Mundo danado, este em que vivemos hoje. Cada vez mais diferente daquele em que vivi há meio século. Muita coisa nova, muita coisa boa, muita coisa ruim. E não tem jeito senão se acostumar.
Senão, vejamos.
Em 1977, em Boston, um respeitável cavalheiro chamado Ken Olsen proferiu uma palestra na reunião anual da World Future Society. Olsen era então o presidente da DEC, Digital Equipment Corporation, a grande rival da IBM no mercado de computadores (que, até então, se resumiam às chamadas máquinas de grande porte, ou “mainframes”), portanto deveria entender do assunto. A WFS, por sua vez, é uma sociedade com o objetivo de modelar o futuro com base nas opiniões de personalidades ligadas à ciência e tecnologia. Logo, as previsões feitas em suas reuniões tem grande probabilidade de se materializar.
Em um cenário como este, aquilo que fosse dito pelo Presidente da DEC sobre o futuro dos computadores, mais que uma mera predição, era quase uma certeza. E o pronunciamento, preciso, claro, autoritário e taxativo como seria de esperar de um homem da estatura de um Ken Olsen, não deixava margem para qualquer dúvida.
Disse ele, com convicção: “There is no reason for any individual to have a computer in his home” (“Não há qualquer razão para que uma pessoa tenha um computador em casa”).
Levando-se em conta que eu lembrava vagamente apenas da frase e não do autor e data, e que descobri tudo isso, além das circunstâncias em que foi dita, consultando a Internet em um dos cinco computadores que tenho em casa (contando com meu telefone estúpido), parece que Mr. Olsen estava equivocado.
Porém, na data em que ele lançou sua previsão, tudo indicava que ele estava certo.
O problema é que, como eu disse, de lá para cá o mundo mudou. E mudou muito.
Os computadores invadiram primeiro os escritórios, depois nossas casas. Quando começou a invasão, se bem me lembro, os futurólogos asseguravam que ela teria um efeito benéfico sobre a qualidade de vida do homem comum, pois os computadores tornariam tão mais fácil – e, sobretudo, tão mais rápida – a execução das tarefas nos escritórios que o tempo e o esforço economizado seriam canalizados para atividades de lazer e aumento do convívio com a família.
Quem passa as oito horas de sempre no escritório diante de um computador (é verdade que em condições de produzir bem mais que na época das máquinas de escrever e das calculadoras a engrenagens) e depois passa outras tantas diante de seu computador doméstico frequentando redes sociais e grunhindo aqui e ali em resposta às tentativas de comunicação dos familiares, sabe que não foi bem assim.
Mas que agora fazemos mais coisas em menos tempo e temos mais tempo para fazer mais coisas, lá isso é verdade.
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Figura 1: Google com imagem de fundo |
Mas a que veio toda esta lenga-lenga?
Bem, é que acabo de tomar ciência de mais um portento tecnológico no quesito “economia de tempo”: o Google Instant. Que, < http://www.google.com/instant/ > segundo o próprio Google, para quem acessa nos países que já dispõem do serviço e possuem uma conta Google, permite economizar, imaginem vocês, de dois a cinco segundos por busca.
Acha pouco? Bem, é que talvez você não tenha percebido que, à semelhança do desembarque do homem na Lua, isto pode representar um pequeno passo para cada um de nós, mas é um gigantesco salto para a humanidade. Porque, ainda segundo o Google na página citada no parágrafo anterior, somando os ganhos de tempo em todas as buscas executadas a cada dia em todo o mundo só no Google, teremos uma economia diária de 3,5 bilhões de segundos, o que corresponde a uma economia de onze horas a cada segundo.
Vou repetir com a devida ênfase, porque isto solto assim no ar parece que não faz sentido: uma economia de onze horas a cada segundo (o problema é que repetindo com ênfase também parece não fazer sentido; mas pouco importa, vamos adiante...)
Para que você venha a se inteirar da forma de participar desta gigantesca economia de tempo e possa usar com discernimento e proficiência os segundos que poupar a cada dia, vamos ver onde e como a coisa funciona.
Alguns detalhes sobre o Google Instant
Segundo o Google, o Instant foi criado com base na ideia de que nós lemos dez vezes mais depressa do que digitamos. Seus pesquisadores afirmam que gastamos em média 300 milissegundos para teclar dois caracteres sucessivos e apenas 30 para dar uma espiada no resto da página. E daí concluíram que podemos consultar os resultados antes de acabarmos de digitar. Resultado: combinaram quinze novas tecnologias (são eles que afirmam, não eu; mais sobre isso adiante) para chegar a um produto que oferece buscas mais rápidas, mais “espertas” e oferece resultados mesmo antes que se termine de digitar o termo ou expressão na caixa de entrada (já discutiremos cada um destes pontos).
Por enquanto o serviço só é oferecido aos usuários dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Rússia (mas calma que eu já ensino uma forma de usá-lo daqui mesmo do patropi) e nas versões mais novas de alguns navegadores: o “da casa” (Chrome versões 5 ou 6), naturalmente, o Firefox 3, o IE 8 e, para os usuários de Mac, o Safari 5. E, ainda assim, só vale para os usuários que disponham de uma conta Google. Mas a empresa assegura que nos próximos meses irá estender o serviço a outros domínios e idiomas.
Na próxima página vamos demonstrar como o bicho funciona, mas se você quiser apreciar uma apresentação em vídeo (em inglês, apenas, infelizmente) feita por Jonathan Effrat, gerente de produto do Google Instant, aqui está ela: < http://www.youtube.com/watch?v=ElubRNRIUg4 >
Para usufruir plenamente do serviço é importante dispor de uma conexão de alta taxa (“banda larga”), já que não faz muito sentido tentar economizar dois segundos em uma busca executada via conexão discada. E, sabendo disto, a empresa afirma que caso seja detectada uma conexão lenta, o serviço será automaticamente desabilitado. Mas garante que a sobrecarga acarretada pelo uso do serviço é muito pequena se comparada, por exemplo, a imposta pela transmissão de vídeo e jogos em tempo real (não obstante, quem não estiver satisfeito sempre poderá desabilitar o Google Instant, como veremos adiante).
Além disso, o serviço recorre a alvitres bastante interessantes para manter a rapidez, como por exemplo, ao refazer uma página, enviar apenas os dados referentes às partes que foram alteradas sem atualizar os elementos estáticos como molduras e coisas que tais.
Segundo o < http://googleblog.blogspot.com/2010/09/search-now-faster-than-speed-of-type.html > Blog Oficial do Google, o Google Instant é um produto do tipo que efetua a busca antes que você a digite (“search-before-you-type”) e apresenta os resultados dinamicamente. Ele se apoia no serviço “Suggest”, já oferecido pelo Google há algum tempo, que tenta “adivinhar” a busca e oferece algumas sugestões, que são exibidas na tela à medida que se digita. Como logo veremos, o Google Instant dá um passo adiante. E um largo passo.
Dentre as novas tecnologias adotadas, a Google destaca novos algoritmos de cache, a possibilidade de controlar a taxa com que os resultados são fornecidos adaptando-a às circunstâncias da busca, e a otimização da exibição dos resultados (“renderização” das páginas”). O produto de tudo isto é um sistema que exibe resultados enquanto se está digitando, altera-os na medida em que são acrescentados caracteres ao termo que está sendo digitado e continua os exibindo na ordem de relevância estabelecida pelo Google.
Funcionar, como logo se verá, funciona. O que resta é saber se vale a pena tanto esforço.
Mas vamos ver como funciona.
O Google Instant em ação
Vamos supor que desejamos fazer uma pesquisa com o nome do nosso Fórum. A ideia é digitar “forumpcs” na caixa de entrada de dados para descobrir o endereço do sítio.
Há algum tempo, simplesmente digitaríamos o termo, teclaríamos “ENTER” ou clicaríamos no botão de busca e aguardaríamos a exibição da primeira página de resultados. Mais recentemente já disporíamos do “Suggest” para nos ajudar: na medida em que vamos digitando os caracteres, aparece abaixo da caixa de dados uma lista de sugestões. São as tentativas que faz o Google para “adivinhar” o que estamos buscando mesmo antes de terminarmos a digitação. E, de fato, na maioria das vezes adivinha mesmo: na interface em português do sítio brasileiro do Google, digitados apenas os seis primeiros caracteres (“forump”) o termo “forumpcs” aparece bem no topo da lista, bastando clicar nele para efetuar a busca.
Pois bem: podemos dizer que o Google Instant é uma espécie de “Suggest”, porém bastante “envenenado”. Senão vejamos.
Ao entrar no Google em um dos países atendidos pelo serviço, aparece uma tela semelhante à da esquerda da Figura 2 (esta, especificamente, seria a apresentada nos EUA em 11/09/2010, dia em que edito esta coluna e aniversário de uma das maiores imbecilidades jamais cometidas pelo homem em toda a história da humanidade, daí o símbolo de luto com as cores da bandeira americana abaixo da caixa de pesquisas). Nela iniciaremos a pesquisa digitando o primeiro caractere, o “f”.
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Figura 2: Telas do Google Instant |
Repare agora na outra imagem, exibida do lado direito da figura: a tela imediatamente se altera (e se sua conexão for rápida, é imediatamente mesmo).
Examinemos as alterações. Para começar, na nova tela, ao lado direito e no alto da caixa de pesquisas, aparece o atalho “Instant is on” (que eu destaquei em vermelho). Ele não apenas informa que o Google Instant está ativo como permite desativá-lo com um clique. Além disto o “Suggest” entra em ação e oferece sua lista. Como fornecemos apenas um caractere, fica difícil adivinhar. Então o Google apela para o mais popular: mostra no topo da lista o termo “facebook”.
Até aí, nada de muito diferente do “Suggest”, exceto por dois detalhes. O primeiro é que, se você reparar bem, notará que os caracteres “acebook” aparecem acinzentados, completando o termo na própria caixa (o que dispensa clicar em sua entrada na lista; se a “adivinhação” estiver correta, basta premir a tecla Tab que o termo se completa). A segunda é que, mesmo antes de teclar o segundo caractere, aparece uma lista de resultados preliminares. Esta lista – dinâmica, como logo veremos – é a essência do Google Instant.
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Figura 3: Telas do Google Instant |
Vejamos agora o que ocorre na medida em que continuamos a digitar examinando, da esquerda para a direita, as duas telas da Figura 3. Ao digitar o “o”, o “Suggest” continua oferecendo sugestões tanto na lista quanto na caixa de entrada de texto. Mas repare que a lista de resultados muda (e como você logo verá se tiver uma conexão rápida e desejar experimentar o Google Instant, muda quase instantaneamente, fazendo jus ao nome) e agora é encimada pelo sítio do Fox News. E assim permanecerá até entrarmos com o “r”, que fará com que a sugestão mude novamente, desta vez para “ford”. E a lista de resultados passará a ser encimada por um atalho (“link”) patrocinado, curiosamente em português, sugerindo o sítio da Ford no Brasil. E aparece à direita o primeiro anúncio: dos carros Ford, e em português.
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Figura 4: Telas do Google Instant |
Agora é seguir digitando. Como revelam as duas telas da Figura 4, o “u” traz o termo “forum” para o topo da lista de sugestões, o “p” o altera para “Forumpass”, um software da Exostar, e, na interface em inglês dos EUA, somente quando se entra com o “c” (mas antes do “s” final), o Google Instant “adivinha” que estamos buscando o ForumPCs e oferece seu nome no topo da lista de sugestões e um atalho para ele no alto dos resultados, como mostra a tela do lado esquerdo da Figura 5 (já uma pesquisa por “bpiropo”, mesmo na interface dos EUA, oferece o resultado certo ainda no quinto caractere e retorna quase trezentos mil resultados, encimados pelo Sítio do B. Piropo, para satisfação deste vosso amigo – cujo nome completo é “entregue” logo no terceiro resultado, provando que estas tais redes sociais são na verdade uma desavergonhada invasão de privacidade).
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Figura 5: Telas do Google Instant |
Pois bem: é assim que a coisa funciona.
Quer experimentar você mesmo?
Será que vale o esforço?
Então vamos lá. Mas não adianta entrar com o clássico “www.google.com” (sem o .br no final) que o Google não se deixa enganar e o encaminhará sem delongas diretamente para o sítio brasileiro. Se você quiser testar o Google Instant terá que força-lo a “falar” inglês (e, não esqueça, ter uma conta no Google; a minha, do Gmail, serviu). Então entre na caixa de endereços de seu navegador com: “http://www.google.com/webhp?hl=en”, assim mesmo, porém sem aspas. E faça-o preferivelmente no Chrome (mas funcionará também no FireFox 3.x e no IE8, sem grandes problemas). Em seguida tecle ENTER e será levado para um passeio nos EUA (ou, pelo menos, na interface do Google lá exibida).
Testou? Gostou? Muito bem. Resta saber se vale a pena tanto esforço.
Para ser franco, não sei. No meu computador de mesa, certamente não acho muita vantagem. Faço, talvez, umas vinte ou trinta buscas diárias e, por mais que matute, não consigo imaginar algo para fazer nos dois ou três minutos que, segundo garante a Google, ganharei diariamente com o Google Instant.
Para mim o “Suggest” já me parece suficiente para satisfazer minhas necessidades de acelerar as pesquisas. Talvez, daqui a alguns meses, caso a Google venha a cumprir a promessa de < http://www.google.com/instant/ > liberá-lo logo (“release it soon”, sem explicar o que pretende dizer com “soon”) para dispositivos móveis, ele venha de fato a ser útil. Principalmente para quem usa um telefone estúpido, como eu (deveria ser esperto, mas é um Motorola Milestone com Android). E, ainda assim, não pela redução do tempo nas pesquisas, mas pela misericordiosa sugestão de caracteres na própria caixa de entrada de dados. Isto porque, com os miseráveis teclados destes aparelhinhos (qualquer um, não só o Milestone), seja lá o que for que poupe digitação cai muito bem. E se o que você está procurando for “adivinhado” pelo “Suggest” após entrar com os primeiros caracteres, o fato de o Google Instant completá-los na linha de entrada de dados será uma bênção (desde, é claro, que a Google mude a tecla usada para completar a linha ou você encontre um telefone suficientemente esperto para ostentar a tecla “Tab”).
Outro ponto delicado são os atalhos patrocinados e os anúncios pagos. O simples fato de se acelerar a busca já significa que eles serão exibidos por menos tempo. Mas com a imediata mudança dos primeiros resultados a cada caractere digitado, alguns permanecerão na tela por frações de segundo. E quem lê um anúncio em uma fração de segundo?
Mas quem vai decidir se a coisa “pega” ou não serão os usuários. Que terão que se habituar ao novo método de exibição de resultados.
Ou não.
Mas neste caso, basta desabilitar o serviço.
Até a próxima coluna.
B.
Piropo