Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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06/09/2010

< A web não vai morrer, viu, Elis? >


Não costumo ler Wired. Acho-a uma revista metida a besta, elitista, escrita para um público restrito que quer passar por usuário “cabeça” e do qual, desconfio, pelo menos metade não entende os artigos mais abstrusos (pronto, lá vem reclamação; para tentar diminuir o número e a ferocidade delas, admito liminarmente que, se você é leitor da Wired, o fato de ser também frequentador do ForumPCs é sinal seguro que certamente faz parte da outra metade; e, para quem está com preguiça de ir ao dicionário, “abstruso”, segundo o Houaiss, significa “difícil de compreender, intrincado, obscuro”).
Isto posto, dia destes estava eu na casa de meu irmão que me estendeu um exemplar da indigitada revista comentando que ali havia um artigo que certamente me interessaria. Era justamente o artigo de capa, assinado por Chris Anderson, com um título (propositalmente, presumo eu...) instigante: “The web is dead” (“A web morreu”). Dei uma rápida folheada, deixei para ler com calma em casa e pensei: “taí um assunto interessante para uma coluna”.
Entrementes, a Elis Monteiro também leu o artigo, pensou a mesma coisa e, mais rápida (e, sobretudo, mais esperta – no bom sentido) do que eu, juntou o pensamento ao gesto. E há pouco mais de uma semana (em 27/08, para ser exato), publicou aqui mesmo sua coluna “A Web está morrendo?” (atentem para o ponto de interrogação no final do título) onde analisava o indigitado artigo. Coluna esta que, considerando meu interesse no tema, fui um dos primeiros a comentar.
O assunto deveria estar encerrado. Mesmo porque a coluna seguinte da Elis, “A morte da Web: choque de realidade”, versou sobre o mesmo tema e, supostamente, o teria esgotado.
O problema é que ambas as colunas, assim como meus comentários a elas, atraíram uma chusma de respostas tão disparatadas que me senti obrigado a voltar ao tema com alguns esclarecimentos. Não às colunas da Elis, por sinal muito boas, elucidativas e que “dão seu recado” sem grandes firulas, ao contrário das minhas. Mas alguns dos comentários foram tão estapafúrdios que, definitivamente, parece que o tema não foi bem compreendido. Ou, se foi compreendido, não foi absorvido por alguns leitores que, ao que tudo indica, gostam tanto da web que se sentiram pessoalmente ofendidos com a mera menção ao fato que um dia ela poderia morrer. E que confundiram interpretação de dados estatísticos com profecia.
Então, vamos lá. Primeiro, esclarecendo o que exatamente disse Chris Anderson em seu artigo.

O artigo de Chris Anderson
Todo o artigo de Chris Anderson – que quem se interessar pode ler < http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/ > na íntegra na edição de agosto da revista publicada na web – se baseia na interpretação dos dados que constam do gráfico da Figura 1, obtido no sítio da Wired e que, quem desejar, pode < http://www.wired.com/magazine/wp-content/images/18-09/ff_webrip_chart2.jpg > consultar diretamente na fonte.

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Figura 1: Gráfico da Wired – Tráfego sobre a Internet


Para começar: o título é exagerado. Propositalmente exagerado para atrair leitores (e, infelizmente, alguns comentários apressados do tipo “a web jamais morrerá”) e o autor sabe disso. Tanto sabe que afirma, lá pelo final do artigo, naquele trecho precedido de um “continuação da página tal” que os apressados raramente leem: “Ecommerce continues to thrive on the web and no company is going to shut its Web site as an information resource... The wide-open web or peer production... where everyone is free to create what they want, continues to thrive...” (“O comércio eletrônico continua prosperando na web e nenhuma companhia fechará seu sítio de informações sobre seus recursos... A web livre e aberta à produção individual... onde qualquer um pode criar o que bem quiser, continua a florescer”). Portanto, apesar do título chamativo e de gosto duvidoso, Chris Anderson sabe que a web não morreu, provavelmente jamais morrerá e deixa isto claro no texto do artigo. Assim como a Elis em suas colunas, a começar pela precavida interrogação bem no título da primeira, além de menções no próprio texto. Como esta: “Ora, será que ele está dizendo que os websites vão acabar? Mas quanta audácia! É claro que não, esta é a resposta”.
Portanto as reações indignadas que se encontram em alguns comentários às colunas da Elis são inteiramente descabidas.
O que Chris Anderson afirma, sempre baseado nas conclusões que se pode tirar do gráfico da Figura 1, é que a web está definhando e tende a definhar ainda mais.
Mas para entender o que ele quer dizer com isto, antes é preciso compreender o que ele chama de “web” e qual a diferença entre “web” e “Internet”.
Pelo que pude constatar no artigo, a interpretação de Chris sobre o que é Internet coincide com a definição da Wikipedia (em inglês): “The Internet is a global system of interconnected computer networks that use the standard Internet Protocol Suite (TCP/IP) to serve billions of users worldwide. It is a network of networks that consists of millions of private, public, academic, business, and government networks of local to global scope that are linked by a broad array of electronic and optical networking technologies. The Internet carries a vast array of information resources and services, most notably the inter-linked hypertext documents of the World Wide Web (WWW) and the infrastructure to support electronic mail.” (A Internet é um sistema global de redes de computadores interligadas que usam o protocolo padrão TCP/IP para atender bilhões de usuários em todo o mundo. É uma rede de redes que consiste de milhões de redes de escopo local ou global, públicas, privadas, acadêmicas, comerciais ou governamentais, entrelaçadas em uma ampla estrutura que emprega diferentes tecnologias eletrônicas e óticas para se interligar. A Internet transporta um vasto conjunto de recursos de informação e serviços, notadamente os documentos interligados por hipertexto que formam a rede de alcance mundial [NT: web] WWW e a infraestrutura para permitir o tráfego de correio eletrônico”).
Como se vê, a própria definição da Wikipedia distingue o que é Internet do que é web, descrevendo esta última como um conjunto de documentos interligados por hipertexto. Ou, como Chris deixa claro em seu artigo (e a Elis traduz e transcreve em sua coluna:) naquilo que “acessamos via browser, arquivos entregues em formato HTML através do protocolo HTTP, na porta 80”.
Portanto só confunde quem quer ou não consegue entender a diferença entre o meio de transporte (internet) e aquilo que é transportado (mensagens de correio eletrônico, informações trocadas entre aplicativos instalados em máquinas diferentes, vídeo em tempo real ou “streaming”, arquivos transferidos diretamente de máquina para máquina, chamadas de voz e vídeo via programas tipo Skype, Google Talk ou Windows Live Messenger, jogos online jogados diretamente sem o concurso do programa navegador e, além e a parte de tudo isto, visitas a sítios da rede feitas com o auxílio do programa navegador, esta última atividade – e apenas ela – considerada por Chris como “a web”).

[[ADENDO: Este parágrafo foi acrescentado depois da coluna ter sido postada. Embora mencionado aqui e ali, não foi dada a ênfase devida ao fato de que o gráfico da figura 1 exprime as proporções relativas do tráfego devido a cada item. Como este tipo de gráfico é relativamente comum, não me pareceu necessário destacar este aspecto. Errei, e os comentários demonstram cabalmente que errei feio. Então, ao interpretar o gráfico, leve em conta que, embora a linha relativa à porcentagem devida ao tráfego da web indique uma evidente queda, pode ser que em números absolutos ele esteja aumentando, já que o gráfico mostra apenas a porcentagem do tráfego total. Mas isto não invalida as conclusões do artigo de Chris Anderson nem da coluna. Basta reparar que, hoje, tanto a web quanto os aplicativos (que não demandam tráfego “pesado”) consomem a mesma porcentagem do tráfego total (23% cada). O fato de o tráfego dos aplicativos que transmitem vídeo consumir hoje mais da metade do tráfego total (51%) pode ser explicado pela grande quantidade de dados transportados por este tipo de aplicativo, mas mesmo abstraindo esta “fatia”, há que se notar que, proporcionalmente, o tráfego devido aos aplicativos “peer-to-peer” “empatou” com aquele devido à web. É isto que Chris Anderson destaca – e a coluna comenta – e trata-se de um fato relevante ainda que, em números absolutos, ambos possam estar crescendo ao longo do tempo e não diminuindo como uma interpretação apressada do gráfico pode levar a crer. .

Voltando ao artigo de Chris Anderson: o que ele afirma é que, a partir do ano 2000, enquanto o tráfego exclusivamente devido à web está diminuindo, cresce aquele gerado em virtude da disseminação de todas as atividades listadas no parágrafo anterior e que não fazem parte da “web” segundo o conceito antes definido. Só isto.
E, quem duvidar, basta olhar novamente para a Figura 1 (que, a título de esclarecimento, é restrita ao tráfego em território americano). Incidentalmente: a área rosada que cresce aceleradamente na última década e rotulada “vídeo” não corresponde, como creem alguns autores de apressados comentários, ao tráfego gerado pela transmissão de arquivos de filmes através de redes especializadas neste tipo de pirataria, mas sim ao tráfego gerado por empresas como a < http://www.netflix.com/ > Netflix americana, que transmitem o vídeo para ser assistido na hora (e não transferem seu arquivo) usando a Internet como meio suporte.

Um comentário inteligente
É claro que nem todo o mundo concorda com Chris. Eu mesmo tenho algumas discordâncias e a Elis deixa claro em suas colunas que também tem lá as suas. E certamente muitos discordam de mim e dela.
Alguns comentários são de “leitores” que sequer leram a coluna ou, se leram, não entenderam (tipo: “Onde ele publicou essa declaração? Em uma pagina/site hospedada na web. Bem, acho que isso, talvez, responde a própria pergunta feita, não?! - xlucas” sem se dar conta que a Wired é uma revista). Outros, cheios de atitude (“Ideia ridícula. Perdi 5 minutos da minha vida lendo isso. O autor dessa ideia obviamente queria aparecerZakk Wylde” sem perceber que mais parece querer aparecer quem gasta apenas cinco minutos para ler uma coluna que aborda temas complexos e posta um comentário exprimindo uma opinião tão definitiva; nada contra a leitura dinâmica, mas quem pretende deitar opinião, deve ao menos gastar algum tempo ruminando-a). Outros, ainda, não gostaram da crítica feita a terceiros, tomaram para si as dores alheias e se ofenderam sem razão (pelo menos no que toca à minha intenção). Mas, enfim, assim é a natureza humana e há que conviver com ela.
Mas houve também comentários inteligentes, bem escritos, com argumentos bem assentados. Um deles foi de um leitor d’além mar, que assina Darth_Kenobi. Expondo sua opinião, respeitável, sobre o assunto (e que, se na resposta que dei na seção de comentários à coluna da Elis pareceu que não a encarei com o merecido respeito, peço aqui, de público, as mais que devidas desculpas). Aqui vai ele, quase na íntegra:
 “No fundo estão a querer dizer que o futuro é deixar de usar a web, onde navegamos livremente e escolhemos o nosso próprio conteúdo e fazemos tantas coisas num só programa - browser - ao mesmo tempo, para passar a ter um aplicativo para cada coisa que se fazia, onde o conteúdo que lhe chega é previamente selecionado por pessoas ou máquinas programadas por pessoas...
...
“E estão a dizer que acham que o futuro é ter um aplicativo no desktop para substituir o que estou a fazer em cada aba...
“Ainda se fosse ao contrário, ou seja, se eu estivesse a usar uma "catrefada" de aplicativos e me dissessem que no futuro vai haver um milagre chamado browser, um único aplicativo onde posso fazer tudo isso de forma organizada e completamente livre, aí talvez eu estivesse a achar interessante e provável... LOL
...
“Imaginem esse futuro de que falam com tanto orgulho de pensarem serem os primeiros a anunciá-lo: vamos formatar o computador (coisa inevitável para quem usa Windows). Enquanto eu instalo o Opera (podia ser outro), vocês vão instalar os milhares de aplicativos para cada coisa que vos apetece fazer, e como teimosamente disseram não à Web e ao browser, se precisarem de uma coisa nova e ela ainda não existir no aplicativo que baixa instala novas aplicações, então ficam a ver navios.
“Ou imaginemos que estou á procura de um certo artigo para comprar. Com o browser, pesquiso pelo nome do artigo, vou ao site saber as características, vou a um fórum debater se é a melhor escolha, vejo no youtube um vídeo sobre o produto, pesquiso num site comparativo de preços, vou ao site da loja com melhores condições (preço, localização, etc), encomendo, recebo a confirmação no e-mail, vejo se tenho dinheiro no MBnet. Num só aplicativo - no browser - , faço tudo de forma rápida e organizada numa ou várias abas.
“Sem a Web, de quantos aplicativos precisam de baixar, ó meus caros futuristas, de instalar, de abrir, de usar, etc (isto na melhor das hipóteses de haver um aplicativo para cada coisa - imagine-se a maluquice de ter um aplicativo para ver os produtos em cada loja diferente...).
“Mas se eu estou a perceber mal, e o futuro que descrevem é mais brilhante que isto, então sou todo ouvidos, ou neste caso, olhos, para os vossos argumentos
”.

Uma tentativa de resposta inteligente
Ao que parece nosso amigo Darth_Kenobi confunde previsão com augúrio. E como mais lhe agrada usar seu programa navegador que os aplicativos que estão tomando seu lugar, reclama.
E, o que é mau, reclama de mim e da Elis. E, ao que parece, também do Chris Anderson.
Ora, tanto quanto me foi dado perceber, não obstante o título claramente exagerado e sensacionalista, tudo o que Chris Anderson afirma em seu artigo é que, em valores relativos, a proporção do tráfego na Internet devido ao que ele chama de web cai cada vez mais em detrimento daquela devida aos aplicativos. Mas em nenhum momento ele parece demonstrar que está satisfeito com isto ou emite qualquer juízo de valor (ao contrário, em alguns pontos do artigo ele até parece contrariado; a páginas tantas, diz ele em tom de lamento: “Tudo isto é inevitável. A história das revoluções industriais, afinal, não passa de um conto de batalhas pelo controle”). No artigo da Elis também não percebi qualquer sinal de regozijo pela morte anunciada. E, no que me diz respeito, posso afirmar com toda a convicção: embora concorde que a tendência é clara e que os aplicativos cada vez mais tomam o lugar que, por direito e antiguidade, pertencia à web, esta tendência não me agrada nem um pouco.
Ou seja: minha atitude de admitir a ocorrência do fenômeno não significa que ele me deixe feliz. Muito pelo contrário.
Os comentários daqueles que se revoltaram contra o “absurdo” da afirmação de que a web está definhando me fizeram lembrar de uma coluna que publiquei alhures há cerca de quinze anos, quando a Internet se pôs ao alcance do público em geral e o correio eletrônico começou a se popularizar. Escrevi então que, segundo tudo indicava, aquilo iria acabar com os BBS.
Na coluna apenas identifiquei uma tendência sem jamais afirmar que ela seria desejável. Na verdade, usuário fiel de alguns BBS, eu mesmo lamentava que estivessem fadados a desaparecer (embora não tivesse afirmado isso na coluna, como depois percebi que deveria).
Pra que! Só faltaram me linchar por haver afirmado um absurdo como aquele. Com que autoridade eu me dava ao desfrute de fazer uma previsão tão disparatada? Como poderia afirmar tamanha bobagem? Os BBS prestavam um serviço tão relevante à comunidade micreira que jamais desapareceriam, algo que seria evidente por si mesmo e que somente não era percebido por um beócio atrevido como eu.
Era a reação natural de quem via uma ameaça pairar sobre algo que amavam. Como não podiam impedir que se materializasse, se revoltavam contra quem a previa. Era como jogar pedra no pobre carteiro que trouxe uma missiva da amante anunciando que ela havia se apaixonado por outro.
Hoje, meros quinze anos depois, provavelmente nem metade dos leitores desta coluna sabem o que foram os “eternos” BBS.
Com isto em mente, olhem novamente para o gráfico da Wired. Imaginem que, em 1990, antes da Internet se tornar pública, alguém dissesse a um usuário habitual de Telnet (um protocolo que permitia acesso via Internet a computadores a partir de terminais remotos) que dentro de alguns anos aquele serviço cairia em desuso. Ou, em 1995, alguém postasse uma nota em um grupo de notícias (que começaram a se popularizar justamente em substituição aos BBS) que dali a cinco anos não mais haveria grupos de notícias. Que reação esperar de alguém a quem se anuncia o declínio de um serviço que aprecia?
Então, meu caro Darth_Kenobi, ninguém está a querer dizer que deves parar de usar teu programa navegador e suas abas com as quais podes fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Eu mesmo o uso para fins semelhantes, isto me agrada bastante e pretendo continuar usando enquanto houver sítios nos quais eu possa navegar. Nem me agrada o fato de ter que instalar “milhares de aplicativos” para fazer, no fundo, as mesmas coisas que faço com meu programa navegador. E, evidentemente, ainda prefiro navegar a esmo por diferentes páginas de distintas lojas virtuais para escolher calmamente o produto a comprar. E não sinto orgulho algum em ser “futurista” para prever que tudo isto vai minguar (pois, acabar, não creio que vá). Mas não posso negar as evidências.
As evidências são que, em 2015, considerada a atual taxa de migração, o número de acessos à Internet originados em pequenos dispositivos móveis (o que inclui telefones espertos e outros badulaques de tamanho similar) será maior que aquele gerado por computadores de mesa. E, se a tendência não lhe agradou, desta vez não reclame comigo, mas com a empresa Stanley Morgan que chegou a esta conclusão (veja < http://mashable.com/2010/04/13/mobile-web-stats/ > artigo de Jolie O’Dell publicado no Mashable que, ironicamente, integra justamente aquilo que Chris Anderson chama de Web para a qual prevê um futuro tão negro).
Foi lá que obtive o gráfico da Figura 2, que mostra a evolução, estimada pela Stanley Morgan, do número total de computadores ao longo dos anos, desde a década de 1960 quando havia pouco mais de um milhão deles. Repare que em 2015 deverão ser cerca de dez bilhões, mais da metade deles sendo dispositivos móveis com acesso à Internet (a previsão não é minha; quem se der conta que a população mundial, hoje, é de apenas sete bilhões de habitantes e achar que a previsão de dez bilhões de dispositivos, fixos e móveis, daqui a cinco anos é exagerada, favor reclamar com a Stanley Morgan, não comigo).

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Figura 2: Evolução do número de computadores; fonte Stanley Morgan

Pois foi justamente a disseminação destes minúsculos dispositivos que deu origem aos primeiros aplicativos que substituíram os navegadores. Diz Chris, em seu artigo: “For the sake of the optimized experience on mobile devices, users forgo the general purpose browser. They use the Net, but not the Web” (“Visando otimizar o uso de dispositivos móveis os usuários abrem mão do navegador de uso geral. Eles usam a Internet, mas não a web”).
Mas qual seria a razão disso? Com certeza o tamanho das telas. Pois acontece que em um bicho destes, com suas telas pequeninas, é muito mais fácil consultar um mapa do Google Maps usando um aplicativo dedicado em tela cheia. Ou ver um vídeo do YouTube. Ou editar mensagens de correio eletrônico. Ou verificar o que se passa no Twitter. Ou usar o Skype. Eu mesmo, infeliz proprietário de um telefone estúpido (que deveria ser esperto, mas é um Motorola Milestone equipado com sistema operacional Android, e pior combinação não há), sei como é duro consultar um programa navegador em uma tela pequena (e olhe que, neste ponto, o Motorola Milestone é dos menos piores, com uma tela de dimensões razoáveis e excelente definição).
Há que instalar um aplicativo para cada um? Paciência... Pelo menos assim se consegue ler as mensagens, decifrar os mapas, apreciar os vídeos. E é natural que quem se acostumou a usar estes aplicativos no dispositivo móvel os acabe instalando no micro de mesa e apelando para eles quando necessário – portanto deixando de lado o programa navegador. Facilita as coisas, padroniza os procedimentos.
A tendência, então, detectada por Chris Anderson, é que, com o aumento do número de dispositivos móveis, aumente proporcionalmente o tráfego gerado por seus aplicativos na Internet. Com a disseminação de empresas que usam a infraestrutura da Internet para atividades como transmissão de vídeo, troca de mensagens de voz e vídeo, jogos tipo “peer-to-peer” (em que um jogador enfrenta um ou mais adversários com os dados trafegando sobre a Internet mas fora da web),redes privadas virtuais de caráter empresarial, empresas de venda direta de áudio e vídeo tipo ITunes, nenhuma delas usando um programa navegador, o tráfego web será, proporcionalmente, cada vez menor (o tráfego gerado por grande parte dos aplicativos citados acima corresponde àquela faixa roxa intitulada “peer-to-peer” na Figura 1). E, a se manter a tendência atual, isto é um fenômeno inevitável.
Isso é bom ou é ruim?
Bem, cada um tem direito à sua opinião. Mas, para mim, é ruim. Esta tendência, se me dão permissão para inventar uma palavra, “desdemocratiza” a Internet. Faz com que ela seja cada vez mais “proprietária” e, honestamente, desconfio tremendamente das intenções de alguns dos que se anunciam como novos grandes proprietários.
Eu ainda prefiro a vasta, livre, extrovertida, leve e desinibida amplidão dos mares da web, onde posso navegar sem amarras, ir onde me aprouver sem dever nada a ninguém nem ter, a cada passo, que distribuir cliques concordando com termos de responsabilidade, licenças de uso e afins.
Mas quanto mais olho para aquele gráfico da Figura 1, mais me convenço que a tendência é inevitável. Por menos que isto me agrade – e, quero deixar bem claro: não me agrada – os Facebooks, Twitters, IChats e GoogleTalks da vida dominarão cada vez mais o universo da Internet e o bom e velho programa navegador será cada vez menos acionado.
Ao contrário do que lhe parece, meu bom amigo Darth_Kenobi, não tenho orgulho algum em anunciar isto.
Mas esta é a tendência e quem não se conformar com ela ficará irremediavelmente ultrapassado.
Até mais.

 

B. Piropo