Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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01/02/2010

< Jarte >


Eu escrevo, tu escreves, ele escreve.
Com que?
Com papel e lápis (ou caneta), sobraram poucos. Com “máquina de escrever” (um nome que sempre me deixou encafifado por dar a entender que quem escrevia era a máquina, não o pobre escrevinhador que batucava em suas teclas), não conheço mais ninguém.
Hoje, escrevemos todos com computador.
Mas com que programa?
Para saber com certeza (pelo menos com o grau de certeza que podem garantir as estatísticas) só consultando um sítio especializado nesse tipo de estatísticas. Bem que eu procurei no Google e similares, mas não achei (e se alguém achar, ficarei grato se for informado). Então aqui vai, por sentimento – que não deve ficar muito longe da verdade: as tribos MacOS e Windows – ou pelo menos a grande maioria de seus membros – usam o MSWord. E a tribo Linux e derivados, usa OpenOffice Writer.
É claro que há exceções em ambos os campos. E sempre há quem use programas editores de texto menos conhecidos. Mas, de uma forma bem genérica e fazendo uma aproximação bastante grosseira, é isso aí. As exceções, por favor, sintam-se livres para se manifestar nos comentários cantando loas sobre as qualidades de seu editor de textos preferido, comentários que serão lidos, acolhidos e respeitados mas não necessariamente respondidos – a não ser que tratem do Jarte.
Cuméquié? Jarte? Mas que diabo é isso?
Bem, Jarte é um editor de textos. Mais que isso: é um programa tão interessante e baseado em uma idéia tão singela (como quase tudo o que beira a genialidade) que, quando ouvi falar dele pela vez primeira – há cerca de uma semana – achei que eu tinha perdido o passo com a informática. Afinal o programeto é tão criativo que deveria ser a coqueluche do momento e eu nem havia ouvido falar nele.
Ressabiado, fiz uma pesquisa aqui mesmo no FPCs. Vamos lá: “Busca inteligente”, “Buscar no site inteiro”, “Jarte”. Resultado: nada. Rian de tout. Nothing. Niente. Neca. Néris de pitibiriba (essa só conhece quem já passou dos sessenta). Nem um único retorno...
Esquisito! Vamos então ao Google, pensei. Lá a coisa haverá de ser diferente e teremos milhões de retornos. Senão, vejamos: passemos para Google.com.br, marquemos “Pesquisar a web”, entremos com “Jarte” e vamos nessa. Resultado: 239 mil retornos. Só isso? Para um programa, esse número de retornos pode ser considerado desprezível (modestamente, “bpiropo.com.br” retorna mais que isso). Como pode?
É, parece que ninguém – ou, pelo menos, quase ninguém – conhece o bichinho. Então falemos um pouco dele, que vale a pena.
Como eu disse, Jarte é um editor de textos. E um editor de textos consiste, basicamente, de três “camadas” de rotinas e programação.
A “de baixo”, ou seja, a que se situa mais perto da máquina, consiste naquilo que se convencionou chamar de “mecanismo de edição de texto” (“word processing engine”). É a que exerce a força bruta, faz o trabalho braçal: receber do sistema operacional a codificação das teclas pressionadas, determinar se são caracteres ou sinais de controle, juntá-las para formar as palavras, “arrumá-las” formando parágrafos quando um código de nova linha/retorno de carro (CR/LF) é detectado, guardar tudo isso, ordenadamente, na memória primária, enfim, transformar nossos toques no teclado em um texto e cuidar para que ele seja arrumado direitinho na memória da máquina. Todo editor de textos é baseado em um mecanismo de edição de textos e todos eles são mais ou menos iguais – ou, pelo menos, muito semelhantes.
A camada “do meio”, aquela que se situa entre a interface com o usuário e o mecanismo de edição de textos, é a responsável pelas firulas e gracinhas que caracterizam este ou aquele editor de textos em particular. É a responsável pelo que os especialistas chamam de “editoração”, ou seja, a formatação “fina”, a distribuição do texto pelas páginas na posição exata e usando a fonte correta, a divisão em colunas quando for o caso, a inserção e formatação de figuras e tabelas e coisas que tais. Além, é claro, de recursos avançados, como correção ortográfica e gramatical, numeração automática de páginas, capítulos, seções, figuras, legendas e coisas que tais, criação automática e formatação de índices e sumários, formatação e numeração de notas de rodapé e citações. Além de mais umas tantas proezas que beiram a magia negra. Essa camada é a responsável pelo “poder” do processador de textos. É ela que mede, por exemplo, a distância em termos de capacidade de processamento entre um MSWord e um Bloco de Notas, para citar dois exemplos extremos.
Finalmente, há a camada “de cima”. O conjunto de rotinas de programação responsável pela interação entre o usuário e o programa. É mais conhecida como “interface com o usuário” e é apenas ela que o usuário “enxerga”. É através dela que o usuário se comunica com o programa, emite seus comandos, solicita tais e quais serviços, em suma, “dialoga” com o programa. Ela é a responsável pela “usabilidade” do programa. Por isso ela – e em menor medida, a intermediária – é que molda a opinião do usuário sobre o programa.

Pois é justamente ela que destaca o Jarte dos concorrentes, fazendo dele o editor de textos com interface mais criativa e original que conheço.
Mas isso não basta para torná-lo tão especial nem fazê-lo “beirar a genialidade”. O que faz com que ele seja tão diferente dos demais, além de outras peculiaridades, é o fato dele simplesmente não ter um mecanismo próprio de edição de textos.
E pode? Um editor de textos sem mecanismo próprio de edição de textos?
Pode. Desde que ele use o mecanismo de edição de textos de outro editor.
Pois é justamente isso que faz o Jarte. E não faz segredo, muito pelo contrário. Visite sua página, em < http://www.jarte.com/ > e veja, logo no topo: “Jarte: Unlock the hidden power behind Microsoft's WordPad” (“Jarte: libere a potência escondida por detrás do WordPad da Microsoft”).
Pois é isso. Você conhece o MS WordPad?

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Figura 1: WordPad 6.1

Aí está ele, na Figura 1. Ou pelo menos sua interface com o usuário, aquela correspondente à versão 6.1 incluída no Windows 7.
Isso mesmo, “incluída” no Windows 7. Há anos (mais especificamente, desde o lançamento de Windows 95) a MS decidiu incluir entre os acessórios de seu sistema operacional um editor de textos mais poderoso que o então solitário Bloco de Notas (“Notepad”, um editor elementar praticamente desprovido de recursos) e criou o WordPad. Ele não poderia ser poderoso demais, do contrário competiria com os produtos do pacote Office. Portanto, suas duas camadas “externas”, ou seja, a que contém os recursos avançados e a interface com o usuário, tinham que ser bem simples – como de fato são, e há quem ache que a MS exagerou e as tornou simples demais, quase franciscanas. Mas a camada interna, o mecanismo de edição de textos, está acima de qualquer suspeita. Não somente foi criada pela mesma empresa que desenvolveu o MS Word como também vem sendo testada há quinze anos e todos os eventuais defeitos já hão de ter sido eliminados.
Ora, se há um excelente mecanismo de edição de textos disponível em toda cópia de Windows, que peca exclusivamente pela carência de recursos e interface “queixo duro”, por que não aproveitá-lo, dotá-lo de mais alguns recursos e, sobretudo, de uma interface criativa e com elevado grau de usabilidade e distribui-lo gratuitamente para os usuários Windows?
Pois esta é a idéia por detrás do Jarte. Que, por isso mesmo, e gratuito.
Não chega a “beirar a genialidade”?

Pois aí está ele, na Figura 2.

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Figura 2: Jarte 3.4

Mas não é só isso que torna o Jarte especialmente interessante.
Ele tem mais uma característica, digamos, “diferente” (embora, bem sei, há outros programas que a compartilham): não exige “instalação”. Ou seja: se você quiser pode baixar da <http://www.jarte.com/download.html > página de transferência do programa (“download”) o módulo “Download Jarte 3.4 Installation File” com seus 2.84 MB de dados e instalá-lo na máquina como qualquer outro programa. Nesse caso ele criará os valores correspondentes no Registro, os ícones nos devidos locais e sua entrada no menu Iniciar. Mas se você preferir (e eu recomendo que você o faça, pelo menos para testar o programa) pode também baixar da mesma página o módulo “Download Jarte 3.4 Zip File” um pouco maior, com seus 3.63 MB, mas com a vantagem de que basta descompactar o conjunto de arquivos em uma única pasta (o que pode ser feito inclusive em uma unidade externa, como um “pen drive”, por exemplo), para que o programa se apresente inteiramente funcional sem alterar absolutamente coisa alguma na configuração de sua máquina. E, com todos os arquivos descompactados e todas as suas funcionalidades ativas, o programa ocupará menos de 10 MB (atenção: Mega, não GigaBytes; sempre é bom ressaltar isso em tempos em que qualquer programeto besta ocupa meia dúzia de GigaBytes). No máximo, para facilitar o acesso, você pode arrastar o ícone de seu programa executável para sua Área de Trabalho e criar um atalho.
Esclarecendo bem: se você tiver feito isso e mais tarde resolver remover o Jarte de sua máquina, basta excluir a pasta ou remover o “pen drive” – e excluir o atalho, naturalmente. E se quiser usá-lo em qualquer outra máquina, basta “espetar” nela o “pen drive”, navegar até a pasta onde os arquivos foram descomprimidos e clicar no ícone do arquivo executável do Jarte. Para que funcione, basta que a máquina esteja rodando Windows e tenha instalada uma cópia do WordPad. Se você fizer isso e se habituar a gravar os arquivos na própria pasta do Jarte (o que o programa faz por padrão), poderá carregar consigo, ocupando menos de dez MB de seu “pen drive”, um editor de textos absolutamente funcional, de interface agradabilíssima, e todos os arquivos nele criados. E usá-lo em qualquer local onde tenha acesso a um micro rodando Windows.

Mas o que tem a interface de Jarte que o torna tão diferente?
Bem, eu não vou lhe roubar o prazer de descobrir por si mesmo. Afinal, baixar e descompactar o bichinho é tão simples que presumo que a maioria de vocês gostará de experimentá-lo. Por isso vou apenas mencionar os pontos mais importantes.
Para começar, diferentemente do WordPad, o Jarte incorpora um mecanismo (“engine”) de correção ortográfica e traz dicionários que permitem verificar a ortografia de textos em inglês (americano, britânico e canadense) e em mais cinco idiomas que, infelizmente, não incluem o português (são o francês, alemão, italiano, espanhol e holandês). Mas, segundo as < http://www.jarte.com/help_new/frequently_asked_questions.html > respostas a perguntas frequentes sobre o Jarte, é possível agregar dicionários que permitem corrigir textos em outras linguagens, e alguns deles podem ser encontrados na Internet (embora eu não tenha achado nenhum para português, mas isso pode ser debitado na conta de minha própria incompetência).
Além disso, Jarte traz um recurso que não se encontra, por exemplo, no Word, e que faz uma falta dos diabos: trabalha com “abas” (ou “guias”, como prefere a MS). Veja, na Figura 3, o Jarte trabalhando com três documentos abertos ao mesmo tempo, cada um em sua aba.

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Figura 3: Jarte com três abas abertas

Mas o que tem a interface do Jarte que a torna tão interessante em termos de usabilidade? Bem, para começar ela dispensa uma enorme quantidade de cliques, já que grande parte de suas ações dependem apenas de mover o ponteiro do mause para determinadas áreas da tela – coisa que logo você descobrirá por si mesmo. O que facilita um bocado o uso do programa. Na verdade, entre suas configurações, ele oferece diversos graus de “Operações sem clicar” (“Clickless operation”) que permitem, à escolha do freguês, fazer quase tudo sem executar um único clique, bastando apenas mover o cursor até o local desejado e esperar um pouco – sendo este “pouco” um intervalo de tempo configurável. Eu não disse que a interface era criativa?
Pois além de criativa é simples, limpa, elegante e, não obstante, flexível: como você pode notar no menu suspenso exibido na Figura 2, sua interface pode ser exibida em três diferentes configurações. A que aparece na figura é a Clássica. Além dela há a “Mínima”, bastante ascética e parecida com a do WordPad de Windows XP que vem sem a “Faixa de opções”, e a “Compacta”, que apresenta um aspecto intermediário. Qualquer uma delas pode mostrar as diversas barras de ferramenta que aparecem listadas, além do clássico menu dos programas Windows, que a meu ver é totalmente desnecessário (mas quem gosta dele, pode mantê-lo aberto).
Além disso o programa tem sacadas interessantíssimas. Repare no ícone semelhante ao da “Lixeira” de Windows que aparece assinalado no Painel de Ferramentas “arquivo” na Figura 2 (painel que, se você preferir, pode fazer desaparecer com um simples acionar da tecla de função F11 e somente surgirá novamente quando o mause passar sobre um dos botões azuis acima dele). Um clique nele abre um menu que permite fechar o arquivo da aba ativa, fechar todos os arquivos abertos e, oh sacada fenomenal (do tipo “Deus meu, como não pensaram nisso antes?”) fechar e remover (“Close and Delete”) o arquivo no qual se está trabalhando. De repente desistiu não apenas de editar o arquivo, mas quer se ver livre dele para sempre? Basta acionar aquela opção que a aba se fecha e o arquivo é silenciosamente removido do disco rígido. Tão simples, tão útil e tão raro...
Formatos, o Jarte aceita três sem chiar: o RTF (Rich Text Format), aceito por praticamente todo programa Windows, o Doc nativo do Office 2003 (arquivos no formato Docx, do Office 2007, são abertos mas podem perder alguma formatação) e, naturalmente, o TXT (texto puro). Mas se você quiser abrir no Jarte um arquivo texto em formato diferente, basta abri-lo no programa original e salvá-lo novamente no formato RTF (praticamente todo editor de textos que roda em Windows faz isso) ou recorrer ao < http://media-convert.com/conversor/ > Media-Convert, um conversor gratuito, também em português, que converte praticamente qualquer formato de arquivo (inclusive multimídia) em praticamente qualquer outro e cuja citação, para quem não o conhecia, já vale o sacrifício de ter lido esta coluna.
Incidentalmente: além de gravar arquivos nos três formatos acima, o Jarte também é capaz de exportá-los no formato PDF (basta clicar no disquete vermelho “Save As” que aparece no painel de ferramentas da Figura 2 e escolher a devida opção).
O resto é o de sempre: funções de formatação de fontes e parágrafos, um botão de inserir que permite enfiar quase tudo em seu documento (figuras, equações e mais um mundo de “objetos” que vale a pena investigar), funções de busca e substituição de texto, dezenas de itens de configuração (que permitem inclusive mudar a cor do fundo) e um ícone que permite fazer pesquisas no Google, na Wikipedia e mais em que sítios de pesquisa você escolher, tudo isso diretamente de dentro do Jarte.
Mas que, como prometi, não irei lhe roubar o prazer de descobrir sozinho.
Incidentalmente: como dito, o Jarte é gratuito. Mas existe uma versão mais avançada, o “Jarte Plus”, que é paga. Em geral, quando isso ocorre, o custo – e a diferença entre funcionalidades oferecidas por ambas as versões – costuma ser grande. Pois o Jarte é modesto até nisto. Sua versão Pro oferece recursos adicionais como numeração de página em algarismos romanos, possibilidade de criar seus próprios botões nas barras de ferramentas, autocorreção e mais meia dúzia de pequenos confortos. E tudo isso por menos de vinte dólares americanos. Que, com a cotação do dólar atual, convenhamos: é uma merreca.
Pois é isso. Corra, baixe o Jarte e experimente. Usando-o ou não, garanto que você passará alguns momentos bastante agradáveis descobrindo seus recursos.
Bom proveito.

 

B. Piropo