< Coluna em Fórum PCs >
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06/07/2009
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< Nova Estrutura da Marca Intel I: Arquitetura e Plataforma > |
Um processador Intel Core 2 Duo tem dois núcleos porque é um “Intel 2” ou porque é um “Intel Duo”? Existem processadores Centrino? E os Pentium e Celeron, ainda os há? VPro é um tipo de processador? E o que são esses nomes misteriosos como Nehalem, Penryn, Netburst, Bloomfield, Arrandale e Wolfdale que volta e meia são atribuídos aos processadores da Intel? Vamos por partes. Um processador Intel Core 2 Duo tem dois núcleos porque é “Duo”. O numeral 2 nada tem a ver com o número de núcleos, significa apenas que aquela foi a segunda geração da arquitetura Core. Centrino é a marca de uma plataforma, não de um processador. Portanto não existem processadores Centrino (mas breve existirão e logo você saberá porque). Pentium e Celeron são processadores e ainda existem, sim, se bem que hoje sejam bastante diferentes daquilo que chamávamos de Pentium e Celeron há um par de anos. VPro não é um tipo de processador. Como Centrino, VPro é uma marca que designa uma plataforma (calma que logo veremos o que vem a ser isso). Finalmente: Nehalem, Penryn, Netburst, Bloomfield, Arrandale e Wolfdale são aquilo que se chama de “codinome” ou nome de código, usados pela Intel para designar produtos ainda na fase de desenvolvimento, antes de serem lançados no mercado. Os três primeiros referem-se a arquiteturas, os três últimos a modelos de processadores. Depois, quando desenvolvidos, testados, fabricados em escala e lançados no mercado, perdem os nomes de código e recebem nomes comerciais. Wolfdale, por exemplo, agora é conhecido como “Core 2 Duo” enquanto Bloomfield é o “Core i7” recém lançado pela Intel – que, por sinal, é o primeiro representante da arquitetura Nehalem a ser comercializado. Mas como todos os nomes de código são denominações eminentemente provisórias, não vale muito a pena perder tempo com eles. Se você já sabia a resposta a todas essas perguntas, parabéns. Talvez você não seja um especialista, mas conhece um bocado sobre a linha de processadores da Intel. Por outro lado, se achou tudo isso um tanto complicado, não se admire. Eu também achei. Na verdade, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso também acha. Inclusive, naturalmente, o pessoal da área de marquetingue da Intel. Que, afinal, se deu conta que aprontou uma cangancha medonha quando, há um par de anos, resolveu alterar sua política de marcas. Uma decisão que gerou tal confusão entre os técnicos e o mercado em geral que ela própria resolveu dar um “freio de arrumação” e botar um mínimo de ordem no caos. O resultado foi a concepção de uma estrutura de marcas totalmente nova que começou agora a ser divulgada e, dentro de algum tempo, tornar-se-á algo novamente inteligível. Estrutura cujo ponto focal é a marca “Core” e escalona os modelos nas famílias i3, i5 e i7 (por enquanto; talvez a i9 esteja à caminho, mas isso ainda está no nível de boatos). Mas durante algum tempo, pelo menos enquanto alguns processadores com os nomes antigos não saírem de linha, ambas as estruturas deverão coexistir. Ou seja: estamos no início de um período de transição no qual a nomenclatura irá pouco a pouco se adaptando à nova estrutura. Esta coluna tem por objetivo – se é que este objetivo é alcançável – explicar tudo isso e tentar, literalmente, “dar nomes aos bois”. Além de fazer uma brava tentativa de destrinchar um sistema de classificação baseado em “estrelas” que a Intel pretende implantar para tornar a travessia do período de transição mais palatável a seus clientes. Classificação por estrelas esta que somente se tornará clara à luz dos novos nomes e marcas. Então, melhor começar pelo começo, como convém, explicando o significado de dois termos chaves para que possamos nos orientar neste cipoal de nomes: “arquitetura” e “plataforma”.
A explicação mais didática que conheço do que vem a ser a “arquitetura” de um microprocessador foi a que ouvi de Antonio Rivera, engenheiro de aplicações da Intel. Vou tentar reproduzi-la aqui para vocês com minhas próprias palavras e ver se consigo destrinchar a coisa. Imagine que um processador possa ser representado por uma fábrica. Uma indústria que recebe na entrada dados brutos e entrega, na saída, dados processados. Como na fábrica, no processador as ações se desenvolvem em uma “linha de montagem” (chamada “pipeline”). Na fábrica, esta linha de montagem é formada por uma sucessão de máquinas e operários postados ao longo de pórticos móveis e esteiras rolantes que realizam as operações de fabricação do produto enquanto o transportam ao longo da edificação. Estas operações são agrupadas por estágios de fabricação: montagem, alinhamento, regulagem, acabamento, pintura e coisa e tal. No processador, também. Só que, neste caso, os estágios formam os conjuntos conhecidos por unidade de entrada e saída, registradores, unidade de controle e unidade aritmética e lógica. E, para completar a analogia, as máquinas e operários seriam os diversos circuitos que compõem estas unidades e ao longo dos quais os elétrons se movem desde a unidade de entrada até a unidade de saída do processador. Fábricas evoluem. Processadores também. Se, na unidade fabril, para aprimorar o processo de fabricação, uma ou outra maquina da linha de montagem for substituída por um modelo mais novo, melhor ou mais rápido, se um pequeno desvio for introduzido aqui ou ali para otimizar certas operações, a fábrica muda, mas sua “arquitetura” permanece essencialmente a mesma. Porém, se a evolução foi de tal ordem que implicou alterações mais profundas, acréscimo de novas maquinas que desempenham novas ações, alterações na linha de montagem que exijam desvios importantes no fluxo da fabricação, então houve uma mudança na arquitetura da fábrica. Nos processadores o fenômeno é semelhante. Se, de um modelo para outro, houve melhorias que se limitaram a acelerar a frequência de operação, aprimorar uma ou outra função já existente na “pipeline” ou otimizar procedimentos, muda o modelo mas não a arquitetura. Mas se a mudança implicar alterações importantes, como a duplicação do número de linhas de montagens (ou “pipelines”), como ocorreu na transição do i486 para o Pentium, ou na possibilidade de adição de um ou mais núcleos no mesmo circuito integrado como na mudança do Pentium para o Core, então muda a arquitetura. Explicado (assim espero) o conceito de “arquitetura”, vamos ao de “plataforma”. Que vem a ser um conceito mais amplo, pois enquanto o de “arquitetura” tem a ver exclusivamente com o processador, o de “plataforma” engloba o processador e alguns de seus periféricos, particularmente aqueles conjuntos de circuitos auxiliares que costumamos chamar de “chipset” e que geralmente se situam fora do encapsulamento do microprocessador. Por exemplo: o que a Intel chama hoje de Centrino não tem a ver especificamente com nenhum processador. Centrino é um conjunto de componentes (circuitos integrados) que por acaso inclui um processador (cujo modelo pode variar) destinado a compor o “coração” de um dispositivo móvel conectável sem o uso de fios. Este conjunto, além do processador, inclui os circuitos destinados a controlar a conectividade (qualquer que seja o padrão, incluindo WiFi, WiMax, Bluetooth ou qualquer outro), otimização do consumo de energia e mais tudo aquilo que for necessário para que o dispositivo funcione e se conecte a outro sem o uso de fios. Se seu computador adota a plataforma Centrino, então fique certo que dentro dele há o melhor da tecnologia desenvolvida pela Intel para conexão sem fio com outras máquinas. Esses componentes, em conjunto, formam a “plataforma” Centrino. Já VPro é outro tipo de plataforma. Que também inclui o processador (mais de um modelo) e os circuitos auxiliares, porém destinados a equipar computadores corporativos ligados em rede (com ou sem fio) que podem ser gerenciados remotamente. A plataforma VPro inclui, entre outras coisas, um primoroso conjunto de circuitos que permite que um micro conectado a uma rede corporativa, mesmo desligado, tenha, por exemplo, o sistema operacional substituído durante a noite por um administrador a partir de um segundo computador situado em outro estado ou país. VPro, portanto, (por enquanto) é uma plataforma destinada a computadores ligados a redes corporativas. Estranhou o “por enquanto”? Então explico. Um dos fatores – mas não o único – que levou a Intel a tomar a decisão de alterar sua estrutura de marcas foi justamente o fato do conceito de “plataforma” jamais ter sido absorvido pelo mercado. Havia quem o entendesse, é claro. Mas a maioria dos clientes ficavam confusos quando descobriam, por exemplo, que Centrino não era um processador. Então, o que era? “Uma plataforma”, explicava o pessoal da Intel. Mas que diabos exatamente seria isso? E então lá vinha uma longa explicação que, fora os especialistas, ninguém conseguia entender direito – embora a maioria fingisse um ar inteligente balançando a cabeça afirmativa e educadamente enquanto a ouvia. Resultado: a Intel decidiu acabar com o conceito de plataforma. Ocorre que não seria inteligente abandonar os nomes (marcas) “Centrino” e “VPro”, nos quais a empresa já investiu muito esforço e dinheiro para torná-los conhecidos e respeitados – o que não ocorreu com ao marca ViiV (lembra dela?), também uma plataforma destinada a micros otimizados para entretenimento doméstico, que não “vingou” e a Intel quer mais é esquecer-se dela. Por isso, enquanto o nome ViiV caminha para o limbo do esquecimento (se é que já não chegou lá), VPro e Centrino vão continuar vivos. E como não haverá mais plataformas, serão usados para designar processadores. O último para designar alguns modelos que incorporam as funções exigidas para funcionarem naquilo que hoje é a “plataforma” VPro (por exemplo: breve serão lançados os Core i5 VPro e Core i7 VPro). E o primeiro para batizar modelos de processadores otimizados para uso em dispositivos que se conectam sem o uso de fios. Por isso, afinal, os clientes da Intel poderão ter seus processadores Centrino (eu não disse lá em cima que em breve “Centrino” seria um processador?). Achou complicado? Eu também. Mas a culpa não é minha, é da Intel, que aprontou a confusão. Porém (pelo menos assim espero) tudo ficará mais claro adiante. E se você acha que a coisa está se complicando ao invés de simplificar, provavelmente tem razão. Mas o lado bom é que agora pelo menos a Intel está tentando pôr as coisas em ordem. Com um pouco de paciência logo veremos que aos poucos a luz se fará para espancar as trevas de nossa ignorância comum (pois eu me incluo entre as inocentes vítimas de toda essa confusão). Calma que falta pouco... Então vamos adiante. Volta e meia, quando alguém recorre a um acontecimento passado para tentar elucidar fatos ocorridos no presente, escuto pessoas proferirem com ar de seriedade aquilo que presumem ser um ditado popular cheio de sabedoria que afirma que: “quem gosta de passado é museu”. Se algum dia você ouvi-lo, afaste-se até uma distância prudente de quem proferiu semelhante estultice, pois estupidez concentrada até este grau pode ser contagiosa. Tenha em mente que o presumido “ditado popular” não passa de uma canhestra tentativa de justificar a ignorância de quem o usa, posto que o conhecimento do passado é absolutamente indispensável para quem se propõe a interpretar corretamente o presente e tentar fazer previsões sensatas para o futuro. Isto posto, vamos revisar muito superficialmente a evolução dos nomes usados pela Intel para seus processadores ao longo do tempo para, baseados nesse conhecimento, tentar entender a estrutura de marcas que ela criou agora e, sobretudo, os rumos que ela traçou para o futuro próximo. Começando na próxima coluna, naturalmente. B. Piropo |