Antes de prosseguir discutindo os aspectos técnicos de Windows 8 (com base, exclusivamente, na apresentação que “vazou” possivelmente da parceira HP e que foi comentada nas colunas anteriores) talvez valha a pena comentar dois slides cujo tema tem mais a ver com estratégia de mercado do que com desenvolvimento tecnológico. São os mostrados na Figura 1.
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Figura 1 – O que a MS pensa que o usuário deseja |
No slide da esquerda a MS apresenta as hipóteses que Windows 8 considera válidas e sobre as quais montará toda a estratégia de desenvolvimento do novo sistema. Ela parte do princípio que a chave do sucesso será respeitar o “ecossistema”. Ou seja: para que o produto seja bem sucedido faz-se mister considerar o conjunto do hardware, dispositivos e programas escolhidos pelos usuários. A consequência disso vem explicitada na segunda frase do slide: “Nós damos importância a todos os PCs” que, além disso, afirma que haverá edições de Windows 8 capazes de satisfazer usuários desde os que dispõem de sistemas de mais baixo desempenho até os mais “parrudos”. Mais que isso: para criar um produto “vencedor”, não basta desenvolver um bom Windows 8. Será preciso ainda considerar o Windows Live e o Internet Explorer (o que mostra que a MS percebe que os limites do SO precisam se estender para muito além do PC e está empenhada em leva-los, literalmente, às nuvens...) E fecham as considerações afirmando justamente o contrário daquilo que os devotos dos demais sistemas costumam acusá-la: que respeitar a base instalada, ou seja, criar um sistema capaz de rodar no parque dos computadores atualmente em uso, é uma oportunidade a ser aproveitada. E, finalmente, que as diversas edições que serão postas à disposição do mercado devem ser facilmente distinguíveis umas das outras, permitindo que o usuário saiba diferenciá-las e, sobretudo, consiga escolher aquela que melhor lhe serve.
Para que tudo isto? Bem, a resposta está no slide da direita, que por sua vez é derivado de um anterior, que pode ser visto <http://msftkitchen.com/wp-content/uploads/2010/06/All-Eyes-on-Apple.png>aqui, que mostra como a Apple conseguiu criar seu “círculo virtuoso” de relacionamento com seus usuários. O qual, curiosamente, não vem sendo respeitado ultimamente pela própria Apple que, mesmo admitindo que o produto apresenta um defeito grave, recusa-se a recolher (fazer “recall)” – seus iPhones 4 e oferece, em vez de um novo aparelho sem defeito, uma ridícula “capinha” para isolar a antena da mão do otár... digo, usuário que comprou mais um telefone “esperto-pero-no-mucho” e que convido a juntar-se a mim no clube dos demais otár... digo, usuários do Motorola Milestone. Seja como for, diz a MS em seu slide: os desenvolvedores deverão detectar as motivações que levam os clientes a usar o produto (“UX”, no slide, significa “User´s eXperience”, ou experiência do usuário), identificando aqueles aspectos a que eles, clientes, atribuem maior valor e implementando-os. O que levará o cliente satisfeito a voltar a adquirir produtos da marca que voltarão a satisfazê-lo, que voltará a adquiri-los e assim por diante.
Agora vamos ao que interessa. O que Windows 8 trará de novo?
A partida rápida
Este ponto foi mencionado no final da coluna anterior. A MS está preocupada com o tempo de espera dos usuários durante a inicialização da máquina ou retomada do trabalho após a hibernação. Vejam os slides da Figura 2.
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Figura 2 – Partida rápida |
Observem o slide da esquerda. Nele, bem no alto, a MS exprime suas intenções no que toca à partida. Textualmente: “Os PCs com Windows 8 darão a partida rapidamente, em alguns casos quase instantaneamente, e estarão prontos para uso sem quaisquer retardos longos ou inesperados. Quando os usuários desejarem verificar a correspondência eletrônica, consultar os resultados de jogos esportivos ou executar arquivos de mídia, eles amarão seus PCs porque conseguirão o que pretendem rapidamente”. Como se vê, grandes expectativas.
E como os desenvolvedores pretendem preenchê-las? Reduzindo a espera após ligar a máquina, fazendo com que a máquina “acorde” instantaneamente após um período de dormência (“instant sleep resume”), tornando a experiência do usuário mais racional ao transitar entre os diversos estados liga/desliga, empregando ferramentas e telemetria para otimização dos sistemas e permitindo que usuários entusiastas afiram a melhoria do desempenho, oferecendo-lhes opções de configuração que atendam este objetivo.
A estratégia a ser adotada para chegar a estes resultados está descrita no slide da direita da Figura 2. Para começar, os PCs que rodarão Windows 8 se comportarão como qualquer outro eletrodoméstico: quando não em uso, em vez de desligar, assumirão um estado letárgico, de baixo consumo de energia (aquele LED que fica sempre iluminado quando sua televisão está aparentemente desligada indica este estado; é por isto que a imagem aparece tão rapidamente quando você a liga; experimente desliga-la efetivamente da tomada e depois volte a liga-la para perceber a diferença).
Mas isto não quer dizer que o tradicional método de partida e desligamento será deixado de lado: grandes esforços serão investidos na redução tanto do tempo que medeia entre o momento em que o usuário aperta o botão “liga” e a máquina se apresenta pronta para o uso, com todos os “drivers” e residentes carregados, quanto na minimização daquele que transcorre entre o apertar do botão “desliga” e a máquina fechar os arquivos, imobilizar o disco rígido e apagar o vídeo.
Uma das formas de conseguir isto é fazer, por exemplo, com que os dados armazenados no “ReadyBoost” permaneçam acessíveis em inicializações sucessivas. Esqueceu o que é “ReadyBoost”? Ora, as velhas colunas estão aí para isso mesmo. Releia a “Vista: ReadyBoost não aumenta a RAM”, publicada em junho de 2008.
Seja como for, como ressalta o slide, a MS vai investir no sentido de melhorar o que ela mesma chamou de “experiência liga/desliga do usuário”, inclusive fornecendo ferramentas para que o próprio usuário consiga não somente aferir como também otimizar esta melhoria.
Inclusive combinando a operação de “logoff” com a de hibernar.
Fazendo “logoff” e hibernando ao mesmo tempo
Windows é um sistema multiusuário. Esta frase talvez não queira dizernada à maioria de vocês. Afinal, sistemas multiusuários estão aí “desde que o mundo é mundo”. E quem sabe tenham razão. Mas quer dizer muito para meia dúzia de dinossauros como este que vos escreve, que começaram a usar computadores pessoais antes que o mundo fosse mundo, quando imperava o domínio do DOS, um sistema monotarefa e monousuário, quando a máquina era simplesmente a máquina e tratava como se fosse a mesma pessoa quem quer que a ligasse. Hoje, diversos usuários podem compartilhar a mesma máquina, nela gravando seus arquivos pessoais e mantendo suas identidades separadas, fazendo com que seus arquivos possam ou não estar ao alcance dos demais.
É para suportar isso que o sistema deve ser multiusuário. E, naturalmente, precisa “saber com quem está falando”, ou seja, que usuário está, naquele momento, usando a máquina.
É por isso que, se você compartilha sua máquina com alguém (eu compartilho as minhas com meu neto mais velho, um jovem cavalheiro de nove anos e calejado usuário de computadores), imediatamente depois da inicialização precisa se registrar no sistema, ou seja, informar, eventualmente (mas não obrigatoriamente) com a utilização de uma senha, qual dos usuários, dentre os que têm permissão para tal, pretende usar a máquina naquele momento. Em inglês esta ação é conhecida por “log on” (ou “logon”). E se, enquanto a máquina está em uso nas mãos de um dado usuário, algum outro precisar usá-la, antes que este novo usuário faça seu “logon” o anterior deve avisar que está tirando seu time de campo, inda que temporariamente, ou seja, precisa de se “desregistrar” do sistema. Este segundo procedimento, em inglês, denomina-se “log off” (ou “logoff”).
Ocorre que os procedimentos acima – logon e logoff – implicam muito mais complexidade do que aparentam. Porque a máquina não se limita a dar acesso a um e privar o outro deste acesso. Ao contrário: “por debaixo dos panos” acontece muito mais que isso. O ambiente de trabalho do usuário que faz logoff precisa ser armazenado na memória para ser recomposto quando ele voltar a assumir, os arquivos em que ele estava trabalhando precisam ser marcados para que possam ser reconstituídos e são executadas mais umas tantas tarefas das quais nos sequer nos damos conta. Tarefas que serão executadas de forma reversa quando outro – ou o mesmo – usuário fazlogon:seu ambiente de trabalho deve ser recuperado e aberto para seu uso e gáudio, arquivos reabertos e coisa e tal. Mas ninguém tem que se preocupar com isto. Só o sistema operacional, naturalmente.
Outra coisa que mal percebemos é que, ao comandar o desligamento da máquina, mesmo sem explicitá-lo, estamos comandando igualmente uma operação de logoff. Um pouco diferente daquela que se comanda na ocasião de uma simples troca de usuário, quando se pretende retomar o trabalho adiante com um novo logon porque, digamos, é mais definitiva, mais radical. Mas não deixa de ser um logoff.
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Figura 3: Logoff e hibernação |
Agora, diga-me lá: qual das duas operações de logoff você executa com maior frequência, a que antecede a simples troca de usuário ou a que precede o desligamento da máquina? Se sua resposta coincidiu com a primeira opção, você certamente é a exceção que confirma a regra. Porque, na imensa maioria dos casos, as operações de logoff precedem o desligamento. E mais: da próxima vez que aquela mesma máquina for ligada, muito provavelmente o será pelo mesmo usuário. Que, além de esperar que a inicialização seja feita, terá que fazer novo logon, aguardar que seu ambiente de trabalho seja reconstituído, recarregar os programas que estava usando (a grande maioria deles, os mesmos da sessão de trabalho anterior) para somente então por mãos à obra.
Ganhando tempo na entrada e na saída
Tudo isto não lhe parece uma notável perda de tempo? Que tal simplesmente religar a máquina e voltar a trabalhar no mesmo ponto em que se estava antes, com todos os programas abertos, arquivos no ponto em que os deixamos e ambiente de trabalho reconstituído? Com isto, ganha-se tempo na entrada, pois ao ligar a máquina basta avisar quem ligou que ela rapidamente reconstitui o estado da sessão de trabalho anterior. E ganha-se igualmente na saída, pois não é necessário fechar arquivo por arquivo, programa por programa. Basta criar uma imagem da memória no disco rígido e desligar a energia.
Ora, direis, mas isto já existe. Chama-se “hibernação”.
De fato existe. E é tão útil que deveria ser a regra, não a exceção.
Pois bem: repare na primeira entrada abaixo do título do slide da esquerda da figura 3. Resumindo um bocado uma história longa, ele quer dizer não somente que Windows 8 implementará um novo modo de ligar/desligar a máquina que combinará as operações de logoff e hibernação como também que este será o modo padrão. Ou seja: finalmente passará da condição de exceção à de regra.
Se você continuar lendo o slide perceberá que a ideia está em estágio tão incipiente que a MS sequer decidiu como denominar o novo modo. As hipóteses são “shutdown”, “power down” “turn off” ou qualquer outro nome. E que ainda não resolveu alguns dos problemas que o novo modo implicará, ou seja, como executar, em uma máquina que acaba de ser religada mas mantém toda a configuração vigente na sessão de trabalho anterior, operações como atualizações de drivers ou do próprio sistema, troca ou instalação de novos dispositivos de hardware, seleção do dispositivo usado para inicialização e coisas que tais.
Como se vê existem problemas que talvez até venham a inviabilizar a coisa.
Mas que, pelo menos no momento, a MS tem a firme intenção de implementá-la, não há dúvida. Basta reparar no slide da direita da Figura 3.
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Figura 4: ganhando tempo |
E descubra, examinando a figura 4, em que pontos a MS pretende ganhar tempo nos procedimentos de partida e desligamento comparando aquilo que ela chama de “inicialização tradicional”, na faixa superior, com “Inicialização com logoff e hibernação”, na faixa inferior.
Mas não é só isso que Windows 8 nos trará. Espera-se novidades também no sistema de ajuda e suporte, em um meio revolucionário de recuperação do sistema e de algo que, por estranho que pareça, vai tornar possíveis estes dois últimos recursos: a loja da MS.
Mas isto fica para a próxima coluna, a última da série.
Até lá.
B.
Piropo