Chegamos, afinal, ao ponto que nos interessa e que deu origem a toda esta longa série de colunas: a mudança (radical, diga-se de passagem) na estrutura de marcas de processadores Intel. Mudança anunciada em junho passado, no Intel Editor´s Day de 2009 realizado em Maceió através de um comunicado à imprensa que começava nos seguintes termos:
“A Intel anuncia modificações na família de processadores Intel® Core™, com a criação das bandeiras Intel Core i5 e Intel Core i3. Elas se juntam à marca Intel Core i7 e fazem referência a um conjunto de configurações e níveis de desempenho do processador”.
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Figura 1: A nova estratégia de Marquetingue da Intel. |
Destrinchemos. No final de 2008 a Intel lançou um novo processador para micros de mesa, o primeiro a aderir à arquitetura Nehalem que, agora, conhecemos bem. Batizou-o de Core i7. Com quatro núcleos, foi o primeiro processador da Intel a abandonar o barramento frontal e usar conexão direta com a memória através da tecnologia QPI (Quick Path Interconnect). Foi também o primeiro a usar um encaixe de 1366 contatos tipo LGA (onde, em vez de pinos, os contatos são formados por pontos na base do processador que encostam em saliências no interior do soquete). Fornecido inicialmente em dois modelos (Core i7-920 de 2,66 GHz e Core i7-940 de 2,93 GHz; alguns meses mais tarde foram lançados os modelos Core i7-950 de 3,06 GHz e Core i7-960 de 3,2 GHz), dissipava 130 W de potência. Na mesma data a Intel lançava o Core i7 Extreme (inicialmente em um único modelo, o 965 operando em 3,20 GHz, seguido alguns meses depois pelo Core i7 Extreme-975 de 3,33 GHz), o que havia de mais rápido na época. Aquela foi a primeira vez que a Intel usou o nome (ou “bandeira”, como ela se refere) Core i7 e o fez sem maiores explicações. Pois bem: no comunicado distribuído no Editor´s Day 2009 ela anunciou não apenas que ao Core i7 juntar-se-iam seus “irmãos” Core i5 e Core i3 como também que estas designações se referem “a um conjunto de configurações e níveis de desempenho” dos processadores – o que, como logo veremos, se reflete diretamente no segmento de mercado a que eles se destinam.
Por que a mudança? Diz a Intel que ela é “Parte de uma estratégia global ... que destaca a promoção da marca Intel e não um processador”. Traduzindo: a Intel decidiu que doravante (me amarro nesta palavra...) os nomes de seus produtos deverão dar mais ênfase ao fato de serem fabricados pela Intel que às próprias características do produto. O que leva imediatamente à pergunta: será, então, que teremos produtos diferentes com o mesmo nome? (adiantando a resposta: sim, teremos; e logo veremos como será possível distingui-los).
Vejamos o que mais disse a Intel em seu comunicado:
“A família de processadores Intel Core representa o mais alto desempenho e última tecnologia para negócios e consumidores. Com a nova família, haverá três níveis de processadores. A diferença entre esses níveis serão as configurações, tais como Turbo, cache, etc. O processador Intel Core i7 sempre terá a maior configuração e o processador Intel Core i3, a menor. Ambos, no entanto, serão baseados na mais nova e melhor tecnologia Intel”.
Traduzindo para os mortais comuns: disse a Intel que toda a família Core, a partir de agora (bem que eu queria usar “doravante” de novo, mas não é de bom tom repetir palavras...) e pelo menos por enquanto será baseada em uma das muitas revisões já existentes da arquitetura Nehalem, que de fato, hoje, representa o estado da arte. Mas disse bem mais que isso. Disse também que as diferenças entre os produtos Core iX estarão em alguns fatores de suas configurações que afetam diretamente o desempenho. E que os produtos de maior desempenho serão sempre batizados de i7 e os de menor de i3. Esta frase, como logo veremos, não somente é a chave para entender a mudança como também reitera, á sua moda, que teremos produtos diferentes (porém aproximadamente de mesmo desempenho) adotando o mesmo nome (desculpe a insistência, mas acho conveniente frisar isso porque quem não entender este detalhe ficará para sempre perdido no labirinto da nova nomenclatura Intel).
E o que mais revelou a Intel em seu comunicado sobre a estrutura de marcas? Bem, que afinal decidiu se livrar do conceito de “plataformas”, que de resto jamais foi bem aceito pelo mercado. Sem mencionar a falecida ViiV, que partiu em boa hora, disse ela:
“A Intel também modificará as marcas das plataformas vPro e Centrino ... A Tecnologia Intel vPro continuará a representar o melhor em termos de segurança e gerenciamento remoto. Entretanto, elas serão incorporadas à marca Intel Core estarão presentes nos processadores Intel vPro Core i5 ou Intel vPro Core i7 ... Já a marca Centrino, que se tornou sinônimo de tecnologia sem fio, passará a ser a denominação dos quatro produtos Wi-Fi e WiMAX que serão lançados em 2010. Desta forma, Intel Core será a marca do melhor processador e Centrino representará o melhor da Intel para os produtos Wi-Fi e WiMAX”.
O que quer dizer isso? Que os termos vPro e Centrino não mais se referirão a “plataformas” mas passarão a indicar o uso de uma tecnologia.
No caso do vPro, por exemplo: um Core i5 que não use a tecnologia vPro será conhecido por Core i5-XXX (onde XXX serão algarismos que indicarão o modelo, podendo ou não serem seguidos ou precedidos de certas letras; ficou confuso? Não se preocupe, você certamente ficará ainda mais confuso adiante, mas persevere que, prometo, no final far-se-á a luz). Mas se um processador com aproximadamente o mesmo desempenho adotar a tecnologia vPro, então seu nome será vPro Core i5-XXX.
Já Centrino será diferente. A partir de 2010 e durante algum tempo, ele será usado como marca mesmo. Portanto, pelo menos em princípio, jamais haverá um “Intel Core iX Centrino”. Mas haverá, pelo menos por certo tempo (pois, em princípio, a Intel parece pretender arquivar o nome Centrino) um processador Intel Centrino-XXX e até mesmo um Intel vPro Centrino-XXX (caso o produto venha a adotar ambas as tecnologias). Mas atenção: os processadores de marca Centrino deverão ser lançados ano que vem. Os que estão atualmente no mercado ainda adotam o conceito de plataforma.
Mas por que tudo isso? Bem, ainda segundo o comunicado à imprensa, “As mudanças foram feitas para que nossa estrutura de marca seja mais racional e fácil de entender. Nós tínhamos uma estrutura complexa e com múltiplos produtos, gerando confusão para os clientes e consumidores de tecnologia por conta do excesso de nomes de produto, de plataformas e marcas, afirmou Elber Mazaro, diretor de marketing da Intel Brasil”.
Bem, o Elber, que já não mais é diretor de marketing da Intel Brasil, já que foi promovido a função similar, mas abrangendo toda América Latina, é um profissional sério e não é dado a ironias. Portanto, a Intel acha mesmo que a nova estrutura de marcas é “mais racional e mais fácil de entender”. Talvez seja mesmo e nossa dificuldade atual para interpretá-la deva-se ao fato de vivermos um período de transição onde convivem as duas estruturas. Então vamos ver se ao longo do tempo as coisas ficarão mesmo mais claras.
Na verdade, para quem teve a paciência de acompanhar esta série desde o início, pouco a pouco fica mais fácil decifrar os desígnios da Intel. Por exemplo, lá pelo meio do comunicado aparece a frase: “De acordo com Mazaro, os processadores Intel serão nomeados de acordo com seu nível versus a plataforma.”
Mas que diabos quis a Intel – ou o Mazaro – dizer com isto? O que viria a significar “de acordo com seu nível versus a plataforma”?
Quer ver como com um pouco de boa vontade fica fácil de entender? Vamos lá. Até o momento estamos acostumados a que um nome, ou “bandeira”, designe um determinado processador Intel que pode oferecer diferentes modelos, dependendo do desempenho melhor ou pior (principalmente devido à variação da frequência de operação) mas cujas características funcionais são praticamente as mesmas. Simplificando: até agora o nome refletia as características funcionais do processador.
Mas isto mudou. De acordo com a nova estratégia mercadológica da Intel, a partir de agora o nome, ou “bandeira” (Core i7, Core i5 e Core i3) refletirá melhor o segmento de mercado que o processador deverá atender do que suas características funcionais.
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Figura 2: A família Intel Core |
Vamos tentar explicar. Ao que parece, fora do mundo corporativo (atendido pelo nome Xeon, aplicado aos processadores destinados a equipar as máquinas que ela chama de servidores, ou “servers”), a Intel subdividiu o mercado em quatro segmentos, diferenciados fundamentalmente pelo desempenho – que, naturalmente, se reflete diretamente no preço dos produtos. Estes segmentos, ou categorias, são: “Extreme” (para máquinas de altíssimo desempenho, voltadas para jogos e coisas que tais, com custo unitário do processador girando em torno ou acima de mil dólares americanos); “Performance” (para máquinas de alto desempenho, custo unitário na faixa de 300 a 600 dólares americanos); “Mainstream” (para máquinas a serem usadas pelos mortais comuns, que podem pagar algo na faixa de 200 a 300 dólares americanos por seu microprocessador) e “Value” (para máquinas de baixo desempenho com custo unitário inferior a 200 dólares americanos).
[Em tempo: não se dê ao trabalho de procurar no mercado de varejo processadores da Intel nestas faixas de preços. Estes são os preços anunciados pela Intel para serem praticados nas vendas por atacado, diretamente aos fabricantes de processadores, e correspondem a custos unitários em lotes de mil unidades.]
Dentro desta ordem de ideias o mesmo nome poderá ser usado para designar processadores bastante diferentes, baseados em distintas revisões ou arquiteturas, mas geralmente atendendo ao mesmo segmento do mercado. E processadores de mesmo nome (mas, evidentemente, de modelos diferentes), embora destinados ao mesmo segmento de mercado, poderão divergir bastante entre si dependendo do tipo de máquina que equiparão (digamos: micros de mesa ou portáteis).
Por exemplo: haverá pelo menos três diferentes Core i5, todos atendendo o segmento de mercado “Mainstream”: dois para micros de mesa, (um de quatro núcleos baseado na revisão Lynnfield de 45 nm e um de dois baseado na revisão Clarkdale de 32 nm, este último com coprocessador gráfico – UGP ou GPU – integrado) e um para portáteis (de dois núcleos baseado na revisão Arrandale de 32 nm).
Como distingui-los se todos serão Core i5? Ora, pelos modelos (algarismos e letras que sucedem o nome do processador). O primeiro (Lynnfield) terá dois modelos, o Core i5-750s de 2,4 GHz e o Core i5-750, de 2,66. O segundo (Clarkdale) terá quatro: Core i5-650 de 3,2 GHz, Core i5-660/Core i5-661 de 3,33GHz e Core i5-670 de 2,46 GHz.
Complicado? Também acho, mas minha função aqui é apenas explicar, não justificar. E prepare-se, porque vai complicar ainda mais. Quer ver?
Da mesma forma que o mesmo nome pode ser usado para designar diferentes processadores, nomes diferentes podem ser usados para designar modelos semelhantes de processadores que adotam a mesma revisão de uma mesma arquitetura (que até recentemente eram distinguidos pelo modelo, mas sempre usando o mesmo nome), desde que atendam diferentes segmentos de mercado.
Por exemplo: para micros de mesa haverá um Core i5, mais barato, destinado a atender o segmento de mercado “Mainstream”, e um Core i7, mais caro, voltado para o segmento “Performance”, porém ambos serão baseados na revisão Lynnfield da arquitetura Nehalem e ambos comportarão quatro núcleos, sobre soquete LGA 1156 e com dois canais de memória DDR3 de 1333MHz. A diferença entre eles? Além de operar em frequências maiores, o último (fabricado em três modelos, Core i7-860s de 2,53 GHz, Core i7-860 de 2,8 GHz e Core i7-870 de 2,93 GHz), tirará proveito da tecnologia SMT (Simultaneous MultiThreading, que a Intel batizou de HyperThreading ou HT) o que permitirá que cada um de seus quatro núcleos execute semi-independentemente rotinas diferentes em suas duas linhas de montagem, enquanto o Core i5 (nos modelos Core i5-750s de 2,4 GHz e Core i5-750 de 2,66GHz) não será HT e por isso custará menos.
Ou seja: pelo o que eu pude entender até agora, depois de me embrenhar tão fundo quanto consegui no cipoal de nomes, bandeiras, extensões, arquiteturas e modelos dos microprocessadores da Intel, a orientação geral é a seguinte: o nome (ou “bandeira”) Core i7 Extreme será atribuído ao “crème de la crème” dos processadores, os voltados para a categoria “Extreme”. Já o nome Core i7 está destinado aos processadores que atenderão ao segmento ou categoria “Performance”, enquanto o Core i5 fica com o segmento “Mainstream” e o Core i3 (por enquanto acompanhado dos últimos exemplares da “bandeira” Pentium) com o segmento “Value”. A Intel não menciona oficialmente a bandeira Core i9, mas talvez ela venha a ser lançada futuramente para designar processadores de alto desempenho. O que não se sabe é se ela simplesmente substituirá a Core i7 Extreme ou conviverá com ela.
Note que até agora não se falou na diferença de nomes entre os processadores para micros de mesa e portáteis. Nem se falará, já que os nomes serão os mesmos. Como as bandeiras Core i3; i5 e i7 se referirão a segmentos de mercado e tanto o mercado de portáteis quando o de micros de mesa (“desktops”) partilham dos mesmos segmentos, a “bandeira” Core i5, por exemplo, será usada tanto para processadores destinados a equipar micros de mesa quanto portáteis – que também neste caso serão distinguidos pelos modelos. Por exemplo: os Core i5-6XX citados alguns parágrafos acima (modelos 650; 660; 661 e 670) serão destinados a micros de mesa, enquanto os Core i5-5xxM (modelos 520M e 540M) serão destinados a micros portáteis. Notou o misericordioso uso da letra “M” para designar “Mobile”? Então, todo processador Core cujo número do modelo for seguido pela letra M (eventualmente precedida por outra, como já veremos) se destina a computadores portáteis. Quer dizer: pelo menos por aqui há alguma lógica.
Mas não é só isso. Além do “M”, a Intel usa mais algumas letras, estas para designar níveis de consumo de energia. O problema é que, segundo eu pude observar, estas últimas mudam conforme a subvariante ou revisão.
Por exemplo: os futuros membros da revisão Arrandale, todos destinados a micros portáteis (Core i5 série 5XX e Core i7 série 6XX) poderão ter seu “M” precedido (ou não) pelas letras “L” ou “U” para designar “Low Voltage” e “Ultra Low Voltage”, respectivamente, indicando que conseguem minimizar a dissipação de potência através da redução da tensão de alimentação (que quem não é do ramo chama de “voltagem”). Então, baseados apenas no que sabemos até agora, podemos inferir que um Core i7-640UM (que dissipa apenas 18W) é um processador destinado a atender ao segmento “Performance” (i7) do mercado de computadores móveis (M) alimentado com tensão ultrabaixa (U), enquanto o Core i7-640LM (que dissipa uma potência um pouco maior, 25W) também visa o mesmo segmento de mercado (i7) de micros móveis (M), mas usa tensão de alimentação baixa (L de Low). Já o Core i7-640M (que dissipa 35 W) atende ao mesmo segmento do mesmo tipo de micro, mas é alimentado com tensão normal e por isso não mereceu nem o “U” nem o “L”.
Já os processadores baseados na revisão Clarksfield, também para portáteis, porém fabricados com a tecnologia de 45 nm, também usarão letras para indicar escalas no consumo de energia (ou dissipação de potência), porém as letras serão o “X” e “Q”, em ordem descendente. Portanto poderemos saber de antemão que um Core i7 Extreme-920XM (55W) dissipa mais calor que um Core i7-720QM (45W).
Os processadores destinados a servidores (que usam o nome Xeon, baseados na revisão Bloomfield) também usarão letras agregadas ao número do modelo para denotar seu consumo de potência. Mas neste caso as letras serão usadas como prefixo, ou seja, antes do número, e não depois. E também serão diferentes, a saber, em ordem decrescente de consumo: “W”, “X”, “E” e “L”. E, evidentemente, não serão acompanhadas do “M”. Só para ilustrar: um Xeon-W3520 (130W) estará entre os o campeões de dissipação de potência, seguido por um Xeon-X5550 com seus 95W, pelo Xeon-E5502 (80W) e finalmente pelo Xeon-L5506, o paladino da economia de energia com seu consumo de apenas 60W (o que, para um servidor, é realmente espantoso).
[Uma advertência: estes dois parágrafos sobre o acréscimo de letras aos números dos modelos para denotar a dissipação de potência são fruto apenas de minha observação pessoal das designações dos diversos modelos de processadores a serem lançados brevemente pela Intel, portanto eu posso estar enganado; mas que há alguma relação entre as letras e o consumo não resta a menor dúvida].
Será que já estamos prontos para analisar o panorama atual e futuro da distribuição dos nomes de processadores Intel?
Quase. Só falta um ponto que, depois de ler os comentários dacoluna anterior, me parece imprescindível esclarecer: o assunto dos soquetes.
Pelo qual começarei a próxima (e, se Deus quiser, a última desta série que, por sinal, já se alongou demasiado). Mas apenas adianto que, ao contrário do que alguns leitores parecem pensar, o número de contatos entre um processador e seu soquete não é uma questão de “política da Intel”, mas um problema essencialmente técnico.
B.
Piropo