< Coluna em Fórum PCs >
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10/10/2011
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< Ig Nobel Prize 2011 – Parte I > |
Os que leem regularmente minhas colunas aqui neste ForumPCs já sabem do que se trata, posto que anualmente eu divulgo a relação dos galardoados e seus feitos científicos. Mas para os que não sabem, um esclarecimento: o Prêmio Ig Nobel, assunto desta coluna, não é uma invenção minha nem papo de meia dúzia de desocupados. Muito pelo contrário: é uma contrapartida a seu quase homônimo Prêmio Nobel, e também concedido por uma organização séria, denominada Improbable Research, cujo conselho editorial – responsável pela escolha dos premiados – é constituído por cinquenta membros, quase todos cientistas dos quais a maioria ostenta títulos de mestrado e doutorado e diversos foram honrados com a premiação do galardão concorrente, o próprio Prêmio Nobel.
A organização edita uma revista que é publicada tanto em papel quanto digitalmente, na Internet, a < http://www.improbable.com/magazine/ > “Annals of Improbable Research” que reproduz pesquisas científicas originalmente divulgadas em respeitabilíssimas publicações médicas, científicas, técnicas e acadêmicas. São pesquisas sérias e o único critério usado para selecioná-las – assim como para escolher os vencedores do Prêmio Ig Nobel – é que sejam pesquisas que “primeiro nos façam rir, depois pensar”. Que, aliás, é o mote da organização (cujo logotipo aparece na figura acima, obtida no sítio da organização) e a definição oficial do que vem a ser uma “Pesquisa Improvável”. Matemática, Química e fisiologia
Os ganhadores do Ig Nobel de Fisiologia 2011 foram um grupo de quatro pesquisadores de origens diversas, a saber, a britânica Anna Wilkinson, a doutora Natalie Sebanz, que consta como cidadã da Holanda, Hungria e Áustria (o que já se constitui em uma façanha por si mesma), Isabella Mandl, da Áustria, e Ludwig Hube, também austríaco. A pesquisa esclarece – pelo menos parcialmente – uma questão que sempre me intrigou e que é explicitada em termos científicos logo no início do trabalho de pesquisa que descreve o experimento, < http://www.currentzoology.org/temp/%7B5FFBCC02-2AEB-4D3C-A7D3-4FCEBB9D54D5%7D.pdf > “No evidence of contagious yawning in the red-footed tortoise Geochelone carbonari”: seriam os bocejos “um padrão de comportamento cujo estímulo é a observação de outro bocejo, ou seja, o resultado da imitação inconsciente emergindo das ligações estreitas entre percepção e ação, ou seriam o resultado da empatia que abrange a habilidade de se envolver em uma atribuição de estado mental”? Quem se der ao trabalho de ler o relato da pesquisa, publicado em oito longas páginas da “Current Zoology”, Vol. 57, nr 4, pp 477-484 cobertas de gráficos e tabelas (das quais foi obtida a figura acima) poderá, afinal, esclarecer a questão: pelo menos entre as tartarugas da espécie Geochelone carbonari o bocejo NÃO é contagioso. As duas autoras compareceram à cerimônia e receberam o prêmio com garbo e elegância.
O Ig Nobel de Segurança Pública 2011 foi concedido a um único pesquisador, John Senders, da Universidade de Toronto, Canadá, embora no trabalho que o fez merecedor do galardão, < http://cogworks.cogsci.rpi.edu/files/SendersEtAl_DRIVING_WITHOUT_LOOKING.pdf > “The Attentional Demand of Automobile Driving”, constem quatro coautores. O trabalho se estende por dezessete páginas, está repleto de equações diferenciais e integrais, gráficos, tabelas e referências bibliográficas, além da figura acima, por cuja qualidade me desculpo, mas que corresponde ao máximo de melhoria que consegui do original, já que os que se derem ao trabalho de consultar a íntegra do documento verão que a qualidade de sua digitalização deixa muito a desejar (durante a cerimônia o laureado, que a ela compareceu para receber o prêmio, declarou que os experimentos foram realizados há mais de três décadas, portanto o que se encontra no atalho acima é um conjunto de páginas digitalizadas usando um escâner). O estudo consistiu em quatro experimentos sucessivos cujo propósito foi “determinar empiricamente certas relações entre as características de uma estrada na qual um automóvel é dirigido, a disponibilidade de tempo que o motorista pode dedicar à observação da rodovia, o intervalo entre tais observações e a velocidade com que dirige”. Para isto, submeteram um voluntário à tortura, digo, tarefa, de dirigir um veículo em quatro diferentes situações onde variavam o tipo da estrada, o tempo em que lhe era permitido vê-la e os intervalos em que isto ocorria. Em todas elas, porém, uma viseira opaca (que se percebe levantada no lado esquerdo da figura acima e abaixada no lado direito) subia e descia em intervalos irregulares de tempo e, ao descer, impedia inteiramente que o pobre diabo, digo, motorista, enxergasse a estrada onde estava dirigindo. Confesso que o que mais me impressionou não foram as conclusões, mas a complexidade do tratamento matemático que se pode dar a uma coisa como esta: só integrais, contei cinco, e posso ter perdido alguma... B. Piropo | ||||||