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Figura 1: Slide da MS apresentado em 2009 |
A coluna anterior versou sobre a atenção que a MS dedica, desde já, ao desenvolvimento do sucessor de seu sistema operacional Windows 7 mesmo tendo este sistema vendido mais de 150 milhões de cópias nos sete meses transcorridos desde o lançamento (segundo Erick Schonfeld em < http://techcrunch.com/2010/06/23/windows-7-150-million/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+Techcrunch+(TechCrunch) > sua coluna no Tech Crunch). E inspirou alguns interessantes comentários.
A coluna se baseou, tanto de minha parte quanto da parte de outros colunistas devidamente citados, em “achismos”. Ou seja, naquilo que eu e os demais colunistas achamos que pode ocorrer. E fechei a coluna com o seguinte parágrafo que cito textualmente:
“Na situação atual, com a disposição da MS em não se pronunciar sobre o novo sistema, parece que isto é tudo o que podemos esperar. A não ser, é claro, que alguém tenha obtido informações ‘vazadas’ da própria MS ou de um de seus parceiros e que as tenha tornado públicas.”
E acrescentei:
“Seria isto possível?”
Bem, considerando a forma como o mercado funciona nos dias de hoje, com um fortíssimo entrelaçamento das empresas que desenvolvem software com as que fabricam hardware e projetam computadores, é impossível desenvolver um sistema operacional sem que, durante a etapa de desenvolvimento, informações transitem entre as empresas. Portanto, com tanta informação fluindo de um lado para outro, um vazamento não seria impossível. Por outro lado, considerando o grau de confidencialidade que envolve estas informações e os cuidados tomados contra sua divulgação, não seria coisa fácil de ocorrer.
O que vocês acham?
Pois deixemos de achismos e vamos aos fatos. Quer dizer, aos boatos. Segundo Stephen Chapman em sua coluna < http://msftkitchen.com/2010/06/the-anatomy-of-a-leak-windows-8-documentation.html > “The Anatomy of a Leak: Windows 8 Documentation” (A anatomia de um vazamento: documentação de Windows 8), há algumas semanas a MS enviou a um de seus parceiros mais importantes, nomeadamente a HP, uma apresentação sobre o estágio de desenvolvimento de Windows 8 (o codinome usado pela empresa para o sucessor de Windows 7). Tal apresentação, ao que parece, caiu nas mãos de um certo “DanielRemains” (que não é um nome, mas uma identidade de usuário, ou “UserID” de uma rede social) que a repassou adiante, não sem antes tomar todos os cuidados necessários (dentre os quais converter os arquivos originais do formato XPS – de open XML Paper Specification, o formato XML desenvolvido pela MS e padronizado pela ECMA - para o formato PDF) visando remover quaisquer sinais que pudessem identificar a fonte. Porém, ainda segundo Chapman, os cuidados necessários não foram suficientes e um dos slides mostra que o destinatário da apresentação original era um certo Derek Goode da HP (nada disto é certo, naturalmente; mas, se for, que Deus se apiede da alma do pobre Goode...), o que permitiu identificar não apenas o destinatário quanto a empresa que recebeu a apresentação.
Como eu disse, não se sabe se foi mesmo o pobre Derek que deixou escapar o arquivo ou foi um de seus colegas de trabalho, muy amigo, que se apropriou da cópia do indigitado e a lançou no ventilador. O fato é que os slides foram publicados na íntegra no < http://microsoft-journal.spaces.live.com/blog/cns!A33F7112F6C1D499!901.entry > Microsoft Journal, o blog de Francisco Martin Garcia. O URL do artigo que exibia os slides é < http://microsoft-journal.spaces.live.com/blog/cns!A33F7112F6C1D499!901.entry >, mas não gaste seu tempo clicando nele: tudo o que você encontrará será um “erro 404 – página não encontrada”. Mas eles estavam lá, eu garanto. Só não posso garantir a razão de não mais estarem, mas tenho cá minhas suspeitas.
Suspeitas estas que são compartilhadas por Chapman, como ele deixa claro no artigo acima citado. Mas o fato de Mr. Martin Garcia ter removido os slides de seu (dele) sítio não os fez desaparecer da Internet. Aliás, ao que parece, nada pode fazer com que algo desapareça da Internet. Pois o próprio Chapman publica a coleção completa no artigo < http://microsoft-journal.spaces.live.com/blog/cns!A33F7112F6C1D499!901.entry > “Windows 8 Plans Leaked: Numerous Details Revealed” (Planos para Windows 8 vazados: numerosos detalhes revelados).
Nos slides, tem de tudo. Desde < http://msftkitchen.com/wp-content/uploads/2010/06/All-Eyes-on-Apple.png > uma apreciação sobre a estratégia da Apple para criar um círculo virtuoso no qual uma satisfatória experiência do usuário leva à formação de uma “fidelidade à marca” que leva a novas compras que leva a uma satisfatória experiência do usuário que leva... e assim por diante (nada a criticar: são justamente estas “espiadelas” nas estratégias bem sucedidas dos concorrentes que ajudam as empresas a tornarem seus produtos mais atraentes aos usuários, o que afinal acaba beneficiando a nós mesmos, usuários) até a descrição das < http://msftkitchen.com/wp-content/uploads/2010/06/Windows-8-Machine-Specifications.png > características desejáveis de um computador concebido para rodar o futuro SO (que deverá ter coisas como um sensor infravermelho de proximidade, câmara de vídeo obrigatória – já veremos o porquê dela – GPU incorporada, facilidades para controle por voz, vídeo de 17” a 30” sensível a toque e mais uma coisa e outra, tudo muito interessante), o que seria de esperar já que a apresentação foi enviada a uma fabricante de hardware. Mas não nos deixemos enganar pelos detalhes. Vamos ao que interessa.
Que novidades a MS pretende incorporar ao Windows 8?
Pois bem, mesmo levando em conta que o que a MS pretende hoje pode ser muito diferente do que ela efetivamente incorporará à versão final, vamos dar uma espiada nos slides que nos dizem algo sobre este tema. Sempre lembrando que todos os slides que vocês verão adiante foram obtidos diretamente do < http://msftkitchen.com/2010/06/windows-8-plans-leaked-numerous-details-revealed.html > artigo de Stephen Chapman.
Novidades no “logon”
Então vamos a eles. Começando pela Figura 1, que mostra dois deles.
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Figura 1: Novidades no “logon” |
O da esquerda nos diz que “contas de usuário” continuarão a ser o método preferencial para identificar o usuário, mas que Windows 8 não apenas simplificará a troca de usuários como também que as contas poderão se conectar à “nuvem” (o novo Office 2010 já revela uma forte tendência neste sentido). E que, o que é mais importante, como a “nuvem” é usada para armazenar e analisar os dados, as “identidades” de cada usuário não mais estarão ligadas à máquina, mas sim ao próprio usuário, como convém. E que – esta informação está no slide da direita – para ser identificado e se registrar no sistema (fazer “login”), basta ao usuário “dar as caras” (ainda se usa esta expressão? Há algumas décadas ela significava “aparecer, apresentar-se”; dizia-se a um amigo que retornava depois de longa ausência: “há quanto tempo você não dá as caras...”). E, neste caso, literalmente: ponha o rosto em frente à câmara de vídeo do computador (entendeu agora a importância de que a máquina disponha deste recurso?) que Windows imediatamente efetuará o reconhecimento de sua fisionomia e o registrará no sistema. Seja qual for a máquina, mesmo que ela jamais o tenha visto (pois os dados que permitem o reconhecimento, assim como seus arquivos, pastas, configurações e tudo o mais, estarão na “nuvem”). Coisa simpática, nénão?
Os alvos de Windows 8
O que nos leva à figura 2. Para que tipo de máquina Windows 8 está sendo concebido? Bem, um dos slides que eu não inclui aqui por achar desnecessário mas que vocês podem < http://msftkitchen.com/wp-content/uploads/2010/06/Windows-8-Trends-Shaping-Planning.png > consultar diretamente no artigo de Chapman menciona a “explosão de fatores de forma” que atualmente domina o mercado, reitera a ubiquidade da conectividade, afirma que os mundos pessoal e empresarial se fundirão (ao menos no que toca ao uso de computadores) mas lembra que a experiência do usuário é essencialmente pessoal, embora em um ecossistema diversificado e vibrante. Portanto a MS está consciente que seu SO deverá rodar igualmente bem seja em poderosas máquinas empresariais, seja em pequenos “telefones espertos” ou coisas que o valham. Não obstante, como mostram os dois slides da Figura 2, ela enfatiza apenas três fatores de forma, em inglês: “Slate”, “Laptop” e “All-in-One”. O que são eles?
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Fig 2: Os alvos de Windows 8 |
Os “All-in-One”, ou “tudo em um”, também conhecidos por AIO, foram a sensação da < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2009/06/21/de-volta-da-computex-2009/ > Computex 2009 realizada ano passado em Taiwan. São aquilo que se pode considerar os sucessores dos computadores domésticos, máquinas poderosas com imensa capacidade para processar gráficos e arquivos multimídia, telas amplas e, na maioria dos casos, sensíveis ao toque. Os AIO representam a fusão dos computadores pessoais com as televisões e equipamentos de som e vídeo. Hoje, pouco se fala neles (na Computex 2010, realizada mês passado, ainda havia alguns, mas sem sombra do destaque que tiveram na edição anterior) mas, a julgar pelos planos da MS para o Windows 8, é bom estar preparado porque ao que tudo indica eles invadirão nossos lares.
“Laptops”, sabemos todos, é o nome genérico que se dá aos computadores portáteis. Englobam desde os pequenos “netbooks” e os um pouco maiores (algumas vezes, muito maiores) “notebooks”. A capacidade de processamento varia bastante entre os diversos exemplares, assim como os recursos disponíveis. Mas duas coisas todos (ao menos, todos os modernos) têm em comum: mobilidade e altíssimo grau de conectividade.
Até aí, pouca novidade. Afinal quem não sabe que o mercado de informática pessoal caminha rumo ao entretenimento, portabilidade e comunicabilidade já há algum tempo. Mas e o “slate”? De que se trata?
“Slate”, em inglês, significa “lousa”. E mantém quase todas as acepções do termo em português, inclusive “lâmina de pedra” e “quadro de ardósia com moldura de madeira que se usa nas escolas, quadro negro” (estas são adaptações de significados colhidos no dicionário Houaiss). No que toca aos computadores, o termo designa estes pequenos computadores portáteis sem teclado mas com tela sensível ao toque, que abrange desde os micros tipo tablete (“tablet”) até os leitores de livros eletrônicos (“e-book readers”), a sensação da < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2010/06/17/o-que-houve-na-computex-2010-2/ > edição deste ano da Computex.
Repare no slide da direita da Figura 2. Veja, no lado esquerdo dele, um modelo genérico de computador com fator de forma “slate” e repare, abaixo dele, quais são os planos da MS que envolvem Windows 8 e este formato: otimização para acesso à Internet e “consumo de mídia”, jogos casuais, leitura e administração de correio eletrônico e “comunicação em rajada” (“burst communication”, a que envolve mensagens instantâneas tipo SMS e redes sociais). Nada de muito surpreendente. Mas o fato da MS dar tanto destaque ao formato certamente significa que a empresa pretende investir pesado em características do SO desenvolvidas com ele em mente (e quem sabe desta vez o One Note decole...)
Economia de energia
Considerando a ênfase que a indústria de hardware vem dando ao assunto, não há de surpreender ninguém que a MS tenha considerado a economia de energia como um dos pontos importantes para o desenvolvimento de Windows 8 conforme mostram os dois slides expostos na Figura 3.
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Figura 3: Economia de energia |
A empresa encara o tema a partir de quatro diferentes pontos de vista: Eficiência no uso da energia, facilidades nas transições “liga/desliga”, diagnósticos e medições e resiliência (vou lhe poupar uma viagem ao dicionário; segundo o Houaiss, na acepção aqui usada pela MS, trata-se da “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”, ou seja, no caso de Windows 8, capacidade de se recuperar de falhas ou travamentos). A mim, chamaram atenção particularmente as destacadas nos slides da Figura 3.
No que toca à resiliência (slide da direita), a MS dedicará especial atenção a dois aspectos, um deles referente à UCP, o outro ao disco rígido. O primeiro consiste em levar o microprocessador a um estado letárgico quando o usuário não estiver usando a máquina e o segundo a “parar” o disco rígido (que usualmente permanece girando a milhares de rotações por minuto enquanto a máquina está ligada) sempre que não estiverem sendo realizadas operações de leituras ou escritas. Isto não apenas economiza uma significativa quantidade de energia como também protege o sistema da ação de softwares mal programados, reduz o impacto de atividades desenvolvidas em segundo plano, como serviços de manutenção do próprio SO, e aumenta a confiabilidade das transições entre os estados de dormência/atividade (razões pelas quais a MS considera que aumentam a resiliência do SO).
O segundo aspecto (slide da esquerda) tem a ver com as transições entre os estados de ligado/desligado. Para aperfeiçoá-las (o que contribuirá bastante para reduzir o consumo de energia) a MS pretende melhorar o desempenho da hibernação comprimindo o arquivo de imagem da memória antes de gravá-lo em disco, reduzir o tempo gasto nas atividades do POST (“Power On Self Test”, ou autoteste de partida, realizado toda vez que o computador é ligado) e na leitura dos dados do BIOS, melhorar o desempenho de micros portáteis fazendo com que, sempre que possível, os serviços de manutenção do SO sejam realizados apenas quando o micro estiver conectado a uma fonte de energia (ou seja, enquanto a bateria está sendo carregada, uma ideia simples, mas de grande efeito na extensão da duração da carga da bateria) e, finalmente, o mais interessante: a criação de uma nova opção de desligamento do sistema que combina as ações de “logoff” e hibernação. Isto, combinado com as novas estratégias de partida e desligamento, facilitará um bocado a vida do usuário.
E que novas estratégias de partida e desligamento são estas?
Bem, isto veremos na próxima coluna.
Até lá.
B.
Piropo