Um ano depois do lançamento, em que pé anda a adoção de Windows 7 pelo mercado?
Bem, ao contrário do que ocorreu com Windows Vista, que não despertou reações muito entusiasmadas (com algumas exceções, entre as quais se inclui este pobre cronista que vos escreve), a recepção de Windows 7, seja entre os analistas, seja entre os usuários, foi muito boa. Mas, curiosamente, esta aceitação não se refletiu no nível de adesão dos usuários. O resultado é que, como mostra a Figura 1, decorrido um ano do lançamento oficial, Windows 7 se refestelou apenas nas máquinas de um em cada dez usuários (ou pouco mais que isso, já que no mês passado, janeiro de 2010, detinha 11,3% do mercado).
|
Figura 1: Estatísticas do W3Schools sobre plataformas de sistemas operacionais |
De onde veio a Figura 1? Bem, como já há alguns anos vimos recorrendo às estatísticas compiladas pelo sítio W3Schools e como ele, atualmente com < http://www.w3schools.com/about/about_pagehits.asp > quase dez milhões de visitantes únicos mensais espalhados por todo o mundo, tem se mostrado confiável, não vejo razão para mudar. Mesmo porque não se muda uma base de estatísticas principalmente quando se deseja comparar resultados. Portanto o que vocês vêem na Figura 1 nada mais é que um trecho da tabela (os últimos treze meses, tempo de vida oficial do Windows 7) “OS Platform Statistics” exibida < http://www.w3schools.com/browsers/browsers_os.asp > na página correspondente do sítio do W3Schools. A única diferença é que eu inverti a ordem, já que é mais fácil comparar evolução examinando os itens “de cima para baixo” na tabela, enquanto que no sítio, como o mais importante é o resultado mais recente, eles são ordenados cronologicamente “de baixo para cima”. No mais as tabelas exibem os mesmíssimos números nos mesmíssimos meses.
Se, consultando a tabela original exibida no sítio, você rolar a página até que apareçam os dados de 2007, ano em que Windows Vista foi lançado, verá que no mesmo período (um ano após o lançamento) Vista equipava apenas 7,3% das máquinas. Portanto, Windows 7 mostra um desempenho 55% superior. Não é muito, mas já é alguma coisa.
Porém, como evoluíram no mesmo período os demais sistemas operacionais? Bem, os números estão na tabela, mas nada como um bom gráfico para responder este tipo de pergunta. Então vamos à Figura 2, que mostra exatamente os mesmo dados da Figura 1, porém convertidos em gráfico de linhas.
|
Figura 2: Gráfico dos dados da tabela da Fig. 1 |
E o que ela nos mostra?
Lá no alto, a curva correspondente a Windows XP garante que ele ainda é o preferido de seis entre cada dez usuários, mas que esta preferência vem caindo lenta, porém inexoravelmente.
No meio, a curva que corresponde ao desempenho de Vista vinha oscilando ou crescendo muito lentamente até outubro de 2009, mas a partir daí passou a apresentar uma queda tão ou mais acelerada que a curva de Win XP.
E embaixo, bem, embaixo há uma confusão medonha. As linhas que mostram o desempenho de Win 2000, Win 2003, Linux e Mac OS se amontoam, todas abaixo do limiar de 10% e todas praticamente horizontais (com exceção da curva correspondente ao Mac OS que exibe um pequeno crescimento) e se superpõem à curva correspondente a Windows 7, a única que cresce de forma consistente.
Ora, como meu objetivo aqui é comparar evolução da aceitação de produtos, vamos englobar em uma categoria única aqueles produtos que não mostram evolução significativa (no caso, Windows 2000, 2003, Linux e Mac OS, em ordem crescente de preferência do mercado) somando suas porcentagens e agrupando-os na categoria “Outros”. O resultado é mostrado na Figura 3.
|
Figura 3: Evolução dos sistemas operacionais segundo W3Schools |
Pronto. Como se vê a soma mensal destas quatro porcentagens se mantém oscilando entre um mínimo de 12,8% e um máximo de 13,4%, com altos e baixos ao longo do período, mas com variação praticamente insignificante. Portanto, à guisa de simplificação, podemos considerar que estes quatro SO abocanham, juntos, uma fatia de 13% do mercado (a média entre os treze valores mensais da categoria “Outros”) ao longo de todo o ano de 2009. Em um gráfico, mostrado na Figura 4, esta variação irá se materializar na forma de uma linha praticamente horizontal, com ordenada sempre próxima de 13% e que não se superporá às demais, facilitando a análise.
|
Figura 4: Mesmo gráfico da Figura 2, com a categoria “Outros” |
Pronto. Agora fica fácil descobrir quem está migrando de onde e para onde. Basta verificar a tendência mostrada pelas linhas: Windows XP e Vista caem, Windows 7 sobe. E a coisa fica ainda mais fácil de entender quando se vê que, de janeiro a janeiro, Windows XP perdeu exatamente 8,2% do mercado, de outubro de 2009 (ponto mais alto da curva) até janeiro de 2010, Vista perdeu 3,2% enquanto de janeiro a janeiro Windows 7 ganhou 11,3%, quase a soma exata das duas outras porcentagens (11,4%).
E daí?
Bem, antes de responder há que ressaltar que estatísticas são estatísticas, não mais que estatísticas. E nada valem se não forem corretamente interpretadas. Embora estejamos fartos de saber, baseados em estatísticas, que o fumo é uma das causas predominantes do câncer de pulmão, nada impede que um mequetrefe da indústria do tabaco venha a afirmar que não é bem assim, que o resultado das estatísticas meramente indica que a predisposição ao câncer de pulmão provoca a compulsão de fumar. Ou que, como bem disse Disraeli, citado na página do W3Schools, “Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras descaradas e estatísticas”. Ou W. I. E. Gates (não, não é tio Bill da MS), também citado na mesma página: “E também tem a história do homem que morreu afogado atravessando um rio com profundidade média de quinze centímetros”. E, finalmente, convém ter em mente que se você enfiar seu traseiro no forno e a cabeça no congelador, na média estará em uma temperatura bastante confortável.
Isto dito, não é muito difícil constatar, examinando os números e os gráficos das figuras 1 a 4, que o movimento todo está se dando apenas no interior do “mundo Windows”. Mais particularmente entre os usuários de Windows XP e Windows Vista que estão migrando, de forma lenta e gradual, porém segura (eu já ouvi esta expressão antes e ela não me traz boas lembranças...) para Windows 7. E, mantida esta tendência, dentro de algum tempo (talvez ainda este ano) Windows 7 abocanhará a maior parcela do mercado, tomando afinal a liderança das mãos de Win XP.
Está tudo muito bem, está tudo muito bom, mas e o que você tem a ver com isso?
Bem, você, meu dileto leitor, que ostenta em sua máquina uma cópia genuína e veraz de Windows 7, nada a ver. Mas aqueles que conseguiram contornar a proteção (até agora, bastante débil) de Windows 7 e ativar uma cópia, digamos, não oficial, bem, estes podem começar a se preocupar.
Porque, quem sabe por considerar o produto já aceito pelo mercado, a MS resolveu que está na hora de acabar com a moleza. Mais especificamente, de fechar os mais de setenta “buracos” (“activation hacks”) que vêm sendo usados para burlar os mecanismos de proteção do sistema e permitir a ativação de cópias piratas (ou vocês pensavam que a MS não sabia?).
A notícia foi publicada pela CNet em 11/02/2010 no blog “Beyond B1nary” de Ina Fried (uma figuraça, por sinal) e pela edição eletrônica da PC World no dia seguinte.
Naturalmente a razão alegada pela MS nada tem a ver com questões comerciais ou aceitação do produto, mas com as questões de segurança.
Segundo a < http://news.yahoo.com/s/pcworld/20100212/tc_pcworld/windows7antipiracyupdatecomingtochinalate > matéria do PCWorld, uma pesquisa recente da empresa Media Surveillance, especializada em proteção contra pirataria, uma em cada três cópias piratas de Windows 7 está infectada com programas mal intencionados. E o problema é mais sério na China, onde cópias piratas são vendidas livremente, inclusive por meios eletrônicos.
Segundo a MS esta foi a principal razão da gravidade dos problemas que afloraram recentemente na China e afetaram principalmente o Google. Ao que parece seu efeito devastador está diretamente relacionado ao grande número de cópias piratas de Windows 7 em uso naquele país. E por isso mesmo os chineses serão os primeiros a receberem a tal atualização que não apenas corrige as vulnerabilidades que permitiram o ataque como também instala um programeto que verifica se a cópia é legal. E, se não for, impede o uso de planos de fundo, fazendo com que o fundo da Área de Trabalho fique negro e emitindo avisos periódicos que aquela cópia não é original – mas não interrompe o funcionamento do sistema operacional .
O < http://news.cnet.com/8301-13860_3-10451133-56.html?tag=nl.e496 > artigo de Ina Fried é mais esclarecedor. Ela informa que brevemente (segundo ela, nesta terça-feira, 16/02 ou pouco mais tarde) a MS oferecerá uma atualização, por enquanto opcional, que além de corrigir uma série de vulnerabilidades, implementará medidas anti-pirataria no sistema.
Estas medidas, inseridas no programa “Windows Activation Technology” (novo nome do velho “Windows Genuine Advantage”), verificam se a cópia é original. Se não, informam o usuário que ele foi enganado e oferecem meios para corrigir a situação (Ina não menciona o fundo de tela negro, portanto não sei se ele será usado apenas na China ou em todo o mundo).
Diz Ina que, segundo Joe Williams, gerente geral da unidade “Genuine Windows” da MS, este caminho foi escolhido porque a empresa concluiu que a maior parte dos usuários de cópias piratas de Windows não têm conhecimento de que usam um software ilegal seja porque já compraram a máquina com o sistema instalado, seja porque ele foi posteriormente instalado na máquina porém sem que o usuário fosse informado que a cópia era pirata. E que a melhor política a ser adotada em relação a essas pessoas é simplesmente dar-lhes ciência da situação já que, ainda segundo a MS, este tipo de usuário provavelmente tomará providências para corrigir a situação por não se sentir confortável usando uma cópia pirata.
Mesmo porque, ainda segundo Ina citando Williams: “Pessoas que estão pirateando ativamente sempre conseguirão meios de continuar a piratear”.
Quer dizer: finalmente a MS “caiu na real”. E talvez essa estratégia funcione melhor.
Mas a melhor estratégia para combater pirataria ainda é, sem dúvida, manter o preço do produto ao alcance do bolso dos usuários.
B.
Piropo