Chegamos, finalmente, ao final desta série sobre as novidades de Windows 8. E não necessariamente porque estas novidades sejam poucas, mas porque estamos limitados àquelas que vazaram na apresentação supostamente fornecida à HP.
Dentre elas, a que mais afetará a vida do usuário é justamente a que vamos abordar agora. Pois, afinal, a MS decidiu abrir sua lojinha: vem aí a Windows Store.
Acha que estou dando importância demais a assunto menor? Então siga adiante que logo você verá que esta lojinha tem algumas características muito especiais e talvez venha a ser o primeiro sítio comercial a se aproveitar integralmente das facilidades providas pela Internet.
Mas primeiro vamos ver do que se trata.
Bem, trata-se de uma loja que vende produtos que têm algo a ver com Windows, nomeadamente o próprio sistema operacional e aplicativos desenvolvidos pela MS e por terceiros que nele rodarão – o que, em princípio, não parece muito revolucionário.
Mas vamos adiante.
|
Figura 1: A lojinha da MS |
Veja o slide de cima da Figura 1. Nele a MS descreve algumas das vantagens que sua loja oferecerá aos usuários, parceiros, desenvolvedores e ao próprio Windows. Os primeiros disporão de um local – embora virtual – inteiramente confiável (me refiro à contaminação por vírus e outros tipos de programas mal intencionados) onde poderão encontrar uma grande diversidade de aplicativos, inclusive os mais relevantes (sobre os “settings follow-me” falaremos adiante). Quanto aos parceiros, haverá a possibilidade da criação de um importante vínculo de lealdade entre eles e seus usuários, além da oportunidade de lucros adicionais pós-venda. Os desenvolvedores, por sua vez (inclusive os independentes, que também poderão por seus programas à disposição dos clientes da loja) disporão de um poderosíssimo canal de vendas de seus aplicativos com um sistema flexível e transparente de licenciamento e recebimento de direitos autorais. E o próprio SO se beneficiará com a “deliciosa” (apenas traduzo o slide, não opino) experiência do usuário e a criação de um “ecossistema” poderoso.
E, no slide de baixo, dirigido particularmente aos parceiros que eventualmente participarão do programa, a MS destaca que um modelo baseado em aplicativos é um componente crítico para o sucesso de um sistema operacional (e estão aí os sistemas abertos que não me deixam mentir), além de lembrar alguns pontos importantes, como a capacidade da própria MS de reunir um grande número de desenvolvedores, criando um catálogo de aplicativos gigantesco, e aduzir que a loja não será apenas um “serviço”, mas um componente importante para o sucesso comercial do produto.
|
Figura 2: Windows Store – como funciona |
A MS tem grandes planos para sua loja virtual. Começando pela divulgação. Repare no slide superior da Figura 2. Segundo ele, a loja poderá ser “descoberta” via busca na Internet utilizando qualquer dos dispositivos de busca disponíveis (inclusive o da concorrente Google, destacado no slide), redes sociais, portais e sítios dos clientes integrados à rede. Além, naturalmente, da busca local, no próprio sítio do Windows.
E vamos supor que, feita a busca, você encontre o que deseja, por exemplo, o jogo “Monopólio”, edição Vale do Silício mostrado no slide inferior da Figura 2. Leu a descrição e gostou? É isso mesmo que você quer? Bem, neste caso, se você tem uma conta na lojinha da MS (sim, você poderá criar uma), basta clicar no botão “Executar” (“Run”, no slide). É o suficiente para que o aplicativo seja baixado, instalado e se apresente imediatamente pronto para uso (e que o numerário correspondente seja descontado de seu saldo, naturalmente). Afinal, é um aplicativo Windows, comprado em na loja Windows e que, mediante uma mera consulta via Internet, já identificou as características de seu computador (veja < http://msftkitchen.com/wp-content/uploads/2010/06/Windows-8-Windows-Store-04.png > este slide da apresentação original, onde se menciona explicitamente que o sistema é “form-factor aware”, portanto capaz de identificar dispositivos). Ou seja, sabe tudo o que precisa para ser instalado e configurado. Pra que mais?
Criando contas e usando “seus” programas
É claro que a MS fará todo o possível para facilitar as compras em sua loja.
Veja, no slide do alto da Figura 3, um cliente (e seu gato) conectado com a Windows Store. Por meio desta conexão ele não apenas pode escolher que aplicativo deseja como efetuar o pagamento e receber, instalar e rodar o aplicativo. E note que, do lado direito do slide, há uma linha pontilhada entre o cliente e aquele cavalheiro que se dirige à MS para obter suporte, linha que foi interrompida e desviada para a loja. O significado disto é que grande parte do suporte necessário aos programas nela adquiridos será fornecido pela própria Windows Store.
|
Figura 3: criando e administrando contas |
Já o slide de baixo da Figura 3 ilustra que sua conta (ou seja, aquela onde, se assim o desejar, você manterá um saldo em dinheiro para aquisição dos produtos da lojinha) não ficará vinculada a uma determinada máquina, mas a você e todas as suas máquinas (que, presumo, devam ser cadastradas como passíveis de receber e instalar os aplicativos adquiridos por você). Ou seja: mesmo que você adquira produtos de diferentes parceiros, caso estes parceiros estejam associados ao sistema Windows Store, você terá tudo centralizado em uma única conta, mais fácil de administrar. O que facilitará um bocado sua vida. Ou pelo menos é o que parece indicar o slide superior da Figura 4.
|
Figura 4: Vínculo entre aplicativo e usuário |
No seu lado esquerdo se vê um usuário jogando alegremente seu Monopólio em um micro portátil tipo “notebook”. E, do lado direito, o que se presume que seja o mesmo usuário, continuando seu jogo em um segundo computador, tipo “tablet”. A legenda, “Applications and settings folow-me”, sugere que, depois de adquirido um determinado aplicativo, o usuário pode utilizá-lo em qualquer de seus micros (previamente cadastrados? Não sei; convém notar que tudo o que se diz aqui são deduções a partir de um conjunto de slides que “vazaram” de um dos parceiros da MS que, por sua vez, não apenas se abstém de se manifestar sobre o assunto como também, quando ele vem à tona, nega peremptoriamente a ocorrência de qualquer vazamento, portanto tudo isto não passam de suposições – embora razoavelmente bem fundamentadas).
E, finalmente, o slide de baixo da figura 4 está ali exclusivamente para ressaltar o que espera a MS de sua “lojinha”: que ela seja o local onde “usuários obtenham os aplicativos que desejam, nos quais possam confiar e que possam usar em qualquer dispositivo que rode Windows 8”.
Um objetivo inegavelmente ambicioso.
Mas o mais interessante disto tudo não é o fato de que a MS pretende abrir uma loja para vender produtos e aplicativos Windows 8. Porque, quem comprar na loja, terá imensas vantagens. Inclusive, presumo eu, a maior delas. Aquela que a MS batizou de “Push Button Reset”. Um achado...
O recurso “Push Button Reset”
Antigamente a escola era risonha e franca. Usava-se o DOS, um sistema tosco, porém eficaz e de uma simplicidade franciscana. Sua interação com os programas era a coisa mais elementar que se poderia imaginar: “navegava-se” até o diretório onde o arquivo executável do programa estava armazenado, digitava-se seu nome na linha de comando e o programa era carregado para ser executado. Acabava-se de usar o programa (pois, naqueles dias, usavam-se muitos programas, mas um de cada vez) e o DOS o “descarregava” da memória, retornando à linha de comando. O ato de “instalar” um programa consistia apenas em criar um diretório e copiar nele os arquivos que constituíam o programa – na maior parte das vezes um único arquivo, justamente o executável. Programas mais sofisticados usavam arquivos auxiliares para configuração e coisas que tais, mas quem “mexia” neles ou era o próprio programa ou, mais raramente, o usuário. Jamais o sistema operacional. A função do DOS limitava-se a carregar o código executável na memória, supervisionar sua execução e efetuar a comunicação entre os dispositivos de entrada e saída e o executável. Mais nada.
Um mundo assim era absurdamente limitado, evidentemente, mas preservava a virtude da simplicidade. Seu sistema estava se comportando mal? Programas estavam agindo de modo estranho? Ora, para quem tomava a precaução elementar – indispensável naqueles dias – de manter os arquivos de dados separados dos demais (hábito que mantenho até hoje; só mudou o meio suporte, de um pacote de disquetes para um dispositivo NAS), bastava reformatar o disco rígido, reinstalar o sistema, criar novamente a árvore de diretórios e copiar o conteúdo dos disquetes dos programas nos respectivos diretórios (a isso se resumia toda a faina da instalação). Depois, era seguir tranquilo com um conjunto de SO e programas novo em folha.
Então vieram os sistemas operacionais multitarefa e multiusuário. E a integração entre sistema operacional e programas aumentou exponencialmente. Surgiu o Registro e suas medonhas ramificações. Apareceram os arquivos de configuração e informações com suas extensões CFG e INF, espalhados por um labirinto de pastas (que nada mais eram que os velhos diretórios, mas de nome novo) e, pior, apareceram as famosas bibliotecas de ligação dinâmica, com suas extensões DLL, oferecendo a possibilidade de serem usadas por mais de um programa, algo absolutamente impensável nos tempos do DOS. A instalação de um programa, antes de franciscana simplicidade, tornou-se um processo complexo que “mexe” em toda a estrutura do sistema. E não conheço usuário Windows que diante da frase “formate seu disco rígido e reinstale tudo” não sinta um arrepio de pavor.
É claro que surgiram paliativos. O primeiro foi um programa, cujo nome não recordo mas garanto que um piedoso leitor há de refrescar minha memória nos comentários, que cuidadosamente anotava as alterações que se faziam nas configurações do sistema e criava marcas ao longo do caminho. Algo deu errado? Pois bastava escolher uma daquelas marcas e avisar ao programa, que misericordiosamente reconstituía a configuração então vigente. Isto lhe lembra algo? Sim, claro, os pontos de restauração, pois a ideia era tão boa que Windows a incorporou e criou a restauração do sistema. Que resolve a maioria dos problemas, porém não todos. De quando em vez ainda há que apelar para a velha frase “formate seu disco rígido e reinstale tudo” e seu inevitável arrepio de pavor.
Pois bem: o recurso “Push Button Reset” virá para resolver exatamente este problema. Principalmente, é claro, para quem for um fiel freguês da Windows Store. Repare nos três slides da figura 5.
|
Figura 5: “Push Button Reset” |
Preste atenção no slide de cima. Ele aparecerá quando o feliz usuário de um sistema dotado do recurso “Push Button Reset” (que, esperamos, seja o Windows 8) acionar a recuperação do sistema. Nele, além da opção convencional “desfaça apenas as últimas mudanças” (“Undo recent changes only”) aparece uma novidade: “restaure a instalação original de Windows mas preserve minhas coisas” (“Reset Windows but keep my stuff”). Ao clicar nela ele o usuário acompanhará – certamente com um ar de preocupação – o desenrolar dos fatos mostrados no slide do centro, a saber: preservação dos arquivos pessoais, das contas de usuário e restauração de Windows (que, nesse caso particular, corresponde a refazer completamente a instalação original, sem os programas que foram posteriormente instalados). Dá medo, não dá?
Mas agora repare no slide de baixo. Depois de avisar que a reinstalação de Windows foi bem sucedida, ele oferece duas alternativas. A segunda é “Reinstalar outros programas” (“Reinstall other programs”) que, presumo, guiará o usuário ao longo do doloroso processo de reinstalação dos demais programas (“demais”, neste contexto, se refere aos que não foram adquiridos na lojinha da MS). Mas a interessante é justamente a primeira: “Carregue a Loja de Aplicativos para reinstalar meus programas” (“Launch the App Store to reinstall my programs”). Percebeu? O sistema, de posse da lista de programas adquiridos na Windows Store, entrará em contato com ela via Internet, baixará os arquivos correspondentes e executará, sem qualquer intervenção do usuário, todo o sofrido processo de reinstalação. Afinal, os programas são dele e, desde que na mesma máquina, poderão ser baixados e instalados quantas vezes necessário for.
Resumindo: se você for um cliente efetivamente fiel da Windows Store (e, se quiser maiores informações sobre o significado do vocábulo “fidelização” que nada tem a ver com Cuba, recorra à coluna desta semana de mestre Sucupira) e comprar todos os seus programas na Windows Store, aquela famosa frase “formate seu disco rígido e reinstale tudo” não lhe provocará qualquer arrepio. Todo o trabalho se resumirá ao gesto de clicar umas poucas vezes em algumas opções do sistema e aguardar que o trabalho braçal seja feito para você.
Entendeu agora porque eu afirmei lá no início que a lojinha da MS será a primeira a se aproveitar integralmente das facilidades providas pela Internet?
Sistema de ajuda e Internet Explorer 9
O resto... Bem, o resto é o resto. Pelo menos tanto quanto nos foi dado perceber examinando os famosos slides “vazados”. É claro que muita coisa nova há de vir, não somente aquelas que já estão “no forno” e meramente não foram citadas nos slides por não pertinentes, como também as que surgirão como ideias novas nos próximos dois anos (é bom lembrar que ainda faltam dois anos para o lançamento do Windows 8 – ou seja lá que nome a MS preferir lhe dar). Mas por enquanto, de relevante, acho que só faltou mencionar os aprimoramentos no sistema de ajuda e suporte de Windows e o lançamento do IE 9 – que definitivamente ocorrerá bem antes da liberação do novo SO e nem sei por que o slide que o menciona estaria incluído neste conjunto.
|
Figura 6: O sistema de ajuda e o IE9 |
Como mostra o slide de cima da Figura 8, a intenção da MS é que, toda vez que um usuário precisar de ajuda, ele seja posto em contato com o sistema que irá resolver seu problema. Este objetivo será conseguido facilitando a busca de informações, passarão a ser providas não apenas pela MS como também pelo fabricante do computador. Para isto o sistema de busca de informações será ampliado e incluirá também os bancos de dados dos fabricantes. Mas, além disso, o sistema se estenderá também pelos fóruns mantidos pelos usuários e reconhecidos pela MS, as chamadas “comunidades OEM” (OEM é a sigla em inglês de “Original Equipment Manufacturer”). Mas convém ter em mente que, como seria de esperar nos dias de hoje, o usuário somente poderá usufruir das potencialidades do sistema de ajuda e suporte em sua plenitude quando conectado à Internet.
Quanto ao IE9, quem quiser mais informações – desta vez, oficiais – sobre ele, pode simplesmente clicar no < http://www.IETestDrive.com/ > atalho mencionado logo no topo do slide inferior da Figura 6. Será encaminhado para a página “Windows Internet Explorer 9 Test Drive”, mantida pela própria MS (segundo o slide, disponível desde 10 de março deste ano, com atualizações a cada oito semanas e ainda não constituindo um navegador inteiramente funcional). Ainda de acordo com as informações do slide, a primeira versão beta (que, esta sim, será um navegador completo) é esperada para o próximo mês e somente depois disso serão fixadas as datas para liberação do “candidato à liberação” (RC, ou “Release Candidate”) e RTW (cujo significado, confesso, ignoro completamente; depois do RC costuma ser liberado o RTM, “Candidato à fabricação” ou “Release to Manufacturing”, mas para fornecer o significado de RTW, nem mesmo a Wikipedia veio ao meu socorro; quem souber, favor manifestar-se).
Uma visita ao < http://ie.microsoft.com/testdrive/ > sítio apontado pelo atalho revelará fatos muito interessantes. Como por exemplo que a MS finalmente aderiu de corpo e alma às recomendações e padrões do < http://www.w3.org/html/ > W3C, abraçou a < http://dev.w3.org/html5/spec/ > versão 5 do protocolo HTML e a versão 3 das folhas de estilo em cascata. Se você não é desenvolvedor de sítios para a Internet nem é versado no assunto, tudo isto quer dizer pouco ou quase nada. Mas para quem sabe do que se trata, é uma novidade e tanto, digna das mais efusivas comemorações.
Pois é isso.
E agora chega de Windows 8...
B.
Piropo