteiro, segurança, interface sensível ao toque, interconectividade perfeita entre dispositivos, suporte para todos SOs e os melhores gráficos do segmento – tudo isso com preços convencionais.
- A Intel planeja evoluir o notebook para um dispositivo ultra-simples, ultra-fino e ultra-versátil para navegação na Internet.
- Em maio de 2011 a Intel anunciou uma nova categoria de computadores portáteis convencionais, finos e leves, chamada Ultrabook. Estes computadores igualarão o desempenho e as capacidades dos notebooks de hoje com características semelhantes a dos tablets, proporcionando uma experiência altamente responsiva e segura, em um design fino, leve e elegante. O Ultrabook será moldado pela tecnologia de silício da Intel e pela Lei de Moore, da mesma forma que elas definiram o PC tradicional ao longo dos últimos 40 anos. A Intel espera que 40% dos notebooks para consumidores estejam na categoria de Ultrabook até o final de 2012.
- Até 2013, prevemos que o mercado como um todo terá concluído a conversão, e que sistemas excepcionalmente finos, elegantes, rápidos, seguros e robustos representarão a nova norma para todas as faixas de preços.
- A liderança da Intel em inovação em silício beneficiará mais usuários à medida que a computação se tornar ainda mais pervasiva entre multiplos dispositivos.
- Modelos de uso mais exigentes requerem mais capacidade e dispositivos portáteis que, por sua vez, necessitam processadores mais eficientes no consumo de energia. Os planos da Intel estão focados no fornecimento das melhores soluções computacionais com ótimo desempenho e eficiência no consumo de energia para os usuários.
Bem, tudo isto que aí está serve apenas para chamar a atenção – e louvar as qualidades – de um fator de forma específico lançado recentemente pela Intel, patenteado e batizado de “Ultrabook”. Um exemplar, o modelo UX21E do fabricante ASUS, é mostrado na Figura 4 (montagem a partir de material fornecido pela Intel).
Figura 4: Ultrabook da ASUS
Não sei se de fato, como afirma a Intel, isto representa “a tendência para o futuro”. Mas estou certo que representa uma das tendências. E uma tendência forte.
Pelo que pude perceber – inclusive de alguns modelos que ainda não foram lançados no mercado mas aos quais tive acesso durante o evento e pude manusear – o Ultrabook representa uma excelente solução de compromisso entre o poder de processamento de um micro portátil tipo “notebook” (que, afinal, é justamente o que ele é) e a leveza e facilidade de transporte de um tablete, sem perder a mobilidade e a facilidade de acesso à Internet.
Cada fabricante, naturalmente, adicionará características próprias a seus modelos. Mas para ser classificado como Ultrabook o micro precisa satisfazer algumas condições básicas como armazenamento de massa em estado sólido (discos SSD), espessura inferior a 2 cm, peso menor que 1,4 kg, interface sensível ao toque, alto nível de conectividade e, sobretudo, ser equipado com um processador SandyBridge (ou IvyBridge, a próxima geração Intel).
Em suma: pode ser que o Ultrabook não seja, como garante a Intel, “a forma das coisas por vir”. Mas que parece ser um “notebook” extraordinário e que tem tudo para se converter em objeto do desejo, lá isto é verdade...